Capítulo 15

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Acordei atordoada.

Meus olhos piscavam constantemente, tentando se adaptar ao ambiente iluminado. A cabeça latejando como se tivesse levado marteladas nela por toda a noite.

Olhei ao redor, notando que estava na cama ao lado da minha mãe.

Como eu havia chegado ali? Uma pergunta que tentei de todas as formas responder para mim mesma. Mas só havia uma explicação... Será que eu era sonâmbula?

-Bom dia, Emma - uma voz familiar me chamou.

Olhei para o lado e vi minha mãe com um sorriso traiçoeiro. Ela sabia de algo e provavelmente não me contaria, utilizando tal informação como forma de zoação ou chantagem. Mulher esperta.

-Bom dia, mamãe - a respondi, ignorando seu olhar de provocação. - Que horas são?

A mulher deu de ombros, mas logo em seguida pegou seu celular.

-Seis e meia - disse, por fim.

Meus olhos imediatamente se arregalaram, o pavor correndo por minhas veias e se transformando imediatamente em adrenalina. 

-Merda, irei me atrasar - comecei a descer rapidamente da cama. - Por que não me acordou?

Bati com força o pé no chão, notando que ainda usava a sapatilha de ontem. Meu Deus, eu havia dormido de calçado.

-Se acalme - ela brandiu. - Marcos comprou algumas roupas para você - ela apontou para algumas sacolas que estavam na poltrona ao lado da minha cama. - Ele disse para você se arrumar que ele te da uma carona. 

Minha mãe me lançou uma piscadela, como se fossemos cumplices em algo muito errado. 

Encarei as sacolas, tinha pelo menos umas cinco. Que exagerado. 

Mas sabia que mesmo que tentasse me convencer que aquela atitude era errada, ainda assim, eu estava sorrindo. Um sorriso envergonhado, mas ao mesmo tempo contente, como se aquela atitude tocasse diretamente o meu coração. 

-Como...? - olhei para o sorriso nos lábios da minha mãe, seria melhor se eu não soubesse o que aquela velha estava aprontando. - Enfim, não importa. 

Comecei a vasculhar as roupas novas.

Havia pelo menos quatro pares de roupas e duas caixas de calçado. 

-Esse homem é louco - falei enquanto avaliava as etiquetas. PRADA? Ele tinha me comprado Prada para o dia a dia?

Respirei fundo, tentando pensar em uma solução. Meus pensamentos a todo vapor, na tentativa de encontrar algo que contornasse aquela situação.

Eu levaria pelo menos quarenta minutos até em casa. Teria que tomar banho e me trocar. Para estar no serviço as sete e meia. Não daria tempo e provavelmente chegaria atrasada. 

Encarei mais uma vez as sacolas. 

-Não tenho como aceitar - sussurrei. 

Ouvi um estalo de língua e minha mãe me olhava com reprovação.

-Não banque a mocinha pobre dos filmes românticos - ela falou. - O cara só queria te ajudar. 

-Mãe essas roupas devem custar o valor de um carro - gesticulei para que lesse o rotulo nas etiquetas. - Não posso aceitar coisas tão caras, vai além dos meus princípios. 

Ela revirou os olhos e soltou uma gargalhada, por fim sem conseguir sustentar sua forma exaltada. 

-Tudo bem, mas reconsidere dessa vez pelas circunstâncias e converse com ele - falou em um tom suave. - Tenho certeza que para ele isso estava a preço de banana e comprou somente na intenção de agrada-la. 

Enquanto ela falava, escolhi a roupa mais simples que consegui. Não que tivesse como ser simples usando Prada. Mas optei por uma saia branca mid e uma blusa de ceda na cor rosa bebê. A combinação não era das melhores, mas a julgar pelas escolhas de Marcos ele não era muito conhecedor do universo feminino. 

-Ainda assim, mãe - olhei com relutância pra as sacolas em meu braço. - É pedir muito que eu aceite isso. 

Ela se ajeitou na cama e pareceu avaliar o caso. 

-Já te disse, apenas reconsidere dessa vez e peça que ele não repita essa atitude sem antes te consultar, mas também entenda o lado do rapaz e que tudo foi feito de coração.

Eu sabia que ele não havia feito por mal e metade de mim estava encantada com aquela atitude. Estava me sentindo dentro de um filme romântico e meu coração estava acelerado em meu peito. 

Mas também sabia que não deveria me precipitar. Aquela não era uma situação comum. Ele ainda era meu chefe e eu deveria estar evitando esse tipo de relação intima com ele. 

-Já volto, se comporte - falei com a minha mãe. 

Ela levantou as mãos como alguém inocente que era acusado de algo terrível. 

Segui para o banheiro apressadamente. 

Assim que entrei, analise meu reflexo. 

Eu estava horrível. 

BordôOnde histórias criam vida. Descubra agora