-Emma? - minha mãe perguntou assustada, assim que me viu entrar pela porta.
Ela segurava um pano de prato nas mãos e usava um avental rosa escrito "hora de cozinhar". Queria sorrir, pelo menos comeria a comida de minha mãe naquele almoço.
Abri o melhor sorriso que consegui. Não poderia lhe dizer o que me preocupava. Sabia que aquele dia seria longo e meus pensamentos seriam todos direcionados a uma única decisão.
-Mamãe, que cheiro maravilhoso - falei, forçando minha narina pelo ambiente.
Realmente, o ar estava tomado por cheiro de comida fresca, o que fez minha barriga roncar e minha boca salivar.
Seus olhos pesaram sobre mim, a preocupação estampada de forma evidente por todo o seu rosto.
-O que aconteceu? - perguntou sem rodeios.
Dei de ombros e me joguei no sofá.
O objeto macio me engoliu em um abraço e pela primeira vez naquele dia me senti realmente confortável.
-Ganhei o dia de folga - falei enquanto tentava parecer o mais animada possível, para ilustrar minha alegria, a frase se seguiu com algumas palmas.
Minha mãe se sentou ao meu lado e colocou a mão sobre a lateral do sofá, quase como se formasse uma gaiola ao meu redor.
-Isso tem relação com as fofocas? - perguntou.
Era óbvio que ela sabia e não poderia mentir para ela.
-Um pouco, pediram para eu ficar hoje em casa até as coisas se acalmarem - falei. - Mas esta tudo bem.
Seu olhar me analisava por completa e eu teria que ser muito cautelosa com minhas palavras, mas ainda mais com minha expressão. Meu ponto fraco era não saber esconder meus pensamentos e sempre os estampava em meu rosto.
-Como foi o caminho para casa? Ocorreu tudo bem na alta? - perguntei, tentando mudar de assunto.
Ela revirou os olhos. Odiava falar sobre hospitais e consultas.
-Tenho uma consulta com o doutor Evandro amanhã - ela disse com insatisfação. - E já sei que ele vai me encaminhar para a quimioterapia de novo, o lado bom é que essa é uma nova e mais em conta.
Suspirei fundo.
Os tratamentos baratos era bons para o nosso financeiro, mas ineficazes para ajudar minha mãe e apenas retardavam o avanço da doença. Eu sabia que não tínhamos condições de algo melhor e ela sempre tentava parecer otimista.
-Não se preocupe, mãe - falei com uma voz tranquila. - Estou ganhando bem nesse novo emprego, podemos procurar algo melhor.
Ouvi um estalo de língua e ela revirou os olhos.
-Está na cara que você corre risco de ser demitida, Emma - falou. - Não podemos arriscar.
A encarei por um tempo. Não adiantava tentar esconder minhas preocupações dela, minha mãe sabia as consequências que aquela fofoca geraria. E naquela situação eu só pensava na proposta do senhor Moonlight.
Eu poderia ajudar ela. Poderia de alguma forma lhe fornecer o melhor possível.
A proposta era boa e eu teria muitos benefícios, mas a que custo? E se nesse período eu me apaixonasse por Marcos como nas comédias românticas? Eu teria forças para deixa-lo depois dessa fatídico ano?
-Fique tranquila - tentei acalma-la. - Não serei demitida.
Ela pareceu relaxar um pouco, mas ainda era possível ver a tensão por todo o seu corpo.
Ambas sabíamos que o meu salário era importante para nossa sobrevivência.
-Mas que bom que a fofoca foi com o bonitão - ela brincou, mesmo que seus olhos ainda estivessem atentos a minha reação.
Agora era o meu momento de revirar os olhos.
-Mãe - a repreendi.
Ela soltou uma doce gargalhada e se levantou, chacoalhando o pano de prato que estava em sua mão.
-Mas sério, gosto daquele rapaz - disse. - E acho que ele gosta de você.
Qualquer que fosse a verdade por trás dos sentimentos de Marcos, toda aquela situação havia me deixado em alerta. Eu e Marcos vivíamos em mundo diferentes, não pertencíamos ao mesmo grupo social. A partir do momento que aceitasse a proposta de compromisso com ele seria tudo mentira.
E se minha mãe se afeiçoasse a ele? Como poderia romper esse laço ou dizer a ela que tudo não passou de um contrato por seu tratamento?
-Para com isso mãe - falei enquanto me levantava de ia em direção ao meu quarto.
-Emma - a ouvi protestar, a voz parcialmente distante ecoava pelo ambiente.
O som dos passos preenchendo o corredor e rapidamente ela já estava próximo a mim.
-Você tem que começar a se preocupar mais com você - ela disse. - Você é uma menina incrível e merece alguém legal.
Já havia chegado na porta do meu quarto e me virei com delicadeza para ela.
Aquele não era o momento para falar sobre os sentimentos de Marcos ou até mesmo os meus. Marcos era sim um bom homem e eu via isso nele, mesmo que tentasse esconder a todo custo esse seu lado. Porém, diante de toda essa situação, sentimento era a ultima coisa que poderíamos considerar um do outro.
Nós nos magoaríamos, eu sabia disso. Como em qualquer comédia romântica, surgirá algo que dificultará nossa relação. Mas diferentes do filmes, isso é a vida real e nenhuma fada madrinha pode mudar as coisas em um passe de mágica.
-Não vamos falar sobre isso - pedi, deixando claro em meu olhar que aquele não era o momento.
Ela entendeu e não precisou de mais explicações, apenas balançou a cabeça e forçou um sorriso em seu rosto.
-Ele pelo menos vem para o jantar? - perguntou depois de alguns segundos de silêncio.
Em meio aquela confusão, não sabia mais o que aconteceria. Da mesma forma que Marcos poderia aparecer em nossa casa naquela noite, ele também poderia optar por me evitar nesse momento. Era difícil prever qual seria sua decisão.
-Vamos esperar para ver - falei, abrindo minha porta.
Dei um passo para dentro do meu quarto e suspirei.
Eu queria que ele viesse.
-Pelo menos seja gentil, ele é um bom rapaz e eu geralmente não erro - falou com uma voz suave e retomando sua caminhada para a sala.
Apenas concordei e fechei a porta, ficando sozinha com as vozes em minha cabeça.
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Bordô
RomanceTudo parecia bem para Emma. Aceita como secretária do presidente de uma grande empresa, agora seu único desafio era agradar o enigmático Marcos Moonlight, que infelizmente surge como um grande obstáculo para que permaneça em seu emprego. Conhecido p...