O restante do dia se seguiu rápido. Divida entre atender as necessidades de Iago (que mal conversava comigo) e ler o contrato que haviam me entregado. Tentei conciliar todas as atividades e com muito esforço finalmente entreguei o contrato assinado para o secretário de Jacobs.
Era quase fim do expediente quando finalizei todas as minhas atividades relacionadas ao trabalho, a muito custo e cansaço.
A porta da presidência se abriu e Iago saiu do escritório com uma feição de poucos amigos. Sua testa estava vincada e seu olhar completamente inexpressivo, proporcionando a ele uma imagem ameaçadora.
-Espero que curta seu casamento - Iago disse ao passar por mim.
O tom de sua voz deixou bem claro que seus sentimentos não eram aqueles que dizia. Seu olhar demonstrava profundo ressentimento e tristeza. Confesso que meu coração estava apertado em meu peito, mas já estava feito.
-Senhor.. - comecei a falar assim que ele me deu as costas.
Iago parou, mas não se virou em minha direção, impossibilitando que eu visse sua expressão. Encarei apenas o contorno de seu corpo, perfeitamente alinhado no terno.
-Me desculpa - foi a única coisa que consegui falar, incapaz de formular um pedido melhor.
Abaixei a cabeça, incapaz de olhar para ele.
-Eu que tenho que me desculpa, Emma - respondeu. - Não consegui lhe proteger.
Ele cerrou os pulsos e voltou a caminhar pesadamente, até desparecer do meu campo de visão. Fiquei sozinha na área da recepção, apenas olhando para o local em que ele estava a poucos minutos.
Iago queria me proteger?
A todo momento pensei que estivesse magoado comigo, mas notei que sua tensão era algo muito pessoal. Sei que devo tê-lo magoado, mas ainda assim sua preocupação era comigo e o meu envolvimento naquele balaio de gato.
-Emma - a voz de Marcos me desprendeu de meus pensamentos.
Levei um susto, assim que identifiquei sua silhueta a frente da minha mesa. Ele já usava um novo terno, agora na cor bege, com uma gravata marrom chamativa. Mesmo que a combinação de cores fosse estranha, ele parecia elegante.
-Oi - falei após finalmente voltar a respirar. - Não vi você se aproximar.
O homem me analisou por um tempo, enquanto se sentava na cadeira de frente a minha mesa. Sua expressão era suave, mas ao mesmo tempo ele parecia instigado.
-Ainda preocupada? - perguntou, enquanto se acomodava no assento.
Balancei a cabeça. Em parte era verdade, estava preocupada com Iago. Desde que cheguei o rapaz estava disposto a me ajudar e confiar em mim, agora eu estava me aliando a seu principal rival.
-Entreguei o contrato para seu pai - o informei, evitando que ele perguntasse qual era o real motivo da minha preocupação.
-Estou sabendo - me disse, pegando uma das canetas sobre a mesa e a girando em seus dedos.
Comecei a colocar meus pertences em minha bolsa, ansiando para sair o quanto antes daquela empresa e voltar para o conforto da minha casa.
-Vim te dar um carona - disse de repente.
Agora era a minha vez de analisa-lo.
-O pronunciamento já foi publicado - sussurrou.
Meus olhos se arregalaram.
-Já? - perguntei apavorada.
Procurei desesperadamente em minha bolsa, até finalmente encontrar meu celular. Liguei a tela e abri a pagina de notícias. Estampado logo no início "Marcos Moonlight está noivo".
Cliquei na matéria e meus olhos foram direcionados para o texto que se localizava logo a baixo do título.
"Finalmente, nosso solteirão mais cobiçado de Seattle assumiu um relacionamento. A sortuda da vez é Emma Fell.
Pelo pronunciamento apresentado pela Corporação Moon, o casal já esta junto a um tempo e atualmente estão noivos. Da para acreditar que o nosso sonho de consumo foi fisgado por uma secretária?"
Ler aquilo me deixou com vertigem e logo me prontifiquei em fechar os olhos e recostar minha cabeça na cadeira.
Os comentários maldosos começariam antes do esperado e eu teria que ter um preparo psicológico para toda aquela situação.
-O que vou falar para a minha mãe? - finalmente a realidade estava me assombrando.
Agora que a bomba havia explodido, os destroços ficavam cada vez mais visíveis aos meus olhos.
-A verdade? - perguntou Marcos, ainda atento na caneta em seus dedos.
Revirei meus olhos. Aquela opção estava fora de cogitação.
-Oi mãe, então, eu tô noiva do Marcos para pagar o tratamento da senhora - ironizei em um sussurro, para que apenas ele ouvisse.
-Não vai pegar legal - ele riu.
Lancei um olhar de descontentamento para ele.
-Diga que estamos juntos, mas que a empresa optou por falar isso para que você não sofresse tanto ataque - disse. - Sobre morarmos juntos, podemos dizer que é para preservar sua privacidade.
Marcos parecia estar pensando de forma racional, mas ele não conhecia o temperamento de dona Carmen.
-Ela vai me esfolar viva - choraminguei.
Isso fez com que Marcos soltasse uma risada alta.
-Se quiser, posso ir com você, já aproveito e peço a benção dela - ele abriu um sorriso em seus lábios. A frase, mesmo em tom brincalhão, pareceu conter algo mais, como uma mensagem subliminar ou segundas intenções.
Marcos tinha assumido aquela expressão que eu tanto gostava. Agora, ele era o meu Marcos. Não havia vestígios de um empresário carrancudo, apenas um homem que curtia sua vida.
-Ótima ideia, assim não vou ser esfolada sozinha - brinquei.
Um sorriso, cheio de significados, se esgueirou por seus lábios. Alinhado a um olhar doce e gentil.
-Vamos, princesa? - perguntou, estendendo o braço em minha direção.
Instintivamente, coloquei minha mão sobre a sua palma. Deixei que a eletricidade dominasse a palma da minha mãe e irradiasse para o meu braço. Estávamos presos um ao outro, como imãs.
Nenhum dos dois estava disposto a se mexer e quebrar aquela conexão.
Igual a cena de um filme, Crissa apareceu na entrada com e seu olhar foi automaticamente levado para nossas mãos.
Como duas crianças, nos desgrudamos de imediato, como se tivéssemos sido pegos no flagra.
-Senhorita Fell, aqui estão alguns documentos para análise - ela disse em tom desconfiado, enquanto esticava em minha direção um conjunto de papéis.
Limpei a garganta e peguei o documento.
-Obrigada - falei, intercalando o olhar entre Crissa e Marcos. - Enfim, algo mais?
A mulher nos encarou por mais alguns segundos.
-Somente isso - disse e logo após se retirou.
Marcos deu de ombros e me encarou.
-Vamos? - perguntou, sem estender o braço dessa vez.
Apenas assenti e seguimos juntos em direção ao elevador.
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Bordô
RomanceTudo parecia bem para Emma. Aceita como secretária do presidente de uma grande empresa, agora seu único desafio era agradar o enigmático Marcos Moonlight, que infelizmente surge como um grande obstáculo para que permaneça em seu emprego. Conhecido p...