Capítulo 39

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O caminho, mesmo que sem ruídos, foi reconfortante. Consegui por um tempo não me concentrar apenas naquele momento, ainda que o percurso tivesse se arrastado, devido a falta de interação, aquele momento foi crucial para que avaliasse o ambiente ao redor.

As lindas colinas no horizonte, os pastos verdes, os animais que se deslocavam livremente. Tudo aquilo compunha a paisagem de uma forma magnífica e detalhista, permitindo que cada centímetro daquela obra viva fosse um detalhe essencial.

Percorremos um extenso corredor de árvores, até por fim alcançarmos um porteira marrom envelhecida pelo tempo.

O rapaz sorridente abriu a porteira e indicou que seguimos pela trilha logo a vista.

Ao chegarmos próximo a sede da fazenda, logo fomos recebidos por uma linda mulher de longos cabelos castanhos e um sorriso vivido nos lábios. 

-Bom dia, senhores Moonlight - ela parecia enfeitiçada pelos belos homens a sua frente. - Como foi a viagem?

Ela estava me ignorando de propósito?

-Tranquila, obrigada - Marcos respondeu, mas não olhava em direção a mulher, que ficou desapontada. 

-Me chamo Emília e irei acompanhar vocês na excursão pela fazenda - voltou a dizer animada.

Iago e Marcos se encararam. 

-Claro senhorita Emília, mas onde esta o proprietário? - perguntou Iago, apreensivo. 

Ela deu de ombros, como se aquilo fosse irrelevante. 

-Meu pai esta cuidando do pasto, encontraremos ele logo - disse. 

Os rapazes assentiram e começaram a seguir a menina que indicava o caminho com uma das mãos.

Marcos aguardou, enquanto eu me aproximava e ficamos encarando a silhueta de Emília e Iago a nossa frente. 

Caminhamos lado a lado, em silêncio, enquanto ouvíamos a garota falar a respeito de sua paixão pelos negócios da família. Seu discurso era completamente voltado para a necessidade de engrandecer sua pacata fazenda, mas, ao contrário do que nos havia dito, nada nos era dito a respeito do terreno.

Caminhamos um pouco mais, além da sede, seguindo em direção a uma cerca azul que contornava uma vasta extensão de terra. Dentro do cercado uma grandiosa plantação de uvas se estendia até os limites da visão.

-Esse é nosso tão amado vinhedo - cantarolou a mulher, finalmente fornecendo uma informação importante. - Está sob os cuidados da família a gerações.

A mulher abriu uma pequena porteira e respirou fundo.

-Não há como não se apaixonarem pelo doce gosto de nossas uvas - ela falou.

A mulher, juntamente com Iago ao seu lado, caminhou em meio as árvores.

Não pude evitar, logo estava suspirando e forçando o aroma de areia molhada entrar pelo meu nariz. Um cheiro característico da minha infância, logo após a chuva que caia sem avisar.

-Cadê eles? - Marcos perguntou de repente.

Encarei o caminho a nossa frente e depois o caminho que havíamos tomado para chegar ali.

Mesmo que as árvores estivessem aparentemente organizadas, elas seguiam seu próprio padrão, como se fossem divididas em quadrantes.

Estava tão envolvida em meus pensamentos que não percebi o padrão de cada quadrante, enfim, isso resultou em dois adultos perdidos em uma plantação.

-Você prestou atenção no caminho? - o questionei.

O olhar confuso de Marcos deixou bem claro que ele não havia feito isso.

-E você, prestou atenção? - retrucou.

-Esse não é o momento - respondi.

Encarei o céu.

-Quanto tempo se passou? - perguntei.

-Talvez uns quinze minutos - disse depois de uma longa pausa.

Apontei para o céu.

-Em que momento que o céu ficou tão fechado? - perguntei.

Encarei as nuvens densas que tomavam a paisagem, jurando que aquele mesmo céu estava azul e limpo a pouco tempo.

-Droga, isso não tá com uma cara boa - ouvi Marcos falar, enquanto olhava para todas as direções possíveis em busca de ajuda.

Respirei fundo.

-Vamos acha a saída - falei.

Marcos encarou o caminho a nossa frente.

-Mas e Iago? - perguntou.

Mesmo que tentasse esconder, ou até mesmo disfarçar, Marcos se importava com seu irmão mais velho. Ainda que brigassem pelo poder, ele não lhe deseja o mal.

-Ele estava com Emília, creio que para ele seja mais fácil encontrar o caminho de volta - o respondi.

O rapaz concordou com a cabeça e começamos a caminhar.. sem rumo.. mas procurando o caminho de volta.

BordôOnde histórias criam vida. Descubra agora