Capítulo 22

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As horas passaram em um piscar de olhos e logo já estava anoitecendo. Meu dia tinha se resumido aquele quarto escuro e os pensamentos direcionados a família Moonlight. A fome havia me abonando e eu estava tomada por uma grande concentração de desanimo. 

O barulho do celular sobre a cabeceira me despertou do meu estado vegetativo em um susto. Logo me levantei da cama em um rompante, irritada com aquele que ousava atrapalhar meu momento de solidão.

Na tela, um número desconhecido estampava o visor. 

Não pude evitar de praguejar. Quem raios estaria me ligando aquela hora da noite? Teria que ser algo muito importante, mas juro que se fosse a operadora eu a xingaria de todos os nomes que o atendente pudesse imaginar

-Alô - falei com relutância, assim que cliquei no botão verde sob a tela. 

Já esperava alguma mensagem automática do outro lado da linha, ou algum homem estranho procurando por um nome do qual eu não tinha conhecimento. Mas me surpreendi assim que as primeiras palavras foram pronunciadas. 

-Emma, me mande a localização - ouvi a voz de Marcos do outro lado da linha.

Algo em meu peito se aqueceu e eu sorri. A voz do outro lado da linha sortia mais efeitos do que eu poderia imaginar. Mas naquele momento o que eu mais deseja era ouvir ele mais próximo de mim. 

-Achei que não fosse vir - me peguei falando em voz alta, torcendo silenciosamente para que ele não tivesse percebido a animação no meu tom de voz.

O barulho que ele produziu me fez questionar se ele não estaria sorrindo do outro lado da linha. Mas preferi deixar de lado e apenas imaginar em meus pensamentos um lindo sorriso estampado seu assimétrico rosto.

-Eu prometi para a minha sogra, não se lembra? - ele disse seguido de uma gargalhada que me trouxe o tão deseja conforto que eu ansiava. 

A frase tinha saído com um objetivo claro: sondar o terreno. Optei por devolver uma risada, para que soubesse que entre nós estava tudo bem. Afinal, eu não estava magoada com Marcos, suas intenções tinham sido as melhores possíveis e tudo que fez em todo esse tempo foi me ajudar.

Ele que deveria não querer falar comigo, afinal, tudo começou porque não me alimentei devidamente. Se eu tivesse almoçado, talvez não estaríamos naquela enrascada. Se eu tivesse me alimentado durante a tarde não teríamos ido jantar juntos. Eu tinha plena consciência que tudo aquilo era oriundo dos meus descuidos. 

-Vou te enviar a localização por mensagem - falei, depois de alguns segundos em que a linha ficou muda, ambos claramente perdidos em pensamentos. 

Até mesmo o silêncio não era desagradável, com Marcos tudo parecia ser daquele jeito exato.

-Sim, senhorita - respondeu docemente. - Já estou a caminho, chego em trinta minutos.

Desliguei sem me despedir, meu coração ressoando no peito como uma sirene que anuncia ao bairro inteiro que o prédio esta em chamas. Não que fosse diferente, meu corpo inteiro estava em brasa e fervia com a possibilidade da vinda de Marcos. Era como se cada partícula da minha pele ansiasse por ele. 

Minha primeira reação, depois de lhe enviar a localização, foi correr em direção ao banheiro. Precisava me arrumar urgentemente e não poderia perder um segundo sequer.

Tomei um banho e coloquei um vestido florido em tom azul, confesso que antes de escolher a roupa eu vesti pelo menos vinte peças. O vestido me deixava com um aspecto jovial e inocente, mas ainda assim destacava meu corpo com cautela e sensualidade. 

Encarei a imagem no espelho, me perguntando se estava exagerando e antes que mudasse de ideia, sai do quarto. Se continuasse encarando meu reflexo provavelmente mudaria de opinião e vestiria um short com um camiseta (não que fosse uma má ideia)

Assim que me viu, minha mãe começou a gargalhar. Seu olhar se arregalou, como se tivesse ouvido uma piada muito engraçada.

-Já ia te perguntar se o Marcos vinha para o jantar, mas pela sua roupa, creio que ele já deva estar chegando - outra risada tomou o ambiente.

Conforme minha mãe ria, meus músculos se tencionavam e o ambiente ficava cada vez mais pesado.

Encarei a peça no meu corpo, confirmando que estava extravagante. Talvez a camiseta fosse realmente a melhor opção, cogitei em minha mente.

-Exagerei, né? - perguntei dando meia volta e desejando desesperadamente entrar dentro do meu quarto. 

Mas antes que pudesse continuar por meu caminho, fui interrompida por um toque suave.

-Espera, você esta linda - minha mãe me segurou pelo braço. - Não troque de roupa, fique exatamente como está. 

Apenas assenti, tentando controlar meus pensamentos desordenados e negativos. 

-Acha que ele vai gostar? - perguntei envergonhada. 

Minha mãe, em sua melhor expressão acolhedora, me deu um abraço longo. Por fim, ela se distanciou, com as mãos em meus ombros, e me analisou. 

-Ele seria um idiota se não gostasse - me tranquilizou. 

A tensão rapidamente se dissipou. 

Minha mãe tinha aquele dom de me oferecer um caloroso abraço, seguido de um doce conselho. Suas palavras sempre me tranquilizavam e seu contato sempre me dava confiança. Uma combinação perfeita, como um combustível para que eu persistisse em minhas vontades. 

-Obrigada - eu disse em um sussurro quase inaudível, mas que alcançou facilmente seus ouvidos, percebi ao visualizar um pequeno sorriso no canto de seus lábios. 

Ela me largou e voltou para a cozinha, animada pela visita que receberia a seguir. 

-Agora preciso terminar o jantar - ela cantarolou. - Meu genro logo chegará. 

Ela gesticulou no ar, como uma dança maluca a qual somente ela sabia os passos e melodias. 

-Mãe - a repreendi, tentando abafar o riso que esgueirava por meus lábios. 

A forma como a via naquele momento me deixava contente. 

-Pare de besteira, menina - ela riu, me ignorando. 

Seu sorriso e gestos extravagantes demonstravam que estava tão empolgada quanto eu pela visita de Marcos. Minha mãe realmente tinha adorado o rapaz e eu a entendia, Marcos era incrivelmente cativante. 

Não demorou muito para que o interfone tocasse, o que fez com que minha mãe agradecesse, pois eu caminhava pela sala freneticamente e poderia facilmente abrir um buraco se continuasse naquele frenesi. 

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