Não sei por quanto tempo caminhamos, até que senti a primeira gota em minha bochecha.
Não havia sinal de celular e nem um mapa para que pudéssemos nos orientar, sendo assim, estávamos completamente perdidos.
-Esse caminho não faz nenhum sentindo - ouvi Marcos resmungar e tomar uma direção completamente diferente.
Revirei meus olhos impaciente.
No entanto, bem ao horizonte, algo me chamou a atenção.
-Aquela é uma casa na árvore? - apontei na direção.
Marcos direcionou seu olhar para onde eu indicava e pareceu contente.
Logo a frente uma pequena colina, com uma enorme arvore em seu centro. Abaixo das folhas uma simples estrutura de madeira.
-Vamos, precisamos nos abrigar antes da tempestade - ele disse.
Instintivamente, seus dedos contornaram o meu pulso, me puxando em direção ao local. Porém, meu corpo não conseguiu acompanhar o toque e o puxão repentinos, resultando em um belo tombo sobre a areia úmida.
-Me desculpa, Emma - Marcos disse tentando conter o riso.
Dei um soco na areia fofa.
-Você fez de propósito - o incriminei.
O rapaz abriu um sorriso inocente.
-Jamais seria capaz de ferir minha mulher - ele disse em um tom forçado que não combinava em nada com a expressão em seu rosto - Agora se levanta, precisamos chegar a casa antes da chuva.
Comecei a erguer meu corpo, mas assim que sustentei meu peso no pé direito uma dor irradiou pela extensão da minha perna.
-Você está bem? - Marcos perguntou já se abaixando para chegar meu pé.
O encarei com preocupação.
A chuva não demoraria muito a cair e as páginas de fofoca não poupariam comentários a respeito.
-Pode ir sem mim - falei em um tom dramático.
O rapaz soltou uma doce risada.
-Isso não é um filme, Emma, não corremos risco de vida no momento - agora era a vez de Marcos revirar os olhos. - Venha, eu te levo em minhas costas.
Comecei a me mexer, me distanciando do homem.
Que tipo de mocinha empoderada eu era? Quantas vezes eu teria que bancar a pobre garota indefesa?
-Emma, não seja teimosa - Marcos parecia impaciente. - É isso ou eu te pego a força.
Ele começou a caminhar em minha direção, deixando bem ilustrado que sua ameaça não era sem fundamento.
-Ta bom - falei agitando meus braços para que ele parece seus movimentos sorrateiros.
O homem sorriu e em seguida se virou de costas para mim, ajoelhando até que ficasse em uma boa altura para eu me agarrar em seu dorso.
Me aproximei, relutante.
Meus braços contornaram o seu corpo e senti suas mãos me içarem pelas minhas pernas, um toque firme, mas suave. Entrelacei meus pés na frente de sua barriga e acomodei minha cabeça próximo ao seu ombro.
O cheiro de Marcos era inebriante. Um aroma de perfume amadeirado e característico de homens que não prestam. Porém, sentir aquele aroma em meu nariz me trazia sempre bons sentimentos.
Fiquei tão entretida com Marcos e seus feromônios sendo exalados que levei um susto quando a segunda gota alcançou minha bochecha, diferente da primeira essa era mais volumosa e gélida, tocando minha pele como uma agulha afiada.
Levantei a cabeça assustada, notando que já estava próximo a copa da arvore.
-Estamos chegando, pequena - o ouvi dizer.
A árvore se erguia de forma majestosa a nossa frente, em sua raiz uma delicada construção em madeira, como uma simples cabana. Em um galho grosso havia uma outra estrutura de madeira, com uma pequena escada de corda pendurada. As folhas escondiam o segundo andar da construção perfeitamente e só podemos nota-lo ao nos aproximar.
-Nossa - ouvi Marcos falar. - Alguém deve ter amado passar as férias de verão aqui.
-Realmente - concordei, maravilhada com o local.
A vista da colina era ainda mais bela.
Era possível enxergar toda a propriedade, inclusive a sede da fazenda.
-O bom é que sabemos o caminho de volta - comentei.
Marcos olhou na mesma direção e riu.
-Vamos esperar a chuva passar - disse, entrando no primeiro piso da cabana.
O local estava empoeirado, mas havia um armário ao fundo.
-Já posso descer - anunciei para Marcos, que aparentemente não se importava com o peso a mais em suas costas.
-Perdão - ele disse se abaixando para que meus pés alcançassem o chão.
A dor voltou a irradiar para a minha perna, porém suportável.
-Segura um instante que vou ver o que tem no armário - Marcos disse, indo ao fundo da sala.
Ao abrir as portas encontramos tapetes, almofadas, cobertores e coisas do gênero.
Caminhei até uma porta minúscula na lateral da parede e a abri, revelando um pequeno depósito, com uma vassoura na lateral.
Comecei a varrer uma parte do chão enquanto Marcos vasculhava o armário. O rapaz estendeu um tapete quadrado no chão, com algumas almofadas e cobertores.
O tapete não era grande, mas o suficiente para que pudéssemos deitar.
-Sente-se - disse Marcos.
No mesmo instante a chuva começou a cair severamente sobre o telhado, seguido de uma lufada de vento perigosa.
Me sentei ao lado de Marcos, encarando o teto e me questionando se ele aguentaria todo aquele impacto.
O rapaz cobriu meu corpo com uma colcha fina, mas quente.
-Não se preocupe - o ouvi sussurrar ao meu lado. - Pelo que percebo, essa casa tem muito tempo e provavelmente foi projetada para resistir a essas tempestades, já que são comuns na região durante esse período.
Seu olhar estava concentrado em um objeto desposto no canto. Algo semelhante a um toca fita.
-Quem ainda usa esse tipo de velharia? - o ouvi conversar sozinho enquanto caminhava em direção ao local.
Aproveitei sua ausência e me deitei sobre a almofada.
-Deseja ouvir uma música, Emma? - perguntou.
O encarei, seu olhar estava infantil e como se estivesse preparado para aprontar.
-Sim, eu adoraria - disse.
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Bordô
RomanceTudo parecia bem para Emma. Aceita como secretária do presidente de uma grande empresa, agora seu único desafio era agradar o enigmático Marcos Moonlight, que infelizmente surge como um grande obstáculo para que permaneça em seu emprego. Conhecido p...