vigésimo sexto capítulo

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BIANCA.

Daqui a duas semanas eu completaria nove meses, a Maya já estava formadinha e ganhando peso, a ideia dela vim prematura já não me deixava tão preocupada quando antes, ainda que sem dúvida eu preferisse que ela viesse no tempo correto.

A barriga pesava de tal forma, mas eu tava orgulhosa de ter conseguido chegar até ali. Maya já era tudo pra mim, ela estava em tudo que eu planejava viver.

Hoje Gabriel e eu, não éramos amigos, porém tentávamos... eu tentava passar pra ele tudo que era necessário sobre a Maya.

Nesses últimos dias, principalmente pela reta final da gravidez, ele ficava a todo tempo ao meu redor. Quando não ficava dentro do meu apartamento perguntando a todo instante algo, estava por mensagem ou fazendo ligação.

Não vou negar, eu fiquei balançada em alguns momentos... só que era eu me balançar de um lado e noutro instante está lembrando de tudo, sentindo doer de novo e me afastando dele.

O que não era lá muita coisa já que a nossa filha, ainda pertencia ao meu corpo e para ter contato com ele, ele precisava está próximo e até mesmo eu me sentia obrigada quando tinha que deixar ele me tocar.

flashback — dois dias antes. 21h da noite.

Aí, Maya! — eu resmunguei levantando minha blusa, passeando a mão sobre a barriga, a menina não parava quieta um segundo e eu não tava conseguindo me ajeitar no sofá pra vê as coisas que Gabriel tinha comprado para ela.

— Te machucou? — ele estava me olhando com as sobrancelhas erguidas e eu fiz uma careta, sentindo outro chute. — Bia!

— Ela só tá se espreguiçando e se você continuar abrindo essa boca de caçapa, a menina não vai parar! Nunca vi, porra... é só tu respirar perto e ela já tá nessa. — eu me encostei nas almofadas, quase deitando no sofá e ele veio pondo a mão na minha barriga, quase juntou na minha se eu não tivesse puxado mais rápido.

Ele não se contentou só com a Maya chutando contra a mão dele, aproximou o rosto e beijou minha barriga, deixou a boca próxima e começou a conversar.

— Princesinha do pai, tá na hora de dormir, amor. — ele alisava minha barriga com os dedos e a boca tão próxima da minha pele que já estava me dando uma angústia, nervosismo, não sei... — Ou pelo menos deixa sua mãe ver suas coisinhas novas, tem uns tênis também que o pai trouxe, tô doido pra tu crescer Maya, sério... Só pra gente usar umas coisas parecidas, vai ser fooo... maneiro! Maneiro! Não pode palavrão, viu linda? É muito feio, sabia? — beijou de novo mais três vezes e a menina? Essa ali só fazendo graça e eu mordendo o lábio de sentir tanto que doía.

Ela estava enorme e minha barriga mesmo grande, já não tinha mais tanto espaço assim pra ela brincar.

— Filha, vamos ficar quietinha? Tá bom? Amanhã o papai conversa mais, tá? — ele conversava como se ela realmente pudesse responder. Ele deixou um beijo mas demorado e quando raspou a barba foi automático pra eu sentir um arrepio se espalhando. — Quê foi isso?

Sorriso de cafajeste tava bem ali, desgraçado, maldito.

— Tô com frio.

— Tá fazendo trinta e cinco graus, amor.

— E daí? Eu tô grávida, vou sentir o que eu quiser. Eu hein. — resmunguei mesmo e ele gargalhou, negou e deixou o assunto de lado, voltando a mexer em umas das quatro bolsas enormes de loja de bebês.
flashback off.

Respirei fundo. Alisei minha barriga sentindo um incômodo nela. Mas era normal.

Merda!
Porquê as coisas são tão difíceis assim? Não que eu me arrependa ou não queria a minha menina, mas a chegada dela só fez com que eu me juntasse mais ainda em quem mais me destruiu.

Terminei de me maquiar e Theo me mandou mensagem avisando que estava no caminho, iríamos em mais uma consulta. Agora era uma por semana. A doutora queria acompanhar o máximo possível nessas últimas semanas, ainda mais levando em conta tudo que passei ao decorrer da gravidez.

Já tinha mais de uma hora que o Theo estava a caminho, Alana tinha uma agenda muito apertada, ela viajaria pra fora, segundo ela um mini curso nos EUA, mas que eu não me preocupasse que ela estaria aqui pra próxima consulta.

Eu tinha pelo menos 30 minutos pra chegar lá, olhava insistentemente pro relógio.

Viado, tá chovendo, você não sabe como é o Rio de Janeiro chovendo? Parece cidade de papel, ou alaga, ou cai uma árvore.

Theo falava do outro lado da linha.

— Me encontra lá então.

E você vai como? Pega um uber, sei lá...

— Vou me virar aqui, só vai pra lá.

Tentei por mais 10 minutos um uber, e nada. O jeito era eu ir dirigindo mesmo.

Coisa boba, o que poderia acontecer em um percurso de 15 minutos no máximo?

Poderia ser nada, mas não foi isso que aconteceu.

— Por favor, salva a minha filha. — Eu falava meio arrastado.

Não conseguia assimilar direito o que tinha acontecido, mas eu tinha  colidido com um coletivo no momento que eu tinha sentido uma pontada bem forte.

— Precisamos que a senhora mantenha a calma. — Eu ouvia longe uma pessoa falar comigo.

Eu só conseguia pensar na Maya, eu tentava abraçar minha barriga, proteger com as mãos, sei lá, era o meu bebê, a criança que eu lutei pra conseguir chegar até esses 9 meses, não seria agora que deixaria algo acontecer com ela.

— Ela está tendo uma eclampsia.

Foi a única coisa que eu lembro antes de apagar.

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