Capítulo 19

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-Então você esta aqui - ele disse em minha direção. 

Iago caminhou e se colocou a minha frente. Uma enorme estrutura na minha frente, pronto para atacar qualquer um que me tocasse.

-Ela não tem nada a ver com isso - o rapaz logo começou a dizer, porém mesmo que tentasse transmitir confiança, eu sentia pelo seu tom de voz que enfrentar seu próprio pai não era algo comum em seu dia a dia. 

O homem o estudou por um tempo e pigarreou. Ele caminhou lentamente até a mesa de Iago e se acomodou na cadeira do presidente. Em seguida, puxou o telefone do gancho e discou um ramal que não pude identificar. 

Os olhos sempre atentos em Iago, encarando-o de uma forma que me dava medo. 

-Venha agora a sala da presidência - falou seriamente, a voz saiu autoritária. 

Ele não esperou uma resposta da pessoa do outro lado da linha e desligou o telefone. 

Iago segurou a lateral do meu braço, com uma feição calma, mas em seus olhos era possível distinguir a preocupação em que estava. Ele tentava demonstrar tranquilidade, como se quisesse que eu não temesse algo.

-Senhorita Fell, aguarde em sua mesa por favor - Iago me disse. 

O homem deu um tapa na mesa, nos pegando de surpresa. O som ecoou pela sala de forma ensurdecedora e parecia repetir em meus ouvidos como um aviso para o nível de seu stress.

-Ela fica - ele rosnou com um olhar sanguinário. 

O aperto de Iago em meu braço se tornou mais firme. Algo em seu pai o amedrontava. 

Mas eu não sentia medo dele. Obviamente, a possibilidade de ser demitida estava me perturbando, mas não sentia medo do senhor Moonlight como pessoa. Já Iago, parecia teme-lo de todas as formas. 

-Eu já disse que ela não tem nada a ver com isso - Iago repetiu, tentando parecer firme. 

O homem o encarou, surpreso por sua reluta. Era notório que aquela era a primeira vez que Iago levantava a voz para o seu pai.

-E eu não pedi sua opinião - o respondeu. 

Toquei levemente a mão de Iago e o olhei com confiança. 

-Tudo bem, senhor Moonlight, eu estou bem - lhe disse. 

Ele me analisou por alguns segundos. 

-Você não é obrigada a ficar aqui - ele sussurrou. 

-Se ela quiser o emprego dela, ela não vai sair dessa sala - Jacobs Moonlight me ameaçou. 

O estudei por um momento. 

Aquilo não soou como um aviso de demissão. Mas entendi o recado. Se eu saísse daquela sala provavelmente seria demitida. 

-Iago, não se preocupe, eu realmente estou bem - lhe tranquilizei. - Vamos ouvir o que seu pai tem a dizer. 

-Emma... - começou a falar. 

Levei minha mão ao seu ombro, onde o alisei com suavidade. 

-Confie em mim, eu não sou uma criança - lhe disse. - Teremos uma conversa adulta e, independente do resultado, apenas apresentarei meu lado da história. 

Lancei um sorriso para ele.

Pareceu surtir efeito e o rapaz balançou com a cabeça. 

-Tudo bem, Emma - finalmente cedeu. - Mas estarei o tempo todo ao seu lado. 

Balancei a cabeça em concordância. 

-Eu sei disso, Iago. 

Novamente a porta se abriu e Marcos apareceu na entrada. Seus olhos fuzilaram minha mão no ombro de Iago, mas logo ele se recompôs e entrou no local. 

-Mandou me chamar? - a pergunta foi direcionado ao senhor, que até então apenas analisava tudo em silêncio. 

O homem rodou na cadeira e abriu um sorriso cheio de malicia que fez com que meus piores tremores viessem a tona. 

-Então agora sua nova diversão é namorar a secretária do seu irmão? - perguntou com desdém. 

Iago cerrou os punhos e toquei seu cotovelo para que acalmasse. 

Marcos estava inexpressivo, me fazendo sentir falta de sua versão da noite passada. 

-Não temos esse tipo de relacionamento - foi o que ele se limitou a dizer. 

Suas palavras saíram de forma endurecida, como uma navalha que realiza um corte afiada em minha garganta. Meu coração diminui um pouco em meio peito, mas aquilo serviu para me deixar um pouco mais conformada com nossa atual realidade. 

-Não é o que as fotos me contam - o senhor disse. 

-Eu estava apenas lhe dando uma carona até o hospital - Marcos respondeu.

O senhor Moonlight soltou uma gargalhada, porém não havia humor na forma como se expressava e o som rouco me causava calafrios. 

-Não minta para mim, Marcos - o homem gritou. 

As veias em seu rosto saltaram e sua pele tomou um tom vermelho.

-Você levou roupas caras para ela e ainda a trouxe para o trabalho hoje - outro grito saiu por seus lábios. 

Iago me estudou, os olhos atentos nas roupas que eu usava.

Eu não tinha resposta e Marcos parecia tão estático quanto eu. 

-Não sei o que tem com essa mulher - ele falou. - Mas ambos terão que arcar com as consequências.

Iago deu um passo a frente, impaciente. 

-Quais as consequências? - ele perguntou com preocupação. 

O senhor Moonlight o encarou e por fim seu olhos alcançaram os meus. 

-Nossas ações estão mais valorizadas depois desse incidente - ele disse. - Preciso que confirmem o namoro. 

Respirei fundo.

A história era semelhante aos livros e fics que eu lia, mas não me sentia como as mocinhas. Eu estava completamente indignada com aquela proposta. Não que a ideia de namorar Marcos fosse ruim, mas o ato de fingir era repugnante...

-E se não toparmos? - Marcos perguntou prontamente. 

Uma risada maléfica se esgueirou pelos lábios do senhor. 

-Então ela que encontre outro emprego - ameaçou. - Mas creio que essa opção seja ruim para a moça, já que ela arca com o tratamento de sua mãe. 

Todos os olhares caíram em cima de mim. Tanto Iago quanto Marcos estavam preocupados e estampavam isso em suas expressões. 

-Senhorita, pense bem - o homem começou a falar. - Se sair por essa porta eu me encarrego de que você não consiga nenhum trabalho em uma boa empresa novamente, mas se ficar e aceitar minhas condições, além de pagar o tratamento de sua mãe, também lhe darei ótimas oportunidades.

E o mundo pareceu ruir bem debaixo dos meus pés. Então aquela era a sensação de desespero que as protagonistas enfrentavam?

BordôOnde histórias criam vida. Descubra agora