Corri em direção ao banheiro e me coloquei em pé em frente ao enorme espelho. Apenas olhando para aquela versão de mim. Em meus olhos, estampado o desejo não liberado, meus lábios carregavam vestígios de gesto de contenção (sim, eu os havia mordido). Que efeito era esse que Marcos estava causando em mim?
Dei um soco no mármore gelado e abri a torneiro, deixando o barulho de agua corrente perpetuar pelo local.
O que esta acontecendo com você? gritei mentalmente. Um grito engasgado e necessário.
Encarei a mulher no reflexo mais uma vez.
Em minha mente o que prevalecia era uma perfeito zoom dos lábios de Marcos. Carnudos e desenhados como uma escultura. O tom vermelho que contrastava com sua pele pálida.
Respirei fundo e joguei uma água em meu rosto. A agua gelada penetrou por meus poros me acordando (parcialmente) para a realidade.
Não poderia me sentir atraída por nenhum dos irmãos Moonlight. Eles eram meu chefes. Até mesmo Kev. Não poderia misturar nosso lado profissional.
Mas havia algo nessa família que me atraía. Todos eram como imãs. Grandes e pecaminosos imãs que me puxavam constantemente para suas armadilhas de sedução.
-Tudo bem? - ouvi uma voz feminina ressoou ao meu lado.
Eu não a havia visto entrar e somente agora conseguia notar a presença dela.
-Sim - falei, retornando minha atenção para o reflexo. Não estava com animo para fazer amizade em banheiro e muito menos para dar atenção a ela.
Seja lá quem fosse aquela mulher, ela soltou uma risada irônica, um som estridente e agoniante, me fazendo desejar desesperadamente enfiar um rolo de papel higiênico na sua boca.
-Impossível que alguém como você esteja com aquele homem - ela falou.
Aquele homem?
Em um estalo notei que ela se referia a Marcos.
O que eu tinha que a fazia pensar dessa forma? Eu poderia sim ser suficiente para Marcos Moonlight. Eu sou muito mais do que ela imagina.
Olhei para ela com a melhor expressão de preguiça que eu poderia fazer.
Encarei seu rabo de cavalo perfeitamente dispostos, que combinava com o vestido vermelho de fenda lateral. Um conjunto completamente desenhado para sua maquiagem extravagante e sexy.
-Creio que não seja da sua conta - falei e novamente tentei me concentrar na mulher no espelho.
A ouvi estalar a língua.
-Como pode ser tão rude? - perguntou.
-E como você pode ser tão inconveniente? - a retruquei.
Meus nervos estavam aflorados, só Deus sabe a força que eu estava fazendo para não arremessar a saboneteira no meio daquele nariz de plástico.
-Garota petulante - ela avançou na minha direção com a mão erguida.
Seu braço girou no ar, mas eu o peguei antes que encostasse em meu rosto.
-Acho incrível como há tantas mulheres como você - suspirei. - Me espanta a falta de senso e coesão.
Passos rápidos pelo corredor me pegaram de surpresa e minha atenção foi desviada para a entrada do banheiro. Porém senti algo pesado se chocar com a minha cabeça.
Marcos apareceu na porta com o rosto preocupado.
-O que esta acontecendo aqui? - ele bravejou ao entrar no banheiro ignorando completamente os decoros sociais que lhe impediam disso.
Suas mãos me puxaram com delicadeza para longe da mulher e me envolveram em seu caloroso abraço.
-Você esta bem, Emma? - sua voz estava tremula e ele encarava o topo da minha cabeça como quem procura algo.
Suas pupilas dilatadas estavam em destaque e ele me encarou como seu eu fosse uma boneca de porcelana prestes a se quebrar. Até mesmo seu toque era delicado. A firmeza da sua mão não me trazia dor, apenas um estranho sentimento de segurança.
-Estou - disse, mesmo que minha cabeça estivesse latejando de dor.
O rapaz encarou a mulher a nossa frente como se fosse fuzila-la com a primeira arma que lhe entregassem em mãos.
-Quem você pensa que é para atacar a minha Emma? - ele gritou, uma voz autoritária e amedrontadora.
O homem o meu lado teve sua expressão completamente alterado ao olhar em direção a minha agressora.
Marcos olhava para a mulher com uma ira enorme estampada no rosto, mas minha mente apenas conseguia se concentrar na parte em que ele dizia "minha Emma". Eu o pertencia desde quando? Não que fosse ruim. Algo em mim deseja pertencer aquele homem de todas as formas possíveis.
-Senhor Moonlight... não foi intencional... eu juro... estávamos... conversando... - a mulher estava amedrontada e se atropelava em suas palavras.
Imediatamente alguns garçons chegaram a porta.
-Senhor, não pode entrar... - um dos homens começou a falar, mas algo o interrompeu.
-Essazinha atacou minha mulher - ele continuava bravejando. - ELA A ATACOU.
Okay, agora eu era a mulher dele. Tudo estava evoluindo de uma forma inesperada e eu estava caindo naquele conto como uma criança sonhadora.
Os rapazes se olharam confusos e em seguida encararam a senhorita encrenca.
Em sua mão a saboneteira que eu tanto desejei enfiar no meio da sua cara. Pelo objeto uma pequena gota de sangue.
Automaticamente levei minha mão a cabeça e senti um dor no local. Em seguida, encarei a ponta dos meus dedos que estava vermelha.
-Senhora, peço que se retire imediatamente do nosso restaurante - um dos garçons falou.
A mulher passou correndo por nós aos prantos. Afinal, sua tentativa de aparecer saiu pela culatra.
-Vamos, temos que ir ao hospital e também... - ele começou a falar.
-Estou bem, Marcos, não se preocupe - disse, ainda em seus braços.
-Emma.. - ele se distanciou o suficiente para olhar em meus olhos, mas não o bastante para que eu saísse de seus braços. - Você recebeu uma ligação.
Ele pegou o telefone no bolso de sua calça e me mostrou.
-Sua mãe.. - ele parecia cauteloso.
Mas meu mundo inteiro ruiu.
-O que aconteceu com a minha mãe? - perguntei em desespero, me agarrando a sua camisa.
-Não consegui entender, mas precisam de você no hospital - falou.
Me levantei rapidamente, mas a dor só aumentava.
-Eu te levo - o rapaz ao meu lado disse, enquanto novamente me içava no ar com facilidade.
Dessa vez não me importei. Apenas acomodei minha cabeça sobre o seu peitoral e deixei que seu calor me abraçasse lentamente. Estranhamente, mesmo preocupada, eu estava mais calma por ter Marcos ali comigo.
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Bordô
RomanceTudo parecia bem para Emma. Aceita como secretária do presidente de uma grande empresa, agora seu único desafio era agradar o enigmático Marcos Moonlight, que infelizmente surge como um grande obstáculo para que permaneça em seu emprego. Conhecido p...