Capítulo 25

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Confesso que dormi mais leve aquela noite. Mesmo que soubesse de todas as tribulações que enfrentaria no dia seguinte, ainda assim, eu ansiava pelo momento que encontraria Marcos. Aquele sentimento era novo em minha rotina e ainda não sabia exatamente o que sentia com relação a ele. 

Tudo aquilo poderia ser oriundo de uma mera admiração, ou algo muito mais complexo, qualquer que fosse a resposta, a única certeza que eu tinha era que naquele momento a necessidade de encontra-lo novamente já me dominava. 

Porém toda a magia que eu havia criado em minha cabeça ruiu assim que pisei meus pés na recepção. Minha chegada a empresa foi cercada de olhares julgadores e murmúrios.

Era nítido que todos já sabiam das fofocas e estavam loucos para ver o desenrolar daquela trama. Os olhares curiosos não deixariam que nada passasse sem ser relatado.

-Agora entendo o motivo do nariz empinado - ouvi uma das recepcionista dizer. 

Respirei fundo e caminhei até as catracas, porém, antes de alcançar o espaço que dava acesso aos elevadores, uma estrutura entrou na minha frente. 

Analisei com atenção o corpo que tomava minha visão. O homem a minha frente estava vestido de um elegante terno azul marinho, proporcionando a ele ainda mais beleza e fazendo com que eu suspirasse. Seu cabelo, envolvido em uma fina camada de gel, tinha seus fios perfeitamente alinhados para trás, como um playboy sedutor pronto para dar o bote. 

-Vejo que veio trabalhar cedo - Marcos brincou com um sorriso em seu rosto. 

Convenhamos que aquele sorriso seria capaz de causar um congestionamento e exigia de mais do meu controle mental. Naquele momento eu estava usando todas as minhas forças para não entregar em meu rosto minhas verdadeiras intenções. 

Revirei os olhos em provocação, tentando disfarçar minha reação a sua chegada. 

-Alguém tem que pagar minhas contas no fim do mês - eu disse, contornando seu corpo e correndo de qualquer tipo de contato visual que pudesse ser estabelecido, em seguida passei pelo acesso das catracas e segui em direção aos elevadores. 

Ele rapidamente repetiu o mesmo que eu e começou uma caminhada ao meu lado, despreocupadamente, até por fim alcançarmos as postar de uma das caixas metálicas. 

Marcos inclinou seu corpo em minha direção, até que eu pudesse sentir vividamente seu hálito quente sobre a minha orelha.

-Meu pai me chamou até a presidência - sussurrou próximo ao meu ouvido. 

Olhei ao redor. Todos mantinham certa distância de nós, mas permaneciam com os olhos atentos em todos os movimentos de Marcos. Não os julgo, geralmente na empresa ele andava com uma expressão rígida e amedrontadora, mas naquele momento ele parecia um adolescente prestes a explodir de felicidade, sem conseguir esconder o doce sorriso que dominava seus lábios.

-Ótimo, reunião com o sogro logo cedo - brinquei na tentativa de aliviar o clima. 

Aparentemente surtiu efeito, pois ele me lançou o olhar divertido e cheio de malicias. 

-Vejo que a reunião de família lhe deixa muito empolgada - o tom de sarcasmo se sobressaia em cada palavra que foi pronunciada naquela frase. 

Eu tive que conter uma gargalhada, pois sua expressão estava hilária. 

-Foi o meu olhar contente ou minha expressão feliz que denunciou isso? - lhe encarei com um olhar irônico.

Uma risada se esgueirou pelos seus lábios, um som delicado e convidativo. 

-Com certeza o sorriso - ele disse com o indicador sob o queixo e fingindo uma falsa postura pensante. - Seus dentes em evidência com certeza entregaram que você esta quase explodindo de tanta felicidade. 

A porta do elevador se abriu e entramos, ficando lado a lado no fundo do ambiente. As poucas pessoas que aguardavam relutaram um pouco antes de entrar, mas logo se acomodaram ao nosso redor, deixando o mínimo espaço para que eu me mexesse naquele local. 

-Droga, da próxima vez terei que me conter mais - brinquei em meio a sussurro. 

Ele me deu uma leve cotovelada, como se fossemos amigos de longa data e isso provocou uma série de fuxicos ao redor.

Marcos parecia não se importar com os demais presentes e agia de forma imatura, como uma criança que exibia seu pirulito colorido para todos os coleguinhas. Sentia como se sua alma a qualquer momento fosse sair de seu corpo.

-Esta pronta? - ele perguntou. 

Apenas assenti.

Estar pronta era algo muito forte, no mínimo estava preparada e, mesmo assim, talvez as situações as quais seriamos submetidos me surpreenderiam. 

-Não se preocupe, Emma - falou enquanto colocava sua mão em minha cintura. - Estarei sempre com você, não te disse isso?

Novamente assenti. 

Não sei se Marcos agia daquela forma de propósito, mas aquela atitude instigou ainda mais os curiosos de plantão, que ouviam atentamente tudo que era dito pelo vice presidente. Já imaginava as fofocas que sairiam daquele elevador. Os contextos aos quais aquela frase poderia se repercutir. 

Marcos por outro lado, suspirava ao meu lado com o peito estufado e demonstrando confiança. 

As portas se abriram e algumas pessoas saíram, até por fim só restar nós dois ali dentro. 

-Da para se controlar? - perguntei. 

Ele me encarou confuso. 

-Os funcionários irão fofocar - eu lhe expliquei. 

A confusão ficou ainda mais dominante em seu rosto. 

-Vamos assumir o namoro hoje, o que tem de mal em expressa nossa intimidade? - perguntou. - Dessa forma terão ainda mais certeza que temos algo. 

A frase "mas não temos algo" ficou presa na ponta da minha língua. Porém, meu vasto conhecimento de fics e filmes não me permitiram proferir aquelas palavras. Pelas experiências das protagonistas, aquele seria o momento em que meu par romântico agiria de forma infantil e interpretaria minha fala como se eu não gostasse dele. 

Tudo já era uma história de telenovela e eu não queria acrescentar mais drama ao enredo. 

-Ainda assim, podemos evitar que as fofocas tomem proporções erradas - justifiquei. - Não se esqueça que você é o vice presidente, isso não irá te afetar. Já eu sou uma mera funcionária, já pensou que as pessoas podem começar me evitar?

 Ele hesitou e sua expressão finalmente perdeu aquele aspecto confuso, sendo tomado por preocupação. 

-Eu não tinha pensado dessa forma, Emma - ele disse, como se finalmente entendesse a situação. - Me perdoe. 

Coloquei minha mão em seu cotovelo. 

-Tudo bem, afinal, logo estaremos namorando - soltei uma risada simpática ao fim da frase, para que percebesse que eu não estava chateada. 

Ele balançou a cabeça e as portas se abriram. 

Os olhares imediatamente sendo direcionados a nós. 

-Vamos para mais uma batalha - falei, retirando minha mão de seu braço. 

-Vamos - ele concordou.

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