Assim que sai pela porta, logo visualizei a enorme construção no início da fazenda. Caminhei ao lado de Emília, que não ficou contente com sua nova companhia. Porém os rapazes andavam a nossa frente, pensativos e sérios, não dando abertura para qualquer conversa.
Durante o percurso, por sorte, a garota preencheu o silêncio com suas excêntricas explicações sobre a fazenda. Dessa forma, o constrangimento foi um pouco menor.
Não que tivesse algo pelo qual eu devesse me envergonhar, mas assim que vi Iago parado na porta senti como se estivesse cometendo um grande pecado e tivesse acabado de ser pega no flagra. Mal conseguia encarar meu chefe, ou até mesmo seu irmão.
Minha mente estava tão pesada que eu queria que aquele dia acabasse logo.
Os pensamentos conturbados e o falatório de Emília fizeram com que o caminho parecesse rápido e logo chegamos a casa principal.
-Vamos, meu pai nos aguarda - cantarolou a moça.
Ela parecia realmente animada para o tal chocolate quente.
Pensar em algo morno também me dava uma boa sensação. Como se aproximava do anoitecer, o clima na fazenda estava fresco e aparentava que logo iria esfriar. Talvez o chocolate quente fosse a melhor ideia para aquele momento.
A seguimos para dentro da construção, seguindo por um corredor até chegarmos em uma sala enorme.
Ao alcançarmos o cômodo nos encontramos com dois homens. Um aparentava ter quarenta anos, com os cabelos perfeitamente alinhados exibindo alguns fios prata, proporcionando ao seu visual um charme indescritível. O outro homem parecia ter a metade da idade o outro, o cabelo ajeitado da mesma forma, porém em um tom tão escuro que parecia preto. Se não fosse pela diferença de idade, eu poderia jurar que eram gêmeos.
-Ah, bem vindos - o homem mais velho nos saldou.
Ele se aproximou de nós rapidamente.
-Você deve ser a doce Emma - ele disse ao se aproximar de mim. - Jacobs me disse que você era bonita, mas acho que ele não descreveu sua beleza com exatidão.
Ele colocou a mão no queixo como se estivesse pensando em algo.
-Com certeza - ele afirmou. - A palavra bonita não é suficiente para descrever seus encantos. - Ele abriu um enorme sorriso, contente pela frase que havia dito.
O coroa estava me cantando?
-Não ligue para o meu pai - outro rapaz falou ao se aproximar. - Ele tem um fetiche em mulheres mais novas.
Emília e os rapazes gargalharam como se aquela fosse uma velha piada.
-Não dê ouvidos a ele, jovem Emma - ele disse tossindo em seguida. - Gilian morre de inveja porque as meninas que ele da em cima preferem o paizão aqui.
O rapaz ao lado deu de ombros e fingiu concordar com o que seu pai dizia, enquanto Emilia tentava conter o riso.
Marcos e Iago assistiam a toda cena surpresos.
-Venham, fiz um delicioso chocolate quente - falou o homem enquanto indicava uma outra sala.
A porta dava acesso a uma sala de jantar perfeitamente mobiliada com uma enorme mesa de centro e várias cadeiras rusticas ao seu redor.
Sobre a mobília havia uma enorme jarra preta, com vários copos ao seu redor.
-Senhor Evandro, creio que saiba o motivo de nossa visita - Iago havia assumido um tom sério.
Estávamos nos sentando no momento em que proferiu a frase e todos o encararam.
-Sou contra falar de negócios enquanto tomo chocolate quente, mas abrirei uma exceção, afinal, devem estar loucos para ir embora - falou o senhor.
Marcos assentiu e pegou um dos copos a nossa frente.
Ele serviu uma generosa quantidade e colocou o copo cheio na minha frente.
-Beba - sussurrou próximo ao meu ombro, para que apenas eu escutasse.
Sua atitude, na discreta, chamou a atenção de todos a mesa, que nos encaravam com curiosidade. Com exceção de Iago que tinha aquela expressão assustadora em seu rosto.
-Com a chuva, sinceramente não pude avaliar a propriedade por completo - disse Iago. - E, sendo direto, pelo pouco que observei não acho que o valor da proposta seja a quantia adequada para o local.
Evandro o encarou. Seu rosto já não tinha aquele aspecto brincalhão, agora eu podia visualizar uma faísca de preocupação estampar seus traços.
-Essa é uma fazendo de renome, senhor Iago - disse o senhor, levando um pouco do líquido aos lábios.
Agora eu entendia porque aqueles homem estavam a frente de uma grande empresa. Eles eram empresários natos, não só pela postura, mas pela observação.
-Senhor Evandro, tenho que concordar com meu irmão - Marcos começou a dialogar. - A extensão do vinhedo não permitirá uma grande safra. Além disso, observei o pasto atrás da colina com a casa na árvore, não há nada de grandioso.
Evandro avaliava os rapazes e, mesmo que mantivesse sua postura, eu conseguia visualizar em seu olhar o quanto aquilo o apavorava.
-O que me faz questionar quem avaliou essas terras - Marcos continuou, em seguida também experimentando um pouco do chocolate quente.
-Uma boa pergunta, meu irmão - Iago disse, fingindo estar pensativo.
Evandro deu de ombros e desviou o olhar dos rapazes.
-Sua empresa que fez a avaliação, senhores - apenas respondeu.
Seus filhos, ao contrário do pai, eram bem expressivos e deixavam evidente que não estavam contentes com o rumo que aquela conversa estava tomando.
-Nossas terras valem muito - ouvi Emília pestanejar enquanto levantava e dava um tapa na mesa.
Os rapazes a encararam, mas não disseram nada. Não foi necessário que uma palavra saísse dos lábios deles, a menina se contraiu e retomou ao seu lugar.
-Enfim, acho que devemos ir, já vimos o bastante - Iago se levantou com um aceno de cabeça. - Muito obrigada por nos recepcionar.
Marcos também se levantou, me obrigada a seguir seus movimentos de uma forma desengonçada.
Evandro e Gilian não nos acompanharam, apenas Emília que nos levou a saída. Porém ela já não era aquela mulher simpática que havia nos recebido, havia rancor em sua expressão.
-Bom retorno - disse, fechando a porta logo que saimos.
Começamos a caminha em direção ao carro.
-Quem avaliou essa propriedade? - ouvi Marcos perguntar.
Iago o olhou com curiosidade.
-Em faço a mesma pergunta - disse Iago. - Está na cara que esse propriedade não vale mais do que cinco milhões, mas está sendo faturada pelo dobro.
-Eu observei isso, também - comentou Marcos. - Você viu a Horta? É uma fazenda de produtos orgânicos e a horta parecia um chiqueiro. Plantação mal cuidada. Terra amarelada.
Os homens embarcaram em uma conversa sobre suposições. Ambos imersos nós negócios e em como deveriam proceder com aquela aquisição.
Confesso que fiquei contente por aquele momento. Talvez Jacobs tivesse razão e aqueles dois teriam uma segunda chance de aproveitar a companhia um do outro.
O percurso foi seguido por conversa envolvendo advogados, contratos e aquisições. Iago e Marcos foram na frente, deixando o banco traseiro livre para que eu pudesse adormecer.
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Bordô
RomanceTudo parecia bem para Emma. Aceita como secretária do presidente de uma grande empresa, agora seu único desafio era agradar o enigmático Marcos Moonlight, que infelizmente surge como um grande obstáculo para que permaneça em seu emprego. Conhecido p...