Capítulo 28

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Como já era fim de expediente, encontramos poucas pessoas no elevador e saguão, mas ainda assim os olhares eram intimidadores e cheios de julgamentos. 

Já conseguia imaginar as fofocas que iriam se propagar no dia seguinte. As línguas más não poupariam esforços para destruir o restante de dignidade que ainda me restava. Estar com Marcos naquele momento afirmaria o pronunciamento, mas também me condenava a uma péssima experiência no trabalho. 

-Não se importe com eles - ouvi Marcos sussurrar. 

Mesmo que seu rosto estivesse com uma expressão neutra, percebi que ele analisava todos ao redor. 

Marcos caminhava com confiança, naquele momento ele estava vestido com sua máscara empresarial, proporcionando a ele um ar sério e intimidador. 

-Não me importo - disse. 

Isso captou sua atenção e tentei parecer o mais tranquila possível. 

Esconder minhas preocupações de Marcos era mais difícil do que eu imaginava. A forma como ele me olhava despia minha alma por inteiro. Era como se eu ficasse cada vez mais exposta e disposta a lhe confidenciar todos os meus segredos.

Caminhamos em silêncio até a frente do prédio, porém assim que passamos pela porta de entrada um grupo de repórteres começou a correr em nossa direção. 

-Merda - Marcos grunhiu enquanto tirava o terno. 

O rapaz me cobriu com a peça e caminhamos apressadamente em direção ao seu carro. 

Mesmo que as vozes se se misturassem em uma bagunça indecifrável, o ambiente ficou em silêncio. Um pequeno zumbido em meu ouvido. As imagens passavam como flash. Desejei que aquilo acabasse logo. 

O percurso até o carro pareceu perdurar por uma eternidade, até finalmente alcançarmos a porta do passageiro. 

A experiência que vive naqueles poucos metros me pareceram uma amostra grátis de um filme de terror. Sentia como se a qualquer momento eu fosse ser apanhada pelo Freddy Krueger e levada ao pior dos pesadelos.

-Se afastem - Marcos gritou. - Não me façam acionar os advogados.

A ameaça surtiu efeito na multidão, que se distanciou um pouco de nós. Mas os clicks continuaram.

Assim que entrei no carro, Marcos me tampou com o terno e contornou o veículo, finalmente alcançando o banco do motorista. 

-O que foi isso? - perguntei quando finalmente deixamos a garagem, com a multidão de zumbis insatisfeita. 

-Imprensa - disse. A frase saiu de seus lábios em um tom divertido, mas com seriedade. Ele gesticulava em direção a multidão como se aquilo fosse algo óbvio.

O olhei com reprovação e ele voltou a se concentrar no volante. 

-Digo referente a situação - lhe expliquei. 

Coloquei seu paletó sobre o meu colo.

-Será somente nos primeiros dias - ele disse. - Por isso gostaria de te levar em casa, para evitar certos abusos. 

Concordei com a cabeça involuntariamente. 

Concordar com Marcos era mais fácil do que eu imaginava. Não conseguia apresentar relutância nas coisas que ele me dizia e confiava cegamente em suas palavras. Sua presença me trazia um conforto inexplicável. 

O silêncio prevaleceu durante toda a viagem, mas não me senti desconfortável. Usei aquele tempo para organizar meus pensamentos, mesmo que não tenha chegado a uma forma de falar para minha sobre aquela situação.

Assim que viramos na rua que dava acesso ao meu prédio fomos surpreendidos por um grupo de pessoas próximo ao local. 

Na mão de algumas pessoas havia uma câmera, enquanto outras seguravam microfones. Todos aguardavam sentados pelo furo de reportagem que levávamos em sua direção.

A maioria dos repórteres estavam sentados na calçada e conversavam entre si com ansiedade.

-Sua casa está comprometida - disse Marcos em tom sério.

O encarei e depois voltei a olhar para a fachada de meu prédio.

-O que fazemos agora? - perguntei.

Ele suspirou, acelerando o carro, deixando o prédio para trás. Ninguém nos notou dentro do veículo, o que foi um grande alívio.

-Acho melhor dormir lá em casa hoje - disse.

Meus olhos mais uma vez foram direcionados para o homem atrás do volante.

-Ótima ideia - o respondi com sarcasmo.

Ele me encarou por alguns segundos e por fim voltou sua atenção para a estrada.

-Consegue pensar em uma melhor? - respondeu com rispidez. 

A pergunta me pegou desprevenida, não conseguia formular um único pensamento sensato ou ideia plausível, o que resultou em falar a primeira coisa que pensei.

-Hotel - disse com os braços cruzados sobre o peito. 

Ele riu alto. 

A risada não era verdadeira e parecia um bruxo das trevas prestes a realizar um ato maligno. Confesso que isso o deixou estranhamente sexy.

Balancei a cabeça, me livrando daquele pensamento. 

Mantenha a postura de bandida má, falei para mim mesma. 

-Amanhã a manchete será uma foto sua saindo do hotel, no texto vão dizer "Não tem nem a própria casa para transar" - era notório que Marcos estava irritado. 

Porém, não entendia o motivo de sua irritação. 

-A gente nunca vai transar - respondi rapidamente. 

Confesso que o nunca me abalou um pouco. Mas em alguns momentos é preciso delimitar limites, mesmo que isso envolva perder qualquer oportunidade de desenvolver uma relação sexual com Marcos Moonlight. 

-É normal que noivos transem - disse. - Com você saindo de um hotel, isso vai ficar ainda mais nítido. Mesmo que transar comigo seja algo tão desprezível, as pessoas pensam que já fazemos isso.

Seu olhar estava encarando a estrada com irritação. 

-Hotel ou a minha casa? - perguntou. 

-Ponte - falei, também irritada, seu tom grosseiro não me deixou abertura para educação. 

Ele revirou os olhos. 

Que maravilhava, estávamos tendo nossa primeira DR. Com certeza a vida de casados seria perfeita (contém ironia). 

-Você consegue ser muito infantil quando quer - o ouvi sussurrar. 

Ignorei o comentário.

Não queria começar a segunda guerra mundial dentro daquele carro e pelo caminho que seguíamos, no mínimo alguém sairia sem vida daquele local.

Encostei minha cabeça no banco, até por fim meus olhos pesarem e meu corpo ficar leve. 

BordôOnde histórias criam vida. Descubra agora