Pelas janelas de madeira e portas, uma luz forte reluziu como um aviso. Logo a seguir um estrondo perdurou pelo céu. O barulho era assustador e marcava a força daquela tempestade.
Meu corpo se encolheu e comecei a abraçar minhas pernas em posição fetal. Uma necessidade extrema de me proteger contra aquele inimigo invisível: minhas lembranças.
Eu odiava tempestades tanto quando odiava aquele dia. Ouvir aqueles trovões sempre me traziam a tona aquela noite.
-Emma - ouvi a voz de Marcos distante, quase como um sussurro em meus ouvidos.
Mas não tinha para onde eu fugir, mesmo que tentasse me agarrar desesperadamente aquele fio de esperança, já era tarde demais e eu estava envolvida nas memórias trágicas do acidento do meu pai.
Os mesmo estrondos pareciam perfurar o céu com força, enquanto as gotas pesadas caiam sobre o carro e inundavam a via a nossa frente. Um breu se estendia pela paisagem e era impossivel distinguir qualquer forma a nossa frente.
A baixa iluminação não favorecia -em nada e até mesmo o farol do carro não apresentava nenhuma serventia.
-Como vamos chegar em casa? - minha mãe dizia com preocupação, a voz tremula e o olhar distante.
Eu ainda não entendia o que havia de tão ruim em chover. Sempre a ouvia dizer que a chuva era uma benção, mas naquele momentos os dois encaravam a estrada como se aquilo fosse algo muito ruim.
Afinal, a chuva era boa ou não?
Meu pai a encarou com aquele olhar.
Nossa, eu conhecia bem a forma como ele encarava ela naquele momento. Ele estava irritado.
Mamãe sempre me dizia para nunca irritar o papai e quando isso acontecia mamãe sempre me envolvia em seus braços e sussurrava que tudo ficaria bem com uma voz chorosa e desesperada.
Distante os estalos preenchiam o ar, mas era difícil ouvir ou até mesmo distinguir sua origem já que as mãos da minha mãe estavam ao redor dos meus ouvidos.
-Cale a boca, mulher - o homem atrás do volante gritou. Um urro quase como de um animal selvagem.
Minha doce mãe se encolheu, finalmente percebendo o erro que havia cometido.
A mão de meu pai se levantou no ar, um ultimo aviso antes da dor extrema que ele a proporcionaria.
Mas antes que minha mãe fosse atingida por sua violenta mão, uma luz forte reluziu na estrada. Todos encaramos a nossa frente, bem a tempo de ver o enorme caminhão seguir em nossa direção. Meu pai apenas girou o volante e o carro se chocou com algo rígido.
Depois disso, eu só me lembro dos estrondos no céu. Os aterrorizantes estrondos no céu que assombraram toda a minha vida até aquele momento.
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Bordô
RomanceTudo parecia bem para Emma. Aceita como secretária do presidente de uma grande empresa, agora seu único desafio era agradar o enigmático Marcos Moonlight, que infelizmente surge como um grande obstáculo para que permaneça em seu emprego. Conhecido p...