31 - NATUREZA DO AVISO

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POV: (S/N)


Minha jornada da Cidade de Gerudo até o Acampamento do Exército Real me levou àquelas terras antes. As ruínas dos monumentos, casas e Castelo de Hyrule eram deprimentes mesmo que à distância.

Agora, andando por seus jardins vazios, se não fossem pelos rastros que a guerra de mais de cem anos atrás deixou e pelo confronto final do Calamity Ganon contra o Link e a Kayra, a energia daquele lugar era pesada demais.

Muitas vidas e sonhos se perderam em meio aos escombros. Muitos gritos de socorro foram abafados quando a morte se aproximou e expandiu as pupilas em olhos assustados, ao passo que o último sopro de vida se misturava à malícia negra e magenta que antes pairava visivelmente, mas que no momento, se unia aos uivos gelados e invisíveis do vento da noite que se aproximava.

— Vamos acampar aqui. — Zelda disse quando alcançamos o que eu julgava ter sido a Sala de Jantar, nos dias de glória. — Começamos a investigação amanhã.

— Zelda. — Link falou e depois me olhou com determinação enquanto indicava a porta. — Você também Kayra. — A guerreira acenou afirmativamente e, soltando a mão de seu marido, nos seguiu.

— Para onde estamos indo? — Indaguei, ao admirar a arquitetura do lugar, que mesmo destruído, mantinha sua beleza.

— Minha sala de estudos. — Zelda respondeu. — Preciso confirmar se o que eu ouvi pode estar relacionado com o pressentimento que tive pouco antes de a Calamidade amaldiçoar nossas vidas.

Uma vez no cômodo circular, que tirando o evidente buraco onde deveria ficar a porta, parecia estranhamente bem conservado. Os livros espalhados pelo piso foram deixados onde estavam. A princesa seguiu diretamente para sua mesa na parede oposta à qual o resto de nós se reunia, pegando um caderno empoeirado, e farfalhando febrilmente suas páginas amareladas.

— Não está aqui... — A princesa vasculhou as prateleiras por um instante e parou abruptamente. — Deve estar no meu quarto. — Zelda completou em um sussurro quase inaudível.

— Eu vou buscar. — Link falou e Kayra escondeu o rosto nas mãos.

— O que você vai buscar, Link? — Eu estava tão perdida quanto a princesa.

Mas à medida que o silêncio do herói preenchia o ar empoeirado da torre, em conjunto ao olhar desencontrado da sua companheira de armas, o rosto da princesa evoluía febrilmente de descrença para negação, timidez e, finalmente, raiva.

— Pelo comportamento de ambos, presumo que leram o conteúdo do meu diário. — Zelda constatou e o Link acenou afirmativamente, Kayra murchou em uma cadeira e voltou o corpo para a janela da torre, a paisagem tornando-se momentaneamente mais atraente. — Só... vá. — Ela concluiu em um suspiro derrotado.

Quando o herói retornou com o diário da princesa em mãos, ela torceu o nariz ao ver o conteúdo de algumas páginas e quando encontrou o que queria, começou a ler a passagem em voz alta.

— Acho que está enganada. — Link segurava minha mão com firmeza enquanto falava. — Segundo o que você acabou de ler, a presença que sentiu na visão anterior não corresponde à aura do novo aviso.

— Se a sua Deusa se importa com você e gostaria de enviar um alerta, não acredito que ela faria dessa forma. — Completei. — Não deve acreditar naquilo que a deixa desconfortável em seus sonhos. Mesmo que seja abençoada com o dom de receber tal mensagem, não precisa aceitar tudo que a procura como receptáculo.

— Eu entendo o que quer dizer. Mas não consigo controlar.

A exaustão na sua voz e o modo como ela olhava para o Link, como se ele fosse a resposta para todas as suas perguntas, me deixavam inquieta.

Eles tiveram um passado juntos. Um no qual eu não existia nesse mundo ainda. Até mesmo a Kayra, que estrangulava uma miniatura de guardião aranha em seus braços enquanto nos observava em silêncio, conhecia o Link melhor do que eu jamais seria capaz de conhecer.

Seus destinos estavam entrelaçados, eles lutaram ao lado um do outro, enfrentaram e venceram o inimigo que pairava sobre nossas cabeças desde que a história tinha registro.

Como eu poderia competir com qualquer uma delas?

— Você disse que ouviu uma voz. — Trinquei o maxilar, e fechei os olhos, tentando parar o turbilhão de pensamentos que me distraiam. — Você lembra o que diziam?

— É complicado explicar. — Ela se levantou de sua poltrona e caminhou até a janela da torre. — Não era algo individual. Era uma cacofonia de lamentos indescritíveis.

— O que sentiu ao ouvi-los? Ou até mesmo agora, quando lembra do som invadindo sua mente, preenchendo seus tímpanos.

— Medo, muito medo.

— Não confie em energias ruins. — Repeti.

— Mas não é como se eu estivesse sentindo medo das vozes que imploravam para serem ouvidas em seus sussurros entrecortados. É mais como se eu...

— Sentisse o que eles sentiram. — Link completou por ela.

— Exato! — Ela se virou para nós. — As vozes não queriam me fazer mal, mas essa foi a única maneira que encontraram de chamar minha atenção: mostrando seu próprio sofrimento.

— Eu não gosto disso. — Comentei, indo me sentar ao lado da Kayra, e brincando nervosamente com a perna mecânica do mini guardião que ela segurava. — Não gosto de espíritos que me forçam a sentir o que não quero.

O silêncio pairou pelo cômodo, o cansaço da viajem deixava minhas pálpebras pesadas, e falar sobre coisas assustadoras antes de dormir, seria um prato cheio para os pesadelos que eu já sentia se aproximarem.

Os zoras haviam limpado o salão, organizado os sacos de dormir e acendido as lareiras no tempo que ficamos na torre de estudos da princesa.

O sono não queria vir, mesmo que meu corpo e mente estivessem exaustos. Não fazia ideia de quantas horas haviam se passado desde que nos deitamos para dormir, e eu tinha ficado revirando no mesmo lugar.

— Sem sono? — Ciaran perguntou em um sussurro.

— Aham. Você?

— É... (s/n), eu não sou sensível como vocês, mas ainda assim consigo perceber que esse Castelo está carregado de coisas ruins.

— Eu sei. — Me virei de lado para encarar a silhueta do Ciaran, que mantinha os olhos fixos no teto e os braços apoiados na nuca. — Mas precisamos descansar ou não seremos capazes de fazer nada direito amanhã.

— Já é amanhã. Olhe, está quase amanhecendo. — Ele apontou para a janela sem vidro que mostrava um céu que se tornava um tom mais claro de azul a cada segundo.

— Então vamos nos levantar!

Deixei o salão e fui em direção à sacada, Zelda já se debruçava sobre o beiral com uma caneca fumegante em mãos. Ela nos ofereceu uma xícara depois de enchê-las com o conteúdo de um caldeirão, cujo fogo, havia sido apagado.

— Vamos vasculhar as profundezas do Castelo de Hyrule. — Ela transferiu o olhar do horizonte para nós. — As vozes são mais fortes próximas da terra.

— Quando percebeu isso? — Tomei um gole, abraçando o conforto quentinho que a bebida me oferecia.

— Assim que passei pelo portão e senti a vibração do desespero dessas almas subirem pelas solas dos meus pés. O que for que esteja agitando esses espíritos, está abaixo de nós.

Filha do Sol e do Mar__FANFIC: Link x Leitora (BOTW)Onde histórias criam vida. Descubra agora