Capítulo 53

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Confesso que encarei os quadros e papéis sobre a mesa pensativa. Eu tinha muito o que fazer. Mesmo com a ajuda de Crissa, ainda tinha muitos projetos para iniciar do zero, fora os que já estavam em andamento e não poderiam parar.

Porém duas batidas na porta me desprenderam das minhas preocupações.

Olhei para trás e Marcos me encarava do batente da porta com um sorriso tímido.

-Quer ajuda? - perguntou ao encarar a pilha de papéis, demonstrando estar assutado.

-Não precisa, pode ir de divertir com os rapazes - falei.

Ele me encarou por um tempo em silêncio.

Desde o início da empresa ainda não tivemos tempo de falar sobre nós. Ficamos tão ocupados com os problemas e serviços que surgiram, que optamos por priorizar a empresa.

Mas eu sentia sua falta e sempre que o via passar pelos corredores era uma tortura.

-Eles já foram - disse por fim. - Disseram que era para eu ficar e te ajudar.

Kev e Iago, mesmo com as brincadeiras, sabiam dos nossos sentimentos. Kev sempre arranja um jeito de fazer com que nos aproximassemos. Quando íamos a um lugar, ele sempre colocava Marcos sentado ao meu lado, na hora de ir embora Iago inventava alguma desculpa e Kev fazia uma cena para que Marcos me levasse em casa. Aquela era forma de demonstrarem que nos apoiavam.

-Acho que eles não gostam da sua companhia - brinquei para aliviar a tensão que começava a tomar conta do lugar.

Marcos concordou com a cabeça e entrou na sala.

-Vamos, me deixe te ajudar - ele disse com um sorriso carinhoso nos lábios.

-Tudo bem - eu disse.

-Por onde eu começo? - perguntou, parecendo perdido diante dos papéis.

Olhei envolta e caminhei até o sofá, segurando alguns papéis da pilha e marca textos. Me acomodei sobre o móvel almofadado.

-Primeiro: sente-se - indiquei o espaço vago ao meu lado.

Ele deu alguns passos em minha direção e se sentou.

Estávamos próximos, ombro a ombro. O calor que irradiava do seu corpo me passa a uma sensação de conforto e familiaridade.

-Me ajude a descobri o que já foi feito - disse apontando para os quadros a nossa frente. - Marcadores amarelos para atividades que já foram finalizadas e pagas, marcadores rosas para atividades que começamos a fazer mas ainda tem alguma pendência e marcadores azuis para atividades que ainda não estão no cronograma.

Ele me encarou como se eu fosse louca.

-Emma, você tem que ser menos neurótica - ele riu.

Provavelmente minha cara era de surpresa.

-No quadro já tem tudo isso - ele disse apontando para os quadros.

-Mas as informações que estão ali são da semana passada - expliquei. - Preciso atualizar para poder me organizar.

-Louca - o ouvi resmungar.

Acertei uma cotovelada em sua costela e ele pediu desculpa, logo inciando seus afazeres.

-Fui hoje ver sua mãe - ele me contou.

Mamãe já havia me enviado mil mensagens contando sobre a visita de Marcos ao hospital. Ela ama quando ele vai vê-la. E eu também gosto, pois não tenho tempo para estar todos os dias presente, com ele indo alguns dias da semana, sei que ela não se sente tão sozinha.

-E como foi? - perguntei, enquanto analisava as linhas a minha frente.

-Muito bom - ele abriu um sorriso. - Sua mãe é sempre um amor comigo.

Revirei meus olhos.

Minha mãe era a fã número um do casal Emmar, como ela carinhosamente havia nos apelidado.

-Eu acho que ela quer te adotar como filho - eu disse olhando para ele com deboche.

No mesmo instante, Marcos também me olhou. Era nítido a intensidade que tomou o ambiente. Era como se naquele momento a gravidade atuasse diretamente sobre nós, exercendo uma pressão surreal.

Meus lábios automaticamente se abriram um pouco, como um convite minucioso para que se aproximasse.

-Um genro também é como um filho - ele disse, de repente.

Aquilo me pegou de surpresa.

Marcos era sempre cauteloso nas conversas, evitando sempre ser muito direto. Naquele momento eu vi em seus olhos a mensagem.

Sua mão tocou a lateral do meu rosto e ele afagou minha bochecha com delicadeza. Seu toque era suave e estimulante, como se cargas de energia fossem enviadas para cada centímetro do meu corpo.

Nossos olhares ainda estavam presos.

-Me desculpe - ele disse, sem se mover.

-Pelo.. o que? - só então notei que estava quase sem fôlego.

-Por isso.

Marcos se esticou para frente e tocou meus lábios com os seus. Um beijo que começou suave e cheio de amor.

Ele desgrudou nossos lábios e ficamos testa com testa.

-Não desculpo - falei o pegando de surpresa.

Marcos de afastou alguns centímetros, me olhando com receio.

-Devolve o beijo que você me roubou - eu disse, também lhe beijando.

Os papéis em nossas mãos foram jogados no chão, juntamente com os malditos marcadores.

As mãos de Marcos me puxaram pela cintura e eu automaticamente coloquei meu corpo sobre o seu colo.

-Eu te amo, Emma - ele disse me afastando com as mãos. - Eu não quero só essa noite ao seu lado, eu quero sempre estar ao seu lado.

A declaração foi simples, mas única e perfeita.

-Namora comigo? - perguntou com os olhos esperançosos. - Sem contratos, sem apostas, apenas eu como meus sentimentos bobos e intensos.

Balancei a cabeça positivamente, lhe beijando apaixonadamente.

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