Capítulo 36

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Já era sexta feira e lá estava eu esperando Marcos com uma mala nas mãos em frente ao meu prédio.

Os últimos dias tinham sido muito agitados.

Descobri diversas tentativas de fraudes as quais tentaram vincular o nome de Iago, que por consequência ficou furioso ao saber dessas notícias. O contrato que Crissa havia tentado proteger com tanto fervor era ocupando o primeiro lugar nessa lista de insatisfação. Ao ler o documento percebi que para a fusão com a Miller haviam sido deixado brechas financeiras para o desvio de verba. Iago iria ser reunir na segunda com os responsáveis e meu papel era destrinchar linha por linha daquela arquivo.

O principal objetivo de Iago era descobrir quem estava tentando derrubar ele e obviamente suas suspeitas estavam totalmente direcionadas a seu irmão Marcos.

A ideia de um fim de semana tranquilo não estava nem perto de acontecer. Jacobs ficaria desapontado, mas a probabilidade dos dois voltarem se odiando era imensa.

Eu segurava o documento em minhas mãos, encarando ele com ódio. Não quero acreditar que Marcos seria capaz daquilo, não acho que ele seria tão baixo.

O som de uma buzina me desprendeu de meus pensamentos, fazendo com que eu saltasse levemente com o susto.

-Não vai subir, amor? - Marcos gritou do outro lado da rua. Seu olhar estava preocupado.

Balancei a cabeça e andei em direção ao carro. Marcos já havia saído, indo de encontro a mim no caminho. Suas mãos contornaram minha cintura e me puxaram para um caloroso abraço. Sentir seu toque me fez derreter um pouco em seus braços e a aproximidade permitiu que eu me deliciasse com o seu aroma.

Por fim, ele se afastou com relutância e pegou a bagagem em minhas mãos.

-Eu cuido disso - ele disse falou docemente. - Vá se sentar no carro.

Contornei o carro e me acomodei no banco do carona.

Os papéis dispostos sobre o meu colo, enquanto eu os encarava como se minha vida dependesse daquilo.

-O que é isso? - Marcos perguntou curioso. - Já a a segunda vez que pego você olhando para isso como se estive com uma faca em seu pescoço.

Só então percebi que ele já estava posicionado atrás do volante e pronto para partir.

-O contrato de fusão com a Miller - lhe contei assim que ligou o carro.

Aquele era meu voto de confiança em Marcos, mas confesso que meus olhos foram automaticamente direcionados ao rapaz, esperando alguma reação que entregasse seu papel naquela trama. No entanto, ele parecia irritado.

-Eu já dei minha opinião ao papai - disse. - Essa fusão é um tiro no pé. Não há necessidade de nos ligarmos a essa empresa. Tudo bem que a proposta deles inclui uma pequena parcela de nossas ações, mas não acho que seja o momento. Estamos no auto patamar e uma fusão com uma empresa pequena nos fará descer dois níveis.

Ele tinha uma feição de um empresário. Mas a forma como falava.... Ele não sabia...

-Então você é contra a fusão? - o questionei.

Marcos riu com sarcasmo.

-Mas Iago nunca me ouviria - disse com desgosto. - Aquele idiota sem noção. Faz de tudo para agradar o conselho.

Meus olhos estavam constantemente lhe analisando, procurando desesperadamente uma reação diferente daquela, algo que confirmasse as suspeitas de Iago. Se Marcos não estava envolvido naquilo, alguém deveria estar.

-Você tentou conversar com Iago, pelo menos? - o questionei.

Finalmente sua atenção se direcionou a mim, assumindo um tom de cautela.

-As vezes me esqueço que você é o braço direito dele - disse, retomando sua atenção para a estrada. - Deixa isso para lá, Emma.

Droga, eu o havia despertado. Marcos a partir de agora teria cuidado com o que falasse ao meu lado.

-Ainda sou sua noiva - eu disse com ironia. - Acho que tenho um pé nos dois lados da história.

Marcos deu de ombros, como se não fizesse diferença.

-Mas não deixa de ser o braço direito dele - constatou a contra gosto.

Suspirei, desejando que essa rivalidade entre aqueles homens fosse algo mais simples e fácil de lidar (mesmo que já soubesse a resposta). 

-Emma - ele me chamou.

O olhei, procurando algo em seu olhar, mas ele encarava o trânsito com veemência.

-Sim? - o respondi, indicando que poderia prosseguir.

-O que meu pai te pediu aquele dia? - perguntou.

Desde a cena de rivalidade aquele dia, Marcos havia se distanciado. O informei que iria aproveitar esses dias para ficar um pouco ao lado de minha mãe, já que segunda ela iniciaria o tratamento no hospital e eu me mudaria para meu novo lar. Mas ainda assim, ele me levava em casa todos os dias em silêncio.

-Para eu tentar aproximar você e seu irmão - falei com sinceridade.

Marcos suspirou.

-Acho difícil a tarefa que ele te designou - disse, mas não com sacarmos e sim com amargura.

-Agora é minha vez de perguntar e sua vez de responder com sinceridade - o desafiei.

Ele pareceu preocupado, mas assentiu.

-Por que você o odeia tanto?

Marcos continuou encarando a estrada, os olhos fixos e concentrados. Ficamos em silêncio por um longo tempo, até por fim ele falar algo.

-Foi a muito tempo... - começou a contar. - Até que éramos bons amigos e eu estava disposto a ser seu vice presidente na empresa. Mas tudo mudou quando ele me fez assinar aquele documento... Era uma contratação... E saímos lesados... - as pausas dramáticas deixavam a história cada vez mais triste, como se Marcos estivesse se contendo para não chorar. - Meu pai quase me expulsou da empresa, por sorte Kev me ajudou e conseguiu reverter a situação... Mas Iago... Oh! Iago que havia me entregado o documento....

O encarei perplexa.

Era notório o quanto aquilo o magoava. A forma como contou a história deixava claro a admiração que tinha por Iago e como tudo desmoronou por conta daquela única pessoa.

-Como castigo, meu pai de mandou para a filia de Nova York e assim que retornei, Iago ocupava a cadeira da presidência - ele soltou um suspiro. - Sabe o quanto é revoltante ver um cara, que não ler os documentos que assina, sentado na maior cadeira da empresa?

A armadura sobressaia em cada palavra pronunciada, como um aviso a si mesmo de que aquilo era inadmissível.

-Não se preocupe, Iago não assinará nada sem a minha verificação - falei, tentando lhe tranquilizar. 

Marcos encarou o documento em meu colo. 

-Por favor, faça isso - disse. - Leia atentamente cada documento, ou a empresa que meu pai tanto trabalhou para construir irá a falência. 

O olhei perplexa. 

-Falência? - perguntei aterrorizada. 

O rapaz bufou. 

-Pelo visto você não sabe da missa o terço - falou. - O ultimo desfalque de Iago foi amenizado por meu pai, que tirou dinheiro do próprio bolso para cobrir o buraco que Iago deixou no financeiro. Mesmo sendo rico, se meu pai não tomar cuidado, em algum momento não terei uma empresa para ser vice presidente. 

Os problemas eram maiores do que eu imaginava e não julgo a raiva de Marcos com relação a seu irmão mais velho. Mas as versões dos fatos eram completamente diferentes.

Para Marco, Iago era um incompetente. Para Iago, Marcos estava constantemente tentando derruba-lo. 

O que me apavorava é que ambos pareciam dizer a verdade.

-Você pode dormir, se quiser - Marcos cortou o silêncio de repente. - A viagem vai levar algumas horas, então pode descansar. 

Assenti e recostei minha cabeça na poltrona, entrando em um sono profundo. 

BordôOnde histórias criam vida. Descubra agora