Encarei o casarão, que já não me impressionava tanto.
Assim como prometido, Marcos estava as oitos horas em meu apartamento. Seguimos o caminho em silêncio, tanto ele como eu estava absorto demais em pensamentos para poder falar alguma coisa.
Assim que chegamos, notei os carros de Iago e Kev já estacionados próximo a entrada.
-Vejo que fomos os últimos - pensei em voz alta.
A ação despertou Marcos de seus pensamentos e ele olhou ao redor.
Hoje ele estava absurdamente lindo em seu terno bordô, camisa preto fosco e uma gravata bordada. Tudo em um combo perfeito de sensualidade e beleza.
-Parece que sim - disse.
Entramos, estabelecendo novamente o silêncio.
Um dos funcionários da mansão nos conduziu até uma sala de jantar, onde os homens aguardam sentados e conversando animadamente.
-Emma, minha doce nora - Jacobs se levantou, indo ao nosso encontro para me abraçar.
Retribuiu o ato com educação.
-Ola senhor Jacobs, como tem passado? - perguntei no intuito de manter a cordialidade.
O homem abriu um sorriso enorme, demonstrando o quanto estava feliz.
-Muito contente - ele disse dando uma piscadela.
Apenas abri um sorriso rotineiro e indiquei para Marcos que falasse alguma coisa.
-Boa noite - ele dirigiu um cumprimento a todos. Seu tom demonstrava o quão vago havia sido aquela frase.
-Vamos, se acomodem, logo o jantar será servido - Jacobs indicou duas cadeiras a nossa frente.
Nós nos sentamos.
Eu estava de frente para Kev e Marcos sentou de frente para Iago.
Meu adorado ex me encarava com curiosidade, mas sua análise logo foi interrompida pelas conversas de negócios aos quais os demais entraram.
Me senti como se tivesse em uma reunião, assim como eu, Kev permanecia em silêncio, apenas ouvíamos o que era dito. Não havia abertura para comunicação ou diálogo da nossa parte, afinal, o assunto era de gente grande.
Em meio a uma breve discussão entre Iago e Jacobs sobre o financeiro de uma montadora, Marcos se aproximou do meu ouvido e sussurrou, porporcionando arrepios por todo o meu corpo.
-Você está bem? - foi a pergunta que fez seu hálito roçar perigosamente por minha pele.
Meus olhos instintivamente foi direcionados a ele. Novamente estávamos naquele nosso mundinho, como se nada ao redor pudesse nos afetar naquele momento.
-Que casal lindo - ouvi uma voz sobressair ao meu lado.
Aquele era o momento que eu precisava para me livrar daquela sensação, pelo menos por enquanto.
Virei meu rosto e abri um sorriso educado para Jacobs.
-Obrigada - o respondi.
O homem me encarou com curiosidade.
-Aconteceu algo, doce Emma? - seu tom de voz era amigável e carinhoso.
-É óbvio que sim - Kev finalmente falou.
Minha atenção foi direcionada ao homem a minha frente, que ainda tinha aquele olhar analítico, me deixando desconfortável.
-Diga o que te aflinges, docinho - ele disse em tom provocativo.
Marcos deu um tapa na mesa e o encarou com fúria.
Péssimo momento para ciúmes, pensei.
-O nome dela é Emma - falou.
Kev o olhou por alguns segundos com deboche. Eu o conhecia, sabia que estava testando seu irmão, mas seu teatro estava passando dos limites.
-Emma, ignore esses trogloditas - Jacobs soltou uma gargalhada. - Acho que não lhes dei a melhor educação.
Apenas acenei com a cabeça, indicando que está tudo bem.
-Vamos, me contem como anda os negócios - o senhor insistiu no assunto.
Iago parecia esgotado de falar a respeito da empresa. Sua expressão deixava claro o quanto aquilo estava sendo uma tortura para ele.
-O que quer saber papa? - meu chefe disse.
O homem pareceu pensativo.
-Como está a fusão com a Miller? - questionou.
O assunto finalmente veio a tona. Aquele era o meu momento, não poderia perder essa oportunidade.
Iago me encarou por um tempo.
-Emma estava fazendo a leitura do documento que Crissa entregou - ele indicou a minha direção. - Após as correções, irei assinar os aditivos.
Jacobs me encarou por um momento, esperando que eu dissesse algo. Porém me mantive em silêncio, apenas o observando.
-Espero que logo esses documentos sejam assinados então - concluiu.
-Duvido - falei alto suficiente para que todos ouvisse.
A atenção estava em mim.
-O que quer dizer com isso Emma? - perguntou Iago.
Abri um sorriso carinhoso para ele, não éramos íntimos a muito tempo, mas esperava que ele visse aquele gesto como algo de confiança.
-Os documentos contém valores exorbitantes, além de cláusulas absurdas e entre outras coisas - falei.
Iago me encarou surpreso.
-Quem ousaria fazer isso? - ele bravejou, era nítido sua raiva. - Foi você, né - falou apontando para Marcos.
-Você está louco? - Marcos perguntou incrédulo.
Ergui a mão para que parassem.
-Não foi o Marcos - falei.
-Não o defenda, Emma, você viu o quão ardiloso seu marido pode ser - falou o homem.
-Iago, eu tenho certeza que não foi Marcos - disse com firmeza, para que entendesse o meu posicionamento. - Primeiro: no meu primeiro dia, Marcos trouxe pessoalmente os documentos que ele redigiu para vocês assinar, e ele já afirmou isso na última discussão que tiveram, que ele mesmo entrega os documentos a você. Os documentos entregues não foram redigidos por seu irmão.
Todos tinham os olhos atentos em tudo que eu falava. Senti como se tivesse um holofote em minha direção e eu fosse a principal atração daquele show de horrores.
-Eu sei quem ordenou que esses documentos fossem entregues a você - falei, instigando a todos, que ansiavam pelo desfecho daquela trama.
Era nítidos a expectativa em cada olhar daquela mesa e em como o silêncio se estabeleceu.
-Quem foi, Emma? - perguntou Marcos.
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Bordô
RomanceTudo parecia bem para Emma. Aceita como secretária do presidente de uma grande empresa, agora seu único desafio era agradar o enigmático Marcos Moonlight, que infelizmente surge como um grande obstáculo para que permaneça em seu emprego. Conhecido p...