Capítulo 27

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O restante do dia se seguiu rápido. Divida entre atender as necessidades de Iago (que mal conversava comigo) e ler o contrato que haviam me entregado. Tentei conciliar todas as atividades e com muito esforço finalmente entreguei o contrato assinado para o secretário de Jacobs.

Era quase fim do expediente quando finalizei todas as minhas atividades relacionadas ao trabalho, a muito custo e cansaço. 

A porta da presidência se abriu e Iago saiu do escritório com uma feição de poucos amigos. Sua testa estava vincada e seu olhar completamente inexpressivo, proporcionando a ele uma imagem ameaçadora. 

-Espero que curta seu casamento - Iago disse ao passar por mim. 

O tom de sua voz deixou bem claro que seus sentimentos não eram aqueles que dizia. Seu olhar demonstrava profundo ressentimento e tristeza. Confesso que meu coração estava apertado em meu peito, mas já estava feito. 

-Senhor.. - comecei a falar assim que ele me deu as costas. 

Iago parou, mas não se virou em minha direção, impossibilitando que eu visse sua expressão. Encarei apenas o contorno de seu corpo, perfeitamente alinhado no terno.

-Me desculpa - foi a única coisa que consegui falar, incapaz de formular um pedido melhor.

Abaixei a cabeça, incapaz de olhar para ele. 

-Eu que tenho que me desculpa, Emma - respondeu. - Não consegui lhe proteger. 

Ele cerrou os pulsos e voltou a caminhar pesadamente, até desparecer do meu campo de visão. Fiquei sozinha na área da recepção, apenas olhando para o local em que ele estava a poucos minutos. 

Iago queria me proteger? 

A todo momento pensei que estivesse magoado comigo, mas notei que sua tensão era algo muito pessoal. Sei que devo tê-lo magoado, mas ainda assim sua preocupação era comigo e o meu envolvimento naquele balaio de gato.

-Emma - a voz de Marcos me desprendeu de meus pensamentos.

Levei um susto, assim que identifiquei sua silhueta a frente da minha mesa. Ele já usava um novo terno, agora na cor bege, com uma gravata marrom chamativa. Mesmo que a combinação de cores fosse estranha, ele parecia elegante.

-Oi - falei após finalmente voltar a respirar. - Não vi você se aproximar. 

O homem me analisou por um tempo, enquanto se sentava na cadeira de frente a minha mesa. Sua expressão era suave, mas ao mesmo tempo ele parecia instigado.

-Ainda preocupada? - perguntou, enquanto se acomodava no assento.

Balancei a cabeça. Em parte era verdade, estava preocupada com Iago. Desde que cheguei o rapaz estava disposto a me ajudar e confiar em mim, agora eu estava me aliando a seu principal rival.

-Entreguei o contrato para seu pai - o informei, evitando que ele perguntasse qual era o real motivo da minha preocupação. 

-Estou sabendo - me disse, pegando uma das canetas sobre a mesa e a girando em seus dedos.

Comecei a colocar meus pertences em minha bolsa, ansiando para sair o quanto antes daquela empresa e voltar para o conforto da minha casa. 

-Vim te dar um carona - disse de repente. 

Agora era a minha vez de analisa-lo. 

-O pronunciamento já foi publicado - sussurrou.

Meus olhos se arregalaram. 

-Já? - perguntei apavorada. 

Procurei desesperadamente em minha bolsa, até finalmente encontrar meu celular. Liguei a tela e abri a pagina de notícias. Estampado logo no início "Marcos Moonlight está noivo".

Cliquei na matéria e meus olhos foram direcionados para o texto que se localizava logo a baixo do título. 

"Finalmente, nosso solteirão mais cobiçado de Seattle assumiu um relacionamento. A sortuda da vez é Emma Fell

Pelo pronunciamento apresentado pela Corporação Moon, o casal já esta junto a um tempo e atualmente estão noivos. Da para acreditar que o nosso sonho de consumo foi fisgado por uma secretária?"

Ler aquilo me deixou com vertigem e logo me prontifiquei em fechar os olhos e recostar minha cabeça na cadeira. 

Os comentários maldosos começariam antes do esperado e eu teria que ter um preparo psicológico para toda aquela situação. 

-O que vou falar para a minha mãe? - finalmente a realidade estava me assombrando. 

Agora que a bomba havia explodido, os destroços ficavam cada vez mais visíveis aos meus olhos.

-A verdade? - perguntou Marcos, ainda atento na caneta em seus dedos. 

Revirei meus olhos. Aquela opção estava fora de cogitação.

-Oi mãe, então, eu tô noiva do Marcos para pagar o tratamento da senhora - ironizei em um sussurro, para que apenas ele ouvisse. 

-Não vai pegar legal - ele riu. 

Lancei um olhar de descontentamento para ele. 

-Diga que estamos juntos, mas que a empresa optou por falar isso para que você não sofresse tanto ataque - disse. - Sobre morarmos juntos, podemos dizer que é para preservar sua privacidade. 

Marcos parecia estar pensando de forma racional, mas ele não conhecia o temperamento de dona Carmen. 

-Ela vai me esfolar viva - choraminguei. 

Isso fez com que Marcos soltasse uma risada alta. 

-Se quiser, posso ir com você, já aproveito e peço a benção dela - ele abriu um sorriso em seus lábios. A frase, mesmo em tom brincalhão, pareceu conter algo mais, como uma mensagem subliminar ou segundas intenções. 

Marcos tinha assumido aquela expressão que eu tanto gostava. Agora, ele era o meu Marcos. Não havia vestígios de um empresário carrancudo, apenas um homem que curtia sua vida.

-Ótima ideia, assim não vou ser esfolada sozinha - brinquei. 

Um sorriso, cheio de significados, se esgueirou por seus lábios. Alinhado a um olhar doce e gentil. 

-Vamos, princesa? - perguntou, estendendo o braço em minha direção. 

Instintivamente, coloquei minha mão sobre a sua palma. Deixei que a eletricidade dominasse a palma da minha mãe e irradiasse para o meu braço. Estávamos presos um ao outro, como imãs.

Nenhum dos dois estava disposto a se mexer e quebrar aquela conexão. 

Igual a cena de um filme, Crissa apareceu na entrada com e seu olhar foi automaticamente levado para nossas mãos.

Como duas crianças, nos desgrudamos de imediato, como se tivéssemos sido pegos no flagra. 

-Senhorita Fell, aqui estão alguns documentos para análise - ela disse em tom desconfiado, enquanto esticava em minha direção um conjunto de papéis. 

Limpei a garganta e peguei o documento.

-Obrigada - falei, intercalando o olhar entre Crissa e Marcos. - Enfim, algo mais?

A mulher nos encarou por mais alguns segundos. 

-Somente isso - disse e logo após se retirou. 

Marcos deu de ombros e me encarou. 

-Vamos? - perguntou, sem estender o braço dessa vez. 

Apenas assenti e seguimos juntos em direção ao elevador. 

BordôOnde histórias criam vida. Descubra agora