A proposta pairava no ar de forma intimidadora.
Eu sabia que ele falava com certeza. Se eu saísse por aquela porta, senhor Moonlight arruinaria qualquer possibilidade de emprego que surgisse. Se desse sorte, talvez conseguisse um emprego como garçonete em algum lugar estranho.
-Pai, não seja assim - Marcos avançou na direção do homem em tom de suplica.
Iago realizou o mesmo movimento.
-Não pode fazer isso com Emma, ela é inocente - meu chefe choramingou.
O homem os analisava e por fim se levantou.
-Primeira vez que vejo vocês se unindo para algo em comum - ele disse rindo.
Os rapazes se olharam rapidamente, mas logo fingiram não se ofender com as palavras de seu pai.
-Deve ter alguma outra alternativa - Iago desconversou, tentando mudar o foco do diálogo.
O homem caminhou até a janela e ficou em silêncio por alguns segundos, que mais pareceram uma eternidade.
-Não há outra alternativa - bravejou. - Acha mesmo que queria ver meu filho envolvido com uma mera secretária?
A ofensa realmente me acertou.
Erámos de mundos diferentes e eu tinha consciência disso, mas somente naquele momento eu entendi o abismo que havia entre eu e aqueles homens.
-A diretoria esta pressionando - o senhor voltou a falar com calma. - Não temos alternativas.
Respirei fundo e engoli em seco.
-Senhor, me perdoe, mas não posso prosseguir com isso - falei.
Captei a atenção de todos e um olhar curioso me chamou a atenção. Senhor Moonlight me estudava com cautela, buscando algo que não consegui identificar.
-Meninos, saiam da sala - ele falou.
Iago e Marcos começaram a protestar, mas seu pai logo levantou a mão.
-Agora - disse em tom autoritário.
Ambos me olharam com relutância, algo dentro deles lutava para permanecerem ali comigo.
-Não se preocupem - falei. - Me aguardem lá fora.
Marcos e Iago se entreolharam mais uma vez, os dois pareciam estar na mesma sintonia de pensamento. Juntos, acenaram a cabeça e caminharam em direção a porta, me dando uma ultima olhada antes de me isolarem com o senhor Moonlight naquele escritório.
-Sente-se, minha cara - o homem indiciou a cadeira a frente de sua mesa.
Ele caminhou lentamente até a poltrona do presidente, aguardando até que eu finalmente me acomodasse.
-Me desculpe por meu comportamento - ele falou docemente. - Eu tenho três filhos homens e que só responde na base do grito.
A gargalhada que se esgueirou por seus lábios foi doce, diferente da forma como o tinha visto a poucos minutos.
Essa família era bem bipolar.
-Mas ainda preciso de sua ajuda - começou a falar. - Sei que deve estar se sentindo pressionada, mas preciso resolver isso o quanto antes.
O encarei, ainda assustada.
-Eu sei sobre a situação da sua mãe e sei que se ela não receber um bom tratamento provavelmente não aguentará por muito tempo - ele suspirou. - O câncer esta se espalhando.
Ele tinha feito bem o dever de casa.
-Você esta ganhando bem, mas ainda não é suficiente para as medicações - continuou. - Prometo que se me apoiar nesse momento, já iniciarei com um excelente tratamento para ela.
O encarei por um tempo.
A proposta era boa. Eu precisava daquela ajuda e ele sabia disso. Suas palavras eram cheias de um tom de manipulação, que confesso estar funcionando.
-Não posso namorar seu filho por toda a minha vida senhor - começo a me justificar.
Ele concordou com a cabeça e encarou suas mãos.
-Um ano apenas - ele disse. - Durante todo esse ano, irei arcar com as desesperas de sua mãe e quando acabar esse período, lhe dou dinheiro suficiente para que continue tratando dela por um tempo.
A proposta era boa e eu poderia ajudar minha mãe, mas a que ponto eu me submeteria por dinheiro?
-Marcos é bom rapaz - ele começou a falar com tom pensativo. - Ele e seu irmão vivem em um pé de guerra que até hoje não faz sentindo, já tentei intervir de todas as maneiras, mas os dois são orgulhosos.
Sua expressão, ao falar do assunto, aparentava cansaço.
-Mas os dois parecem ter um carinho grande por você e até mesmo o Iago, que não confia em ninguém, acredita na sua palavra - um leve suspiro. - Meu pedido é que cuide dos meus meninos, como pai me sinto mal com tudo isso.
-Senhor, não sei se sou capaz de aproximar Marcos e Iago - falei com sinceridade.
A amargura que um sentia pelo outro era muito mais profunda do que eu imaginava.
-Tudo bem senhorita Emma, mas ainda assim permita a esse velho sonhar um pouco - ele abriu um sorriso delicado.
Assenti, incapaz de responder.
-Sobre o outro assunto... - comecei, mas logo fui interrompida.
-Por favor, senhorita Emma - ele falou. - Tire o dia de hoje de folga e pense a respeito, não tome uma decisão precipitada. Eu posso te ajudar e só te peço que finja namorar com Marcos nesse período.
O olhei por alguns segundos, incapaz de concordar com o que me era pedido.
-Vá e pense - disse.
Ele se levantou e caminhou até a porta, sem esperar uma resposta.
Assim que saiu, Iago e Marcos entraram rapidamente na sala.
-Emma? - Marcos foi o primeiro a me alcançar. - Ele te ameaçou? Falou algo que a ofendeu?
-Estou bem, pode ficar tranquilo - disse.
Iago estava em silêncio.
-O que ele disse? - finalmente perguntou.
Dei de ombros.
-Disse para eu tirar o dia de folga e pensar a respeito - falei.
Marcos me estudou por um momento.
-Emma, você não é obrigada a aceitar isso - Iago logo se prontificou em falar. - Podemos te ajudar... sei que podemos.
Ele tentava passar confiança, mas eu sabia que não era verdade. Eles não tinham tanto poder quanto seu pai. Mesmo que tentasse, não haveria muito a ser feito.
Mesmo que o senhor Moonlight não tenha falado a respeito da demissão, eu sabia que estava com meu cargo ameaçado. Para o publico eu seria o caso de seu filho que ainda era mantido na empresa, levaria a um constrangimento enorme e abaixaria o preço das ações.
Contando que ele não me atrapalhasse em outros empregos, a própria fofoca já faria isso sozinha, afinal poucos teriam interesse em contratar alguém que ficou com o chefe e os que me contratariam já teriam a intenção de uma relação.
Meu cenário não era dos melhores e alternativa do senhor Moonlight era a melhor que poderia me aparecer. Mas ainda assim.... não concordava com aquilo.
-Eu vou ver minha mãe - disse ao me levantar.
Os homens respeitaram o meu silêncio e me deixaram partir.
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Bordô
RomanceTudo parecia bem para Emma. Aceita como secretária do presidente de uma grande empresa, agora seu único desafio era agradar o enigmático Marcos Moonlight, que infelizmente surge como um grande obstáculo para que permaneça em seu emprego. Conhecido p...