30 - MAL A ESPREITA

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POV: (S/N)


Uma sensação ruim me incomodava desde a noite do casamento da Kayra com o Sidon. Uma fisgada no estômago ou um calafrio na coluna, eram sinais que eu reconhecia como anunciadores de desastres. Contudo, tirando eu e o Link, ninguém mais parecia partilhar de nossa paranoia.

— Link, precisamos conversar. — A voz rouca e cansada da princesa Zelda agravou os meus sintomas.

O Link a observou por um instante e depois de me dar um beijo no topo da cabeça seguiu a Zelda até a Sala do Trono do rei Dorephan.

— O que está acontecendo com vocês? — Ciaran sussurrou ao pé do meu ouvido, e pude sentir minha alma abandonando meu corpo.

— Não faça isso! — Reclamei. — Eu poderia morrer por muito menos!

O olhar de escárnio que ele me direcionou enquanto tomava o lugar do Link dizia que ele não acreditava nisso nem por um segundo.

— Sério, (s/n). Você e o Link estão com cara de enterro desde o casamento. Se agarrando um ao outro como se soubessem que não teriam a eternidade juntos. — Ele parou de falar quando percebeu que eu chorava. — O que aconteceu?! — Ele vasculhou o ambiente esperando achar alguém ali, e quando não encontrou, ele mesmo me puxou para o seu peito e fez carinho nas minhas costas. — Não precisa me contar se isso for fazê-la se desmanchar em lágrimas.

— Eu sinto... — Comecei, minha voz abafada pela proximidade de nossos corpos. Ele me soltou levemente, apenas o suficiente para que eu falasse. — Sombras, sofrimento, desespero, raiva, medo.

— E de quem são esses sentimentos?

— Não sei.

— Tudo bem. Vai com calma. — Ele completou. — O Link sente o mesmo?

— Sim. Mas no caso dele... A energia é parecida com algo que ele sentiu anteriormente.

— Que seria?

— Ganon.

— Impossível.

— Não exatamente. Esse demônio teima em renascer, ele nunca descansará até eliminar todas as princesas com sangue divino e os heróis escolhidos pela espada.

— Não diga isso.

— Nós achamos que talvez sua existência não tenha sumido completamente durante a batalha no Castelo. Um fragmento deve ter sobrevivido.

— O desespero está nublando o seu raciocínio (s/n). Respira fundo.

E eu respirei. Três vezes não foram o suficiente. A cada tentativa de me acalmar, meu corpo tremia ainda mais.

— Não está funcionando. — Falei em meio ao ar que não conseguia encontrar meus pulmões eficientemente.

— Pare de pensar! — Ciaran me deu uma cabeçada, e por conta do possível traumatismo craniano, minha respiração se estabilizou e as lágrimas cessaram. — Melhor. Muito melhor. Agora preste atenção. — Ele segurou meu rosto entre suas palmas, me encarando com tamanha segurança que me acalmaram. — Ganon se foi. Demorou cem anos desde o primeiro registro que temos de dez mil anos, para ele renascer, e demos o azar de estarmos vivos na mesma época, e precisarmos vivenciar sua crueldade. Mas acabou. Então o que for que vocês estiverem sentindo é outra coisa. — Ele revirou os olhos por um instante, trincando o maxilar. — Mas com toda a certeza é tão ruim quanto.

Fazia sentido. Mas não conhecer o inimigo não me consolava.

— (s/n), Ciaran. — Zelda retornou com o Link, Sidon e Kayra. — Preciso que me acompanhem também.

— Podemos saber o que está acontecendo?

— Eu pretendia manter segredo de todos com exceção do Capitão da Armada Real e sua escudeira. Contudo, meus medos são partilhados por você também, aparentemente.

O olhar de descrença que ela me direcionou não teria me irritado, se eu já não estivesse com vontade de matar alguém. Eu podia não receber a benção da Deusa que a visitava em sonhos proféticos, mas eu sentia na minha alma que alguma coisa muito errada pulsava em nosso Reino.

— Você viu alguma coisa? — Ciaran perguntou, enquanto o Link se sentava no espaço vago ao meu lado e limpava os rastros de lágrimas no meu rosto e analisava a protuberância em minha testa com ar interrogativo.

— Não. Eu escutei. — Ela arquejou, massageando as têmporas. — Os detalhes posso lhes transmitir no caminho para o Castelo.

— A voz vem de lá?

— Só tem um modo de descobrir.

— Seguir diretamente para uma voz sinistra que penetrou o seu subconsciente não me parece uma decisão sensata.

— E não é. Mas não enviarei meu exército para investigar no meu lugar.

— Claro que não. — Ciaran menosprezou. — Você enviará a nós.

— Precisamente. — A princesa não abaixou a cabeça em instante algum, e não pude deixar de admirar o respeito que ela possuía por si mesma, e na confiança em suas próprias decisões.

Bati nas costelas do Ciaran com o cotovelo para que ele se calasse. Ele já era insubordinado o suficiente antes de nos conhecermos, e com a minha influência, as formalidades, no ponto de vista dele, foram para o inferno.

— Partiremos imediatamente. Mas se não quiser nos acompanhar, pode voltar para o Acampamento. — Zelda continuou.

Ciaran se levantou antes que ela terminasse a frase, fazendo questão de a olhar de cima. Puxei sua barbatana, o arrastando para o outro canto da praça, e toda a sua pose se desfez.

— Para de ser pentelho, caralho! — O reprimi baixinho e ele concordou de má vontade.

— Eu não serei parte da comitiva suicida dela.

— Então fique.

— Não mesmo! — Ele retrucou. — Quem vai te salvar quando o herói priorizar a princesa?

Aquilo machucou.

Essa era uma insegurança que eu não precisava ter descoberto, e graças a esse imbecil, minha ansiedade aumentava.

— Ele, nem você, precisam se preocupar comigo. Consigo me cuidar sozinha. Não preciso que me protejam.

— Então me salve, porque essa merda toda me assusta!

— Pode deixar. — Sorri momentaneamente, mas meus pensamentos migraram rapidamente para o que ele havia dito.

Se o Link tivesse que escolher entre salvar a mim ou a princesa. Será que ele realmente me abandonaria?

Filha do Sol e do Mar__FANFIC: Link x Leitora (BOTW)Onde histórias criam vida. Descubra agora