Capítulo 35

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Caminhei ao lado de Jacobs até o elevador.

Seu companheiro de terno havia ficado com os rapazes, provavelmente para tratarem da temida viagem. Era difícil deduzir, já que ele não havia dito uma única palavra e só seguiu um aceno que seu chefe o direcionou.

O caminho até a sala de Jacobs foi lento e silencioso. O senhor caminhava de forma preguiçosa, como se finalmente pudesse relaxar um pouco.

Assim como ele, eu também ignorava os olhares curiosos e seguia em frente como se nada estivesse acontecendo. Porém Jacobs conseguia manter uma fachada calma e serena, enquanto eu transbordava ódio pelos meus poros.

Chegamos finalmente a uma sala no andar de embaixo. 

-Entre, minha querida - ele disse ao abrir a porta. 

O escritório era imenso e com uma mesa em seu centro. Não havia placa na entrada, então eu não sabia qual era a real função de Jacobs na empresa, apenas que era o maior acionista.

-Não repare na bagunça - ele disse rindo. - Com as transições de cargo, uso esse lugar somente para pequenas reuniões - era como se meus pensamentos tivessem sido expostos.

Ele caminhou até o sofá e se sentou preguiçosamente. 

Me aproximei, sentando na poltrona a sua frente. 

-Como foi o primeiro dia de contrato? - perguntou despreocupadamente. 

O analisei com cautela. 

Jacobs havia assumido um aspecto leve, como se tivesse deixado o senhor Moonlight para trás. 

Mas a tentativa de uma conversa casual não estava me deixando mais a vontade, pelo contrário, eu estava cada vez mais nervosa.

-Conturbado - falei com sinceridade. - Os filmes fazem parecer mais fácil. 

Uma alta gargalhada saiu por seus lábios. Retribui com uma risada forçada, ainda incomodada por não saber o que me aguardava naquela sala.

-Vejo que a assustamos - ele disse quando finalmente conseguiu se controlar. 

-Um pouco, confesso - o respondi, tentando me acalmar. 

Seu olhar estava suave, mas ainda era possível perceber que ele hesitava. 

-Senhor, sei que tem algo para me falar, mas se me permitir posso dizer algo antes? - o questionei. 

Jacobs parou por alguns segundos e me encarou. Ele parecia tentar adivinhar o que seria dito, como se tudo aquilo fosse um jogo.

-Claro - ele disse enquanto gesticulava para que eu seguisse em frente. 

Respirei fundo e tomei o máximo de ar que consegui. 

-Quero pedir desculpas pelo ocorrido de mais cedo, mas também não quero que responsabilize os rapazes - comecei. - Iago estava apenas tentando me proteger, ele é um bom rapaz e, mesmo com o curto período, ele confia muito em mim. 

Ele me encarava com uma expressão diferente, parecia curioso, mas ao mesmo tempo maravilhado. 

-Fui duro com aqueles idiotas, mas porque tenho que manter a postura - ele soltou uma gargalhada. - Mas posso te contar um segredo?

Jacobs se curvou em minha direção, gesticulou para que eu me aproximasse e disse a ultima frase em sussurro. 

Olhei ao redor, não havia ninguém no local, sendo assim, não fazia sentindo toda aquela encenação exagerada. Mas, ainda assim, eu assenti e me aproximei, como se fossemos expor os piores segredos um do outro. 

-Aquela foi a primeira vez que vi Marcos e Iago brigarem por algo além de seus cargos - a frase saiu em tom misterioso, porém não fazia sentido nenhum para mim.

Voltamos a nossa posição inicial e ele sorriu. 

-Mas enfim, não foi para isso que a chamei - ele disse. 

Não havia seriedade na forma como me olhava, Jacobs parecia descontraído, porém em seu olhar encontrei um sentimento semelhante a quando planejamos algo mirabolante. 

-Qual seria o assunto, senhor? - perguntei. 

Ele franziu o cenho. 

-Jacobs, por favor, somos família - ele disse e logo em seguida voltou a expressão descontraída.  

Eu estava confusa. Não sabia o que me aguardava nas frases seguintes e ter Jacobs Moonlight agindo daquela forma não me trazia boas sensações. 

Da ultima vez que tive uma conversa com aquele homem eu acabei noiva de um de seus filhos. 

-Sim, perdão Jacobs - o respondi. 

O sorriso que estampou seu rosto demonstrava felicidade e confiança, mas me causava tremedeira. Como um sorriso pode ser tão assustador?

-Enfim, Emma - ele disse, fazendo uma pausa dramática para suspirar. - Você sabe que Marcos e Iago não se dão bem, certo?

Me limitei a apenas balançar a cabeça. 

-Sinceramente? Como pai, eu não faço a mínima ideia do que aconteceu entre eles - o homem parecia frustrado. - Marcos e Iago eram bem próximos até a adolescência, mas desde que Marcos foi para Nova York, nunca mais eles foram os mesmos. 

Marcos e Iago se davam bem? Essa era nova para o meu enredo.

Mesmo diante da notícia, fiz o possível para não esbanjar nenhum tipo de expressão exagerada. Porém, pela reação de Jacobs, não havia obtido sucesso nisso.

-Queria que aproveitasse essa viagem para reaproximar eles - disse por fim.

-Eu? - perguntei surpresa.

Jacobs assentiu. Os olhos ansiosos por uma resposta.

-Mas senhor, eu não tenho como fazer isso - comecei a me justificar. - Não sei nem por onde começar... Aqueles dois... Oh, não consigo nem imagina a confusão que isso pode causar.

Ele me lançou um sorriso acolhedor, daqueles que toca o coração e faz com que seu corpo se sinta mais confiante.

As vezes penso que se Jacobs demonstrasse esse seu lado para seus filhos, talvez tivesse uma mínima chance de ele mesmo resolver todo esse problema. Entendo que a criação de três meninos não deve ter sido fácil, mas o medo nem sempre é o melhor aliado.

-Seja você mesma, não precisará de truques - ele disse. - Foi sem truques que você conquistou a confiança dos dois e tenho certeza que os ajudará sem artimanhas. Seja apenas quem você é.

As palavras eram doces e faziam a situação parecer simples. Mas eu sabia que não aquilo tinha tudo para ser um completo desastre.

-Para onde vamos? - perguntei.

Seu sorriso mudou, agora havia travessia na forma que falava.

-Uma pequena cidade no interior, estou de olho em uma fábrica daquela região e vou pedir para os rapazes irem avaliar ela - o homem parecia esconder algo.

-O senhor já olhou a fábrica né - constatei.

Jacobs deu uma doce gargalhada.

-Agora entendo porque aqueles dois gostam tanto de você - ele disse. - Emma, você é uma garota muito esperta. Sim, eu já fui visitar a fábrica, mas quero uma desculpa para os dois tentarem negociar juntos.

Me recostei ainda mais na poltrona. Eu estava fadada aquela família? Como eu poderia ser tão azarada?

BordôOnde histórias criam vida. Descubra agora