Minha mãe já havia começado a tirar a mesa e Marcos a ajudava, mesmo diante das relutas e ameaças da mulher.
-Se você tocar nessa louça suja, eu vou te acertar com essa colher - a ouvi gritar.
Marcos encarava a pia com a esponja em uma de suas mãos.
-Senhora, eu comi duas pratadas, o mínimo que posso fazer é ajudar com a louça - ele choramingou.
Minha mãe chacoalhou a colher na frente do rapaz, como se segurasse uma espada. A tentativa de parecer ameaçadora estava me provando risos, que confesso ter tido um esforço tremendo para segurar.
Marcos, aparentemente, também enfrentava a mesma batalha que eu. Divido entre manter a postura séria, eu rir da senhora a sua frente.
-Emma, tire seu namorado da minha cozinha - ela disse, com um sorriso triunfante.
Assenti e fui em socorro do pobre rapaz.
Ele resmungou algo que não ouvimos e lavou suas mãos cheias de sabão.
-Agora, as crianças podem ir para a sala - ela disse em tom autoritário.
Revirei meus olhos e, com as mãos sobre as costas de Marcos, comecei empurra-lo. Não fiz muita força, pois o homem se deixou ser facilmente conduzido.
-Sua mãe consegue ser assustadora - ele sussurrou quando finalmente alcançamos um local seguro.
-É porque você não viu ela cozinhando - confidenciei. - Evite a cozinha a todo custo quando a senhora Fell estiver pilotando o fogão.
Ele sorriu.
Um sorriso amigável e cheio de bons sentimentos.
Eu me sentia cada vez mais confortável ao seu lado, a presença de Marcos se tornava cada vez melhor para mim e ter ele ao meu lado naquele momento era tudo que eu precisava.
-Obrigada - ele disse de repente.
Me acomodei no sofá e indiquei que se sentasse também. Por sorte (ou muito azar), ele se acomodou ao meu lado.
Talvez fosse meu psicológico, mas senti um forte cheiro amadeirado penetrar por meu nariz. Deduzi que seria seu perfume, atuando de forma inebriante e sedutora.
-Seja qual for o motivo que esteja utilizando para agradecer, não é necessário - finalmente lhe respondi.
Ele encarou a televisão desligada, o sorriso gradativamente sumindo de seu rosto.
-Já pensou sobre o que meu pai disse? - perguntou mudando drasticamente o assunto e trazendo a tona minhas preocupações.
Olhei na mesma direção que ele.
Os problemas voltaram para o meu colo, mais uma vez.
-Pensei - disse.
-E qual conclusão chegou? - perguntou, tentando não demonstrar preocupação.
Mas era notório que estava tão ansioso quanto eu. Suas mãos apertavam disfarçadamente sua calça jeans, enquanto ele tremia uma de suas pernas.
-Antes, posso te fazer uma pergunta?
Ele apenas balançou a cabeça e se virou em minha direção.
Naquela altura da conversa, já sussurrávamos em um tom quase inaudível. Marcos era esperto e já havia percebido que tentava esconder aquela história da minha mãe. Não precisei lhe dizer, ele apenas agia com cautela e discretamente.
-O que você pensa de tudo isso? - o questionei.
Seus olhos ficaram neutros, como se ele tentasse esconder suas reais intenções. Não havia uma expressão que pudesse ser classificada em seu rosto. Apenas alguém que vestia uma máscara em uma tentativa desesperada de não se expor.
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Bordô
RomanceTudo parecia bem para Emma. Aceita como secretária do presidente de uma grande empresa, agora seu único desafio era agradar o enigmático Marcos Moonlight, que infelizmente surge como um grande obstáculo para que permaneça em seu emprego. Conhecido p...