POV: (S/N)
Uma sensação ruim me incomodava desde a noite do casamento da Kayra com o Sidon. Uma fisgada no estômago ou um calafrio na coluna, eram sinais que eu reconhecia como anunciadores de desastres. Contudo, tirando eu e o Link, ninguém mais parecia partilhar de nossa paranoia.
— Link, precisamos conversar. — A voz rouca e cansada da princesa Zelda agravou os meus sintomas.
O Link a observou por um instante e depois de me dar um beijo no topo da cabeça seguiu a Zelda até a Sala do Trono do rei Dorephan.
— O que está acontecendo com vocês? — Ciaran sussurrou ao pé do meu ouvido, e pude sentir minha alma abandonando meu corpo.
— Não faça isso! — Reclamei. — Eu poderia morrer por muito menos!
O olhar de escárnio que ele me direcionou enquanto tomava o lugar do Link dizia que ele não acreditava nisso nem por um segundo.
— Sério, (s/n). Você e o Link estão com cara de enterro desde o casamento. Se agarrando um ao outro como se soubessem que não teriam a eternidade juntos. — Ele parou de falar quando percebeu que eu chorava. — O que aconteceu?! — Ele vasculhou o ambiente esperando achar alguém ali, e quando não encontrou, ele mesmo me puxou para o seu peito e fez carinho nas minhas costas. — Não precisa me contar se isso for fazê-la se desmanchar em lágrimas.
— Eu sinto... — Comecei, minha voz abafada pela proximidade de nossos corpos. Ele me soltou levemente, apenas o suficiente para que eu falasse. — Sombras, sofrimento, desespero, raiva, medo.
— E de quem são esses sentimentos?
— Não sei.
— Tudo bem. Vai com calma. — Ele completou. — O Link sente o mesmo?
— Sim. Mas no caso dele... A energia é parecida com algo que ele sentiu anteriormente.
— Que seria?
— Ganon.
— Impossível.
— Não exatamente. Esse demônio teima em renascer, ele nunca descansará até eliminar todas as princesas com sangue divino e os heróis escolhidos pela espada.
— Não diga isso.
— Nós achamos que talvez sua existência não tenha sumido completamente durante a batalha no Castelo. Um fragmento deve ter sobrevivido.
— O desespero está nublando o seu raciocínio (s/n). Respira fundo.
E eu respirei. Três vezes não foram o suficiente. A cada tentativa de me acalmar, meu corpo tremia ainda mais.
— Não está funcionando. — Falei em meio ao ar que não conseguia encontrar meus pulmões eficientemente.
— Pare de pensar! — Ciaran me deu uma cabeçada, e por conta do possível traumatismo craniano, minha respiração se estabilizou e as lágrimas cessaram. — Melhor. Muito melhor. Agora preste atenção. — Ele segurou meu rosto entre suas palmas, me encarando com tamanha segurança que me acalmaram. — Ganon se foi. Demorou cem anos desde o primeiro registro que temos de dez mil anos, para ele renascer, e demos o azar de estarmos vivos na mesma época, e precisarmos vivenciar sua crueldade. Mas acabou. Então o que for que vocês estiverem sentindo é outra coisa. — Ele revirou os olhos por um instante, trincando o maxilar. — Mas com toda a certeza é tão ruim quanto.
Fazia sentido. Mas não conhecer o inimigo não me consolava.
— (s/n), Ciaran. — Zelda retornou com o Link, Sidon e Kayra. — Preciso que me acompanhem também.
— Podemos saber o que está acontecendo?
— Eu pretendia manter segredo de todos com exceção do Capitão da Armada Real e sua escudeira. Contudo, meus medos são partilhados por você também, aparentemente.
O olhar de descrença que ela me direcionou não teria me irritado, se eu já não estivesse com vontade de matar alguém. Eu podia não receber a benção da Deusa que a visitava em sonhos proféticos, mas eu sentia na minha alma que alguma coisa muito errada pulsava em nosso Reino.
— Você viu alguma coisa? — Ciaran perguntou, enquanto o Link se sentava no espaço vago ao meu lado e limpava os rastros de lágrimas no meu rosto e analisava a protuberância em minha testa com ar interrogativo.
— Não. Eu escutei. — Ela arquejou, massageando as têmporas. — Os detalhes posso lhes transmitir no caminho para o Castelo.
— A voz vem de lá?
— Só tem um modo de descobrir.
— Seguir diretamente para uma voz sinistra que penetrou o seu subconsciente não me parece uma decisão sensata.
— E não é. Mas não enviarei meu exército para investigar no meu lugar.
— Claro que não. — Ciaran menosprezou. — Você enviará a nós.
— Precisamente. — A princesa não abaixou a cabeça em instante algum, e não pude deixar de admirar o respeito que ela possuía por si mesma, e na confiança em suas próprias decisões.
Bati nas costelas do Ciaran com o cotovelo para que ele se calasse. Ele já era insubordinado o suficiente antes de nos conhecermos, e com a minha influência, as formalidades, no ponto de vista dele, foram para o inferno.
— Partiremos imediatamente. Mas se não quiser nos acompanhar, pode voltar para o Acampamento. — Zelda continuou.
Ciaran se levantou antes que ela terminasse a frase, fazendo questão de a olhar de cima. Puxei sua barbatana, o arrastando para o outro canto da praça, e toda a sua pose se desfez.
— Para de ser pentelho, caralho! — O reprimi baixinho e ele concordou de má vontade.
— Eu não serei parte da comitiva suicida dela.
— Então fique.
— Não mesmo! — Ele retrucou. — Quem vai te salvar quando o herói priorizar a princesa?
Aquilo machucou.
Essa era uma insegurança que eu não precisava ter descoberto, e graças a esse imbecil, minha ansiedade aumentava.
— Ele, nem você, precisam se preocupar comigo. Consigo me cuidar sozinha. Não preciso que me protejam.
— Então me salve, porque essa merda toda me assusta!
— Pode deixar. — Sorri momentaneamente, mas meus pensamentos migraram rapidamente para o que ele havia dito.
Se o Link tivesse que escolher entre salvar a mim ou a princesa. Será que ele realmente me abandonaria?
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Filha do Sol e do Mar__FANFIC: Link x Leitora (BOTW)
FanfictionO herói, agora aliviado do peso da profecia e da morte das pessoas que amou, enfrenta um novo dilema. A paixão pela guerreira de cabelos perolados pode bagunçar a paz que ele já experimentava nos últimos meses vivendo ao seu lado. Ela estava com o c...