Admito que te amo

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Acabei não dormindo quase nada, pois tive que levantar às seis da manhã. E também o fato de ter passado a noite pensando no que aconteceu.

Depois de me arrumar vou até a cozinha e sou recebida pela minha melhor amiga e os pais dela com vários abraços e presentes, eles são maravilhosos e eu os amo muito.

Meu aniversário é hoje, mas a festa só vai acontecer amanhã quando os meus amigos chegarem. Assim no dia seguinte - domingo - todo mundo vai embora.

Enquanto tomava café só conseguia pensar em ontem. Olhando pro balcão, do qual a mãe de Alice está colocando algumas frutas e relembro de tudo. Detalhe por detalhe.

Cada toque e olhar que recebi, cada gemido dado tanto por mim quanto por ele, o seu cheiro impregnado no meu corpo...

— Quer uma maçã querida? – pergunta a mãe de Alice pegando uma maçã do balcão para me dar.

O mesmo balcão que estava sentada enquanto o filho - que também é sobrinho e afilhado - dela estava... — Não, não quero. Obrigada.

— Tudo bem. – ela diz e pega as outras frutas para colocar em algum outro lugar.

Certo, acho que preciso ir logo arrumar minhas coisas e ocupar meus pensamentos com outras coisas. Isso depois de terminar esse café da manhã delicioso, é claro.

Tia Lúcia está sentada ao meu lado enquanto toma uma xícara de café e seu marido está na sala vendo algo na televisão. Alice já está no quarto arrumando todas as suas malas e Lucas... Onde ele está?

Eu sei que preciso parar de pensar nele e na noite anterior, mas ele nunca perde o café da manhã. Será que está me evitando?

Não pode estar, não é tão babaca assim. Ou talvez ele seja, não sei.

Será mesmo que ele está me evitando? Porque como ele quer fazer isso se vamos fazer uma viagem juntos de não sei quantas horas e passar mais três dias na presença um do outro?

Sem contar que eu nunca saio daqui. Passo quase todos os meus dias com ele.

Eu realmente espero que ele não esteja sendo tão idiota.

O que aconteceu não pode acabar se transformando num problema, pode?

Não é como se depois de tudo fosse surgir algum sentimento entre nós dois, certo?

Mas porque ele não apareceu ainda?

Merda. Vou ter que fazer o que jurei que não faria, vou ter falar com ele sobre ontem.

No fim das contas, acabei tudo mais cedo do que imaginei. Até que não tinha tanta coisa assim, é claro que as malas foram arrumadas por Alice. Mas enfim...

Preciso falar com Lucas e isso provavelmente é uma péssima ideia, entretanto tenho eu fazer. De todo modo uma hora ou outra vamos nos encontrar.

Saio do quarto de Alice e vou ao quarto de Lucas que fica em frente, espero que ele não seja um filho da puta como sempre.

Quando bato na porta ele não responde, mas a porta se abre e eu entro. Seu quarto é bem arrumado para alguém que não está nem aí para nada, acho que eu estava esperando outra coisa.

Agora olhando tudo percebo que nunca entrei aqui.

O quarto não tem nada demais. Uma cama grande com colchas cinza, fotos de lugares na parede, o closet parece arrumado e o banheiro está com a porta fechada.

Chego perto de uma escrivaninha e começo a xeretar. Alguns papéis espalhados, uma foto dele com Alice, tia Lúcia e tio Nando, mais uma foto dele com outro casal - provavelmente os pais dele - alguns clipes de papel e o computador.

Nada demais, porém a tela do seu computador me chama atenção. É uma imagem de um lugar lindo com muitas plantas e tipo um lago.

— É um fervedouro, fica no Jalapão no estado de Tocantins. – Lucas sai do banheiro.

Caralho.

Sou pega de surpresa, não o tinha visto, ele deve estar achando que sou maluca aqui no quarto dele olhando uma foto no computador.

Espera, ele está apenas de toalha? Sim, caramba, ele está. Puta que pariu, como vou falar o que tenho pra falar enquanto ele exibe seu corpo perf...

— Ah, é... É lindo!

— Sim, é lindo. Mas o que está fazendo no meu quarto?

— Ah, eu? Eu estava te procurando. Mas podemos falar depois sem problemas...

Ando em direção a porta, mas ele é mais rápido e passa por mim parando bem na minha frente.

— Não, diga o que queria falar. – seus olhos estão cravados nos meus. Seu semblante está calmo, mas seus ombros tensos.

— N-nada demais, a-apenas queria saber se você está me evitando por causa de ontem e ter certeza de que as coisas não ficariam estranhas entre nós. – digo me amaldiçoando por cada vez que gaguejei.

Eu não sou assim, o que está acontecendo comigo?

Seus olhos me queimam e por um momento sinto como se estivesse do lado de fora a um sol de não sei quantos graus.

Tento olhar ao meu redor, mas os seus lindos olhos não permitem, eles me predem e não consigo desviar o olhar. Flashes me vem à cabeça, flashes de ontem, sua mão na minha cintura, seu corpo próximo ao meu, seu cheiro, nós dois ofegantes...

Sou tirada do meu momento de lembranças por sua voz. — Me responde, por que as coisas ficariam estranhas? Eu não estou te evitando, afinal não aconteceu nada demais.

Nada demais?

Beleza, eu até entendo ele não me receber com flores e bombom, até porque não é o que eu quero, mas precisa falar assim? Não estou vindo aqui dizer que estou apaixonada e que quero ficar com ele.

E posso dizer isso com firmeza, porque realmente não gosto dele. Afinal se eu quisesse um namorado estaria namorando com Marcos já que ficamos a um tempo e não um idiota como ele.

— Você é um babaca, sabia? Quer saber, foi besteira minha, esquece. Me esquece e esquece o que aconteceu, na verdade, nada aconteceu, não é?

Empurro ele pro lado e saio do quarto, mas volto em seguida e falo: — E aquela não foi a melhor da minha vida. Idiota.

— Bia, espera... – ouço ele dizer enquanto vou em direção as escadas.

Por que estou com tanta raiva? No final das contas ele está certo. Não foi nada demais.

Nada demais, digo a mim mesma.