Capítulo 1

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Olhei envolta e vi apenas um grande conjunto de gravatas e terninhos. 

Os rostos apáticos e concentrados nos celulares. Era como se fossem um grupo de robôs previamente configurados para realizarem as mesma funções. Uma sincronia perfeita e ao mesmo tempo agoniante. 

Analisar aquela atmosfera me fazia pensar quanto tempo eu demoraria para me tornar um deles. 

Encarei o reflexo de mim. 

As roupas vermelhas e o cabelo despojado não combinavam com o estilo das mulheres daquele lugar. Em uma tentativa do universo de me ilustrar esse pensamento, uma mulher passou rapidamente ao meu lado usando um terninho cinza e com o cabelo arrumado em um alinhado coque. 

Talvez fosse só impressão minha, mas eu poderia jurar que ela havia me encarado com desdém, mesmo que por breves segundos.

Olhei novamente para o reflexo. 

-Você sabe que ficará assim - falei em voz alta. 

A expressão no reflexo ficou pensativa.

Comecei a cogitar se compensava realmente dar continuidade naquele plano. Talvez outras empresas estivesse dispostas a me contratar. Eu poderia continuar tentando. 

Fechei meus olhos e respirei fundo. 

Eu precisava daquele salário. Não poderia amarelar a essa altura do campeonato. 

Virei meu rosto, ignorando o reflexo. Sabia que se continuasse olhando na direção daquela janela espelhada eu provavelmente desistiria. 

Entrei dentro do prédio, notando o luxo de seu interior. As janelas se erguiam até o teto de forma majestosa, permitindo com os raios solares iluminassem o local. 

Alguém esbarrou em mim e como uma criança desengonçada meu corpo foi arremessado em direção ao piso de porcelanato. Senti minhas mãos queimarem com o impacto e minha visão ficar turva. 

-Garota estupida - uma voz feminina se sobressaiu. - Não olha por onde anda?

Confesso que aquilo havia me irritado. Ela que havia esbarrado em mim, como eu era a culpada? A falta de educação parecia ser pré requisito, pois todos ao redor me encaravam com um olhar julgador. 

-Estupida - a mulher de cabelos loiros voltou a caminhar levando o telefone até um de seus ouvidos e respondendo em inglês a pessoa que aguardava na linha. 

Meu inglês não era dos melhores, mas poderia jurar que a ouvir dizer "uma moça me empurrou". 

Me ergui, incapaz de não produzir uma lufada de ar. 

A primeira impressão que eu tinha não era das melhores e pelo pessoa que trabalhava ali, eu não acho que esse pensamento mudaria. 

Caminhei até um enorme mesa, onde se encontravam três mulheres. 

Todas tinham o mesmo em comum (além dos coques e roupas padrão): o rosto de poucos amigos e o olhar de "o que essa mulher esta fazendo aqui?".

Uma delas imediatamente atendeu o telefone que começava a tocar, fingindo não notar a minha chegada. A segunda me olhou rapidamente e logo começou a procurar algo no meio dos papéis que estavam a sua frente. Por ultimo, a terceira atendente digitava freneticamente algo em seu computador. 

Esperei por dois minutos e nesse período a primeira atendente já havia finalizado sua ligação, mas algo no armário tinha sido muito mais interessante do me atender. 

Encarei o relógio e se eu não subisse logo, provavelmente chegaria atrasada para conhecer meu novo patrão. 

-Com licença - chamei uma vez. 

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