Capítulo 38

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A caminhada até a recepção consumiu todo a minha sanidade mental. Não conseguia notar nem os detalhes nas paredes ou admirar os quadros pendurados. Minha visão estava apenas focada naquela maldita toalha e naquele corpo delineado perfeitamente. 

A imagem de Marcos constantemente sendo revelada em meus pensamentos, como um aviso sobre os perigosos nos quais estava me envolvendo.

-Emma - Iago chamou. 

Já era meu segundo susto naquela manhã, porém agora a imagem não envolvia alguém semi nu a minha frente. 

-Bom dia, Iago, dormiu bem? - perguntei, recuperando meu folego. 

-Desculpa, não foi minha intenção assusta-la - respondeu. 

O homem olhou em direção ao caminho pelo qual eu havia vindo e depois sua atenção retomou a mim. 

-Marcos não veio? - perguntou parecendo contente com as constatação. 

Iago era o tipo de homem bem expressivo, mesmo que em alguns momentos fosse difícil descobrir sobre o que esta pensando, naquele momento eu conseguia ver seus pensamentos pela felicidade estampada em seus sorriso.

-Ele ainda esta tomando banho, resolvi vim na frente, estou com fome - menti.

Iago era esperto. Seus olhos automaticamente se estreitaram e ele voltou a olhar em direção ao caminho. 

-Se sentiu desconfortável, né? - perguntou. 

Desconfortável não era bem a palavra, estranhamente estar perto de Marcos era mais fácil do que eu imaginava. Mas tinha que reconhecer que Iago tinha uma ótima intuição e boa percepção.

-Mais ou menos, ainda é estranho por não termos esse nível de intimidade - sussurrei ao notar que uma camareira passava pelo local. - Mas Marcos respeita os limites. 

Voltei a caminhar em direção ao cômodo indicado para o café da manhã. 

O hotel escolhido era bem simples, mas aconchegante. Por ser um local pequeno, ficava fácil se localizar dentro dele. 

-Fico contente que ele não esteja confundindo as coisas - falou após um suspiro. 

Não gostava do fato de omitir informações de Iago, mas não poderia lhe contar a respeito de minha relação com Marcos. Aquele não era o momento. 

Alcançamos finalmente a mesa com o café da manhã e nos servimos, sentando próximo a janela. 

No local estávamos apenas eu e Iago, o que tornava tudo silencioso demais. 

-Nossa saída esta programada para as oito - comecei a falar sobre trabalho, era a única coisa que conseguia pensar naquele momento. - Seu pai prefere que façamos uma visita a fazenda primeiro e depois a fábrica. Então na parte da manhã nos dedicaremos a conhecer o fornecedor da fábrica. 

Iago levou  um generoso pedaço de mamão a boca, mastigando lentamente o alimento. 

Era evidente que ele estava me provocando. 

-Emma, por favor, coma - ele indicou meu prato. - Depois do café da manhã decidimos nosso itinerário. 

Assim como ordenado, comecei a comer um delicioso lanche natural que furtei da mesa. 

Iago pareceu contente com o ato. 

-Achei que fosse fazer um discurso ou algo do gênero - comentou.

O olhar do rapaz estava direcionado para a paisagem além do vidro,

-Quando se trata de comida, não compensa muito discutir - falei.

No mesmo instante lembrei de Marcos me carregando forçadamente para me levar para comer. Era hipocrisia minha ter dito algo assim?

Porque eu agia de forma tão diferente com os dois irmãos?

-Vejo que não me esperaram - Marcos anunciou sua chegada ao local.

Olhei para a entrada e o rapaz estava parado a porta, me encarando. Havia malícia na forma que me olhava, uma mensagem que somente eu entendia. Com os pensamentos que se esgueiravam em minha mente, logo senti minhas bochechas queimarem. 

Virei o rosto brutalmente, cortando nosso olhar. 

-Está tudo bem Emma? - Iago tocou levemente o meu rosto antes de falar.

Enfiei um pedaço de doce na boca e apenas murmurei em concordância. 

Marcos já estava próximo e fuzilava a mão de de Iago na minha bochecha. 

-Peço que não realize esse tipo de demonstração de afeto em público - ele sussurrou em tom de nervosismo. - O que irão pensar de uma mulher casada que aceita esse tipo de carinho?

Revirei meus olhos e me distanciei do toque de Iago, que parecia irado com o rapaz. 

-Bom dia, Marcos - Iago disse com rispidez. 

-Bom dia, Iago - falou ao se direcionar a seu irmão, em seguida sua atenção se voltou para mim. - Bom dia, meu amor. 

Marcos se inclinou e depositou um delicado beijo em minha testa. 

Apenas sorri. 

O homem se virou e foi a mesa onde estavam os alimentos, aproveitando para se servir. 

Iago me olhou por alguns segundos. 

-Não se preocupe - disse. - Não iremos brigar nessa viagem. 

As palavras reconfortantes me pegaram desprevenida. Estava tão evidente que eu temia uma reação explosiva dos dois?

-Fico feliz em ouvir isso - falei e comi mais um lanche natural. 

O restante do café da manhã se seguiu em silêncio. Ninguém se arriscou a falar nada. Quem seria louco ao ponto de dizer uma palavra sequer?

O silêncio se perdurou dentro do carro, mesmo que antes tivesse tido uma pequena rivalidade para decidir quem levaria o carro:

-Creio que eu sou melhor motorista - Iago bravejou. 

-Eu dirijo melhor que você - Marcos revidou. 

Até que por fim, optaram por decidir em um pedra, pau ou tesoura. Marcos foi o perdedor e se acomodou no banco do passageiro com a cara emburrada.

O clima se tornou ainda mais pesado, transformando os trinta minutos que levaríamos até a fazenda em uma eternidade. 

BordôOnde histórias criam vida. Descubra agora