Capítulo 32

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-Mamãe? - perguntei assim que passei pela porta. 

Minha voz ecoou pelo espaço, como nos filmes de terror. Eu já conseguia imaginar minha mãe segurando um faca com olhar sanguinário e correndo em minha direção de forma assustadora. 

Pedi para que Marcos não me acompanhasse. 

Eu sabia que ter ele ao meu lado não era o melhor recurso para amansar a fera, isso só a irritaria mais e provocaria uma grande avalanche. 

Eu precisava arcar com as consequências das minhas decisões, porém não sabia o que eu faria para explicar para minha mãe os boatos e o fato de eu ir para sua casa. Normalmente, minha mãe é uma pessoa muito inocente, mas mentir para ela estava fora dos meus padrões de caráter. 

Havia um silêncio na casa, nenhum barulho ou ruído isso só intensificava meus pensamentos e me deixava mais apreensiva a cada passo. 

Caminhei um pouco e encontrei minha mãe com o celular em sua mão, encarando a tela do aparelho. 

-Vejo que pegaram você e o Marcos - ela disse com desanimo, mesmo que não tenha me visto entrar, ainda assim ela sabia que eu estava ali. - Mas casamento? Esse povo não tem mais o que inventar?

Ela não parecia magoada, mas notei que estava triste. 

Seus olhar se levantou e ela analisou a roupa em meu corpo. 

-Você dormir com ele só faz com que os boatos piorem - ela bufou como se eu fosse uma criança de dois anos de idade que ainda tinha muito a aprender. 

Preocupação, esse era o sentimento em seu rosto. 

Minha mãe era minha melhor amiga e ela me conhecia melhor que eu mesmo. Bastou um olhar e ela logo percebeu tudo que havia acontecido entre eu e Marcos. 

-Minha doce filha, tem que ser mais cuidadosa - a ouvi murmurar. 

-Sobre o casamento - comecei a falar. - Eles acharam melhor fazer dessa forma para que eu não ficasse mal na fita. 

Me acomodei em uma cadeira e comecei a descaçar uma banana, evitando seu olhar. 

-Mesmo assim, vocês tão na fase do flerte, casamento é uma ova - ela disse em um tom bravo e logo em seguida deu um tapa na mesa. 

Respirei fundo. 

-Mãe, eu nem ligo, para falar a verdade - disse. 

Eu ligava muito. Tudo aquilo era um novelo de mentiras e que somente agora eu notava a gravidade. As mocinhas dos romances deixavam transparecer que essa seria a reviravolta mais esplendida na vida de uma mulher, porém eu só conseguia ver os contras. 

Cheguei ao ponto de mentir para a minha mãe. Estava sendo perseguida por repórteres. E para finalizar, todo o país sabia desse casamento falso.

-Emma, você não é mais uma criança e eu não posso dizer o que deve ou não fazer, mas isso já é algo extremo - ela disse com seriedade. 

Seu olhar carregava aquele sentimento de autoridade. Ela já olhou assim para mim algumas vezes, em uma delas eu tinha cortado o cabelo da minha colega na pré escola e a chamaram na direção. Confesso que estava brava com a garota que havia roubado meu lápis de cor rosa, mas minha mãe me olhou com aquele olhar e disse "Foi isso que eu te ensinei, Emma?". 

A diferença é que naquele dia eu chorei e ela esqueceu a situação, agora eu não poderia usar a mesma tática. Mesmo que quisesse desesperadamente chorar. 

-Estou ciente disso e prometo que irei me cuidar, Marcos também não deixará que nada aconteça comigo - falei, tentando lhe passar algum tipo de segurança. 

A frase foi direcionada a ela, mas de certa forma eu precisa ouvir aquilo para saber que se tudo desmoronasse, pelo menos Marcos estaria ali para me ajudar. Eu queria fortemente acreditar que ele me ajudaria a sair daquela situação em seis meses. 

-Você confia muito nesse rapaz - ela disse com um olhar analítico. - Estou feliz por ter encontrado alguém, não me entenda mal, mas você não é muito experiente nessas coisas então tome cuidado. 

Uma risada gélida se sobressaiu de meus lábios. 

-Experiente? - me vi perguntando com sarcasmo. 

-Emma, sou muito agradecida por toda a ajuda e por sempre estar comigo, mas desde que descobrimos a doença você só pensa em trabalho, perdeu suas amizades e nunca te vi com um cara. Agora, de repente, você esta noiva de um homem que acabou de conhecer? - ela foi até a geladeira e encheu um copo com leite, em seguida se sentou próximo a mim. 

Minha mãe era alguém muito perspicaz. 

-Irei me cuidar, mãe - falei. 

-Sei que vai, mas tenho medo que não cuidem de você - a ouvi sussurrar. - Essas pessoas vivem uma realidade diferente da nossa, Emma. Em algum momento vocês podem não conciliar essas diferenças e tudo pode dar errado. 

Apenas assenti, incapaz de proferir qualquer outra mentira. 

Ela tinha razão. Eu sairia daquele acordo com um cargo em outro empresa e não veria a família Moonlight com frequência. Talvez até mesmo Marcos se canse de nosso relacionamento e aja como se eu fosse apenas mais uma transa em sua lista. 

Não poderia esperar muito de tudo aquilo. 

-Deixando as más noticias de lado, tenho uma novidade - falei. 

Minhas respostas agora teriam que ser com cautela. Ela analisaria cada frase com desconfiança. 

-Diga - ela disse tomando o leite. 

Minhas mãos estava suando frio e minha perna teve que ser controlada para não iniciar movimentos que entregassem meu nervosismo. 

-Estava falando com Marcos sobre o seu tratamento e ele conseguiu um médico especializado muito bom, podemos começar segunda feira - falei. 

Assim como previsto, seu olhar se estreitou. 

-Conseguiu? Assim do nada? - perguntou. 

-Marcos conhece muitas pessoas e esse médico devia um favor para ele, vamos poder pagar o tratamento em suaves prestações - falei. 

Quando lhe falei sobre o pagamento, sua expressão automaticamente se suavizou. 

-Emma, você iniciou no serviço agora, não podemos comprometer nossa renda assim - ela disse com relutância. 

-Não se preocupe, o importante agora é começar uma quimioterapia adequada e eliminar o mal pela raiz - abri um sorriso confiante em sua direção. 

Ela estava hesitante, mas não parecia que iria recusar. 

-Agradece o Marcos por mim, ele é um homem incrível - ela disse.

Aquilo era o máximo que ela diria próximo a um sim, mas já era suficiente. 

Ela se levantou e caminhou até a saída da cozinha, provavelmente indo para seu quarto processar as informações. Minutos depois, me levantei e fiz o mesmo, afinal precisava me arrumar para o trabalho.

BordôOnde histórias criam vida. Descubra agora