Acordei sob o suspiro leve de Marcos.
Meu corpo completamente envolvido naquele casulo enorme e quente.
A forma como seus braços me cobriam deixavam bem claro sua intenção protetora, quase como um manto, porém extremamente rígido.
Girei minha cabeça com suavidade, na intenção de não lhe acordar. E depois de um esforço enorme, finalmente consegui me distanciar o suficiente para vislumbrar seu rosto. Ele estava tão sereno, uma expressão calma e tranquila, como se nada pudesse abalar sua paz.
O olhando daquela forma. não conseguia imaginar o desespero que deve ter sentindo. Até mesmo minha mãe, que passou boa parte da minha vida tentando lidar com essas episódios, sentia-se arrasada em cada grito ou choro.
Mas já fazia tanto tempo que eu não tinha surtos como aquele e me questiono se foi o contato com a natureza que tornou tudo mais intenso.
Sorri. Contente por Marcos estar comigo ali.
Eu me sentia mais segura perto dele, mas ainda assim aquele aperto no peito me dominava.
Ter ele comigo nesse momento trouxe um misto de sentimentos, eu estava contente por sua presença, mas ao mesmo tempo envergonhada pela situação.
Como eu lhe explicaria sobre aquele acidente? Como eu lhe contaria sobre o passado que eu tentava esconder de mim mesma?
Tudo estava uma bagunça em meus pensamentos. E para piorar, nossa situação não era das melhores. Eu não poderia me apaixonar por meu futuro ex noivo, isso ia completamente a favor das comédias românticas, mas isso não é um filme.
Eu precisava recuperar meus sentidos e seguir com minha sanidade intacta, mas só de olhar para aquele homem todo o meu corpo respondia e ansiava por seu contato.
Praguejei baixinho, desejando nunca ter ido naquela maldita viagem.
Uma mão tocou levemente minha pele.
Aquela sensação me tomou. Algo muito bom me consumiu e percebi que já não me preocupava com o acidente, ou com o meu passado, até mesmo aquela bendita viagem já não assombrava mais.
Aquele homem tinha uma força enorme sobre mim.
Eu o encarava, enquanto ele abria os olhos lentamente. A preguiça evidentemente estampada em seu rosto, os olhos inchados e a boca semiaberta.
-Doce Emma - o ouvi sussurrar em um tom sonolento.
Marcos estava naquela estreita linha entre o mundo dos sonhos e a vida real, possivelmente ainda não conseguindo distinguir em qual plano habitava.
Tão fofo, pensei.
Chacoalhei a cabeça, me livrando daquele pensamento.
O que estava acontecendo comigo?
-Temos que ir - agi como a protagonista chata, que todos odeiam por cortar o clima.
Confesso que, agora, eu as entendia.
A confusão em minha mente estava me deixando louca e eu sabia que se continuasse ali por mais tempo, não iria querer sair.
Marcos finalmente despertou, olhando ao redor surpreso.
-Claro, vamos - ele disse.
Me levantei, mesmo com a faísca de dor que ainda teimava em persistir e ajeitei minhas roupas que estavam completamente amassadas.
Marcos seguiu meus movimentos e em seguida recolheu a bagunça no chão, devolvendo cada objeto ao seu local.
Observei ele, até que por fim retornasse para o meu lado.
-Emma - ele me chamou com um sussurro.
Meu nome estava sendo repetido diversas vezes naquele dia, em tonalidades distintas. Naquele momento eu sabia que ele queria me dizer algo, sua hesitação deixava bem claro que o rapaz cogitava se diria algo ou não.
-Diga, Marcos - tentei incentivar o rapaz.
Seu olhar se prendeu no meu, senti como se um ímã me levasse diretamente para o centro de um buraco de minhoca. Eu não me importava com as consequências daquilo, apenas queria mergulhar cada vez mais fundo naquela vastidão que ele chamava de olhar.
Marcos estava tão paralisado quanto eu. Os dois se encarando como na cena de um filme.
A tensão crescia cada vez mais ao nosso redor e, de repente, eu sentia como se já não fosse mais a gravidade que me mantinha com os pés cravados no chão.
Eu poderia flutuar a qualquer momento e quem me puxava em direção a terra eram aqueles olhos.
Eu sentia o desespero tomar meu coração. Minha mente dizia constantemente para eu fugir. Eu não deveria ficar ali... Tão vulnerável... Tão incapaz... Tão apaixonada...
Como se o universo atendesse meu pedido de socorro, a porta da entrada de escancarou.
Assim como eu, Marcos olhou naquela direção assustado.
-Oh, graças a Deus - Emília disse sem fôlego, mas não parecia realmente preocupada.
Logo atrás dela, Iago nos encarava. Ele estava tão inexpressivo que chegava ser aterrorizante.
-Emilia, Iago - os cumprimentei.
Ambos entraram na casa com expressões completamente distintas.
-Estamos procurando vocês a horas - ela começou a contar. - Como a chuva parou e vocês não voltaram, ficamos ainda mais preocupados.
Sua voz saia em um tom acusador, como se tivéssemos feito aquilo com intenção.
-Dormimos durante a chuva e acordamos tem pouco tempo - Marcos disse com seriedade.
Iago não desprendia os olhos de seu irmão. O fitando como uma águia preste a levar um reto para um alto e longo vôo.
-Oh, devem estar doloridos - ela disse ao avaliar o chão. - Vamos, meu pai está preparando um chocolate quente para o retorno de vocês.
A menina já tinha um grande e falso sorriso estampando seu rosto. A mudança na personalidade me fazia questionar quais problemas ela tinha.
-Consegue andar? - Marcos perguntou quando todos começaram a sair do local.
Iago no mesmo instante me olhou e correu em minha direção.
-Você se machucou? - perguntou enquanto suas mãos me seguravam pelos ombros.
-So cai de mal jeito e meu pé ficou doendo um pouco, mas já está melhor - menti.
O homem ao meu lado não parecia nem um pouco satisfeito com as mãos sobre o meu ombro, seus olhos estavam furiosos, deixando evidente seu descontentamento.
Olhei brevemente para Emília e ela me encarava desacreditada.
Era tão improvável que homens tão educados estivessem preocupados comigo?
-Eu a levo - Iago disse com um sorriso, enquanto suas bochechas coravam.
No mesmo instante, Marcos entrelaçou seus dedos ao redor do pulso de seu irmão. Minha atenção retomou aos rapazes que de encaravam como dois leões.
-Eu a carrego - Marcos disse com autoridade.
Me afastei dos dois, pegando ambos desprevenidos.
-Eu vou andando - abri um sorriso e segui rapidamente para fora do local, mesmo que meu pé não aguentasse passadas pesadas.
Somente queria evitar uma briga entre aqueles dois idiotas.
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Bordô
RomanceTudo parecia bem para Emma. Aceita como secretária do presidente de uma grande empresa, agora seu único desafio era agradar o enigmático Marcos Moonlight, que infelizmente surge como um grande obstáculo para que permaneça em seu emprego. Conhecido p...