Capítulo 47

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A horas se arrastaram naquele dia. Minha mente estava em constante atividade, sem conseguir descansar por um momento que fosse. 

Aproveitei o dia para entender um pouco mais toda aquela situação. Reuni arquivos da empresa, contratos antigos e muitas outras informações que poderiam me ajudar a mostrar o plano perverso por trás de tudo aquilo. 

-Emma - ouvi a voz de Marcos.

Encarei a entrada do corredor que dava acesso a minha mesa. Ele estava parado, como se estivesse divido entre se aproximar ou não.

Ficamos em silêncio por um momento, até por fim ele dar alguns passos a frente, mesmo que constrangido.

-Sei que deve estar brava, mas tudo que eu disse foi verdade - falou enquanto enrolava seus dedos uns nos outros, uma clássica demonstração de vergonha.

Sua cabeça abaixou logo em seguida e ele encarava as mãos como se tivesse algum problema ou formigas em sua pele.

-Emma - chamou mais uma vez, porém com uma entonação mais triste.

Confesso que também não gostava daquele clima entre nós, mas naquele momento minha relação com ele não era a prioridade dos meus o pensamentos.

Estar distante de Marcos estava me deixando cada vez mais triste, no entanto, também considerava os últimos acontecimentos. Eu sabia que suas palavras eram verdadeiras. A forma como ele cuidou de mim todos os dias não era algo fingindo. Mesmo que ele não me amasse, eu ainda conseguia sentir o carinho em seus atos.

-Não me leve a mal, Marcos - comecei a falar, cortando meus próprios pensamentos. - Mas estou com um problema muito maior.

Ele levantou o olhar e seus olhos me avaliaram com preocupação. A forma como estudava meu rosto deixava bem nítido que eu não havia me expressado da forma correta e isso fez com que o rapaz criasse as mais absurdas teorias. 

-Sua mãe está bem? - perguntou de prontidão.

Balancei a cabeça positivamente.

-A essas horas já está recebendo um ótimo tratamento em um ótimo lugar - lhe disse.

Suas sobrancelhas arquearam, indicando a nítida confusão que permeava seus pensamentos.

-O que há de errado então? - perguntou.

O encarei.

Marcos era um bom homem, mesmo que insiste em conservar uma imagem de homem frio. Suas expressões sempre tinha uma entonação sentimental.

-Posso te fazer uma pergunta? - o questionei de repente.

O rapaz pareceu hesitante, mas assentiu.

-Se tivesse um segredo importante em suas mãos, mas revelar esse segredo pode ser ruim para você e ferir outras pessoas, o que faria? - perguntei.

Eu conseguia imaginar meus olhos cheios de expectativas.

O encarava, como uma criança que aguarda um doce.

-Eu revelaria - disse.

-Mas isso pode ferir pessoas que me importo - argumentei.

Seus olhos ficaram presos em mim com atenção.

-Eu escondi de você o motivo pelo qual me aproximei - falou. - No lugar de Iago, gostaria que ele tendo a informação, ainda lhe escondesse?

Refleti sobre o que ele me dizia e realmente fazia sentindo. Mesmo que a informação tenha me magoado, ficaria ainda mais chateada se Iago a tivesse omitido. 

-Talvez você machuque algumas pessoas nesse processo, mas ser verdadeira talvez seja sua melhor opção - continuou. 

O rapaz suspirou e se virou de costas para mim.

-Sei que passar um tempo comigo é a ultima coisa que deseja nesse momento, mas hoje vai ter um almoço na casa do meu pai.. - ele parecia hesitante. - Gostaria de ir comigo?

Minha única visão era de suas costas. Talvez tenha sido o silêncio ou a minha demora em responder, mas o homem se virou lentamente e me lançou um olhar apreensivo. 

-Todos irão comparecer? - o questionei. 

Ele assentiu. 

-Tudo bem, eu irei - falei. - Bom que já esclareço algumas situações. 

O rapaz me lançou um olhar curioso, mas não disse nada, ele apenas concordou e se despediu com um breve aceno.

-Passo na sua casa as oitos, tudo bem? - perguntou, apenas.

Minha única reação foi acenar com a cabeça. Em seguida, vendo seu corpo se distanciar, até não ficar mais visível.

Eu queria um momento com ele, queria lhe dizer como me sentia, mas ainda estava insegura com meus próprios sentimentos. Talvez fosse medo, mas naquele momento eu não tinha confiança o suficiente para lhe expor esse meu lado.

Sei que esse ato o estava consumindo, era nítido a angústia em seus olhos. No entanto, aquele não era o momento certo.

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