BIANCA
Perdemos.Perdemos a porra da libertadores e sim, o jogo não tinha sido nada fácil e eu só conseguia pensar numa única pessoa: Gabriel.
Ele deveria está arrasado, as outras, ele foi decisivo. Era presente em todos os lados do campo, dava passes surpreendentes, não invalidando a habilidade dele, mas eram mesmo de fazer os olhos brilharem, o coração bater tão forte e os tímpanos ficarem entupidos de tanto ouvir o gritar de amor vindo da nação. Onde quer que estivéssemos.
Mas dessa vez não, dessa vez era um silêncio dolorido do caralho. Me deixava sem ar, angustiada, com as pernas tão moles que parecia que nem havia ossos para sustentar o peso do meu corpo.
Sai do estádio em completo silêncio, Maya estava chateada andando ao meu lado, reclamando que o jogo tinha sido tão feio e não gostou de vê o pai saindo do campo com a cabeça baixa. Reclamou mais ainda quando não deixei que ela fosse até o vestiário... se ela soubesse que eu só a estava privando de ficar triste pelo pai dela.
Chegamos ao hotel e eu a coloquei para tomar um banho, enquanto cruzei a mini sala que tinha na suíte enorme, para chegar até o quarto e arrumar a cama onde ela dormiria comigo, antes de embarcamos de volta para o Brasil, amanhã cedo.
— Acabou amor? — perguntei já preparando a toalha para tirar ela do box.
— Meu pai ficou magoado. Eu não quero ele magoado. Eu quero ele de sorriso. Quero ele sendo o Dengo.
Eu engoli a seco, estava a vestindo e ela estava soluçando baixinho de novo.
— Nem sempre conseguimos ganhar amor, a vida tem dessas coisas, sabe? Uma vez a gente ganha... outra perdemos. — beijei sua testa e passei a mão no seu rosto.
— O Flamengo nunca perde mãe! Não é assim? Meu pai diz que somos os maiores.
— Perde amor, às vezes perde e tá tudo bem perder! Isso vai nos fazer mais fortes, mais focados e na próxima quem sabe a gente não leva a taça pra casa, hein?
— Eu quero o meu pai. — ela ignorou tudo que eu falei e saiu correndo para o quarto, deitando na cama e eu respirei fundo.
Meu celular vibrou no meu bolso, mas eu não tava afim de ficar olhando nada agora. Só que as notificações não paravam por nada. Eu sequei o rosto, depois de passar uma água por ele, me sentei na tampa do vaso e assim que abri o Instagram, entendi o porquê de estar num alvoroço. Não sei como, mas a primeira postagem era do perfil da Joana, a babá da Maya. Rolei um pouco a tela e senti de novo a sensação horrível de perder todo o ar que existia dentro de mim.
joana.b você foi gigante, meu nove! estou com você pra tudo, amor. ❤️
Era só duas frases, mas os comentários eram milhares. Até o que eu tinha entendido, eles estavam juntos. Juntos de verdade.
No topo da minha tela apareceu uma mensagem dele, pedindo que abrisse a porta do quarto. Ele queria a Maya. Eu respirei fundo, não tava pronta pra encarar aqueles olhos castanhos perdidos e agora, depois de descobrir que possivelmente ele estava namorando a babá e amiga da família deles, deixou meu coração ainda menor.
Deixei o telefone de volta no meu bolso, sequei as mãos no pano jeans da minha calça, passei pelo quarto e a Maya estava encarando a janela do quarto e mexia com os dedinhos nas orelhas do Juninho, um coelho de pelúcia que ela carregava para todos os cantos. O corpo dela ainda sacolejou dos soluços do choro que ela dava e eu fiquei ainda pior.
Passei pela sala e cheguei a porta, abrindo para o Gabriel. Que estava com o rosto pra baixo, olhando o tênis que usava. Eu me encostei na porta, deixando o corpo vacilar o peso. Ele ergueu o rosto e eu encarei o par de olhos que estavam marejados, em volta estavam bem vermelhos, menores e a bochecha também estava num tom de rosa.
Ele não falou nada, só entrou e foi direto no quarto onde a Maya estava. Eu fechei a porta depois de conferir se alguém tinha vindo junto dele, mas não tinha ninguém, passei a chave, peguei uma água no frigobar e voltei para o quarto.
Gabriel estava já sem o tênis, deitado na cama enorme, beijando a cabeça da Maya diversas vezes enquanto a garotinha só se aninhando nele, prendendo uma das mãos no cordão do pai, garantindo que ele não fosse fugir. Eu estava de longe um pouco, mas dava pra ouvir ele pedindo desculpas pra ela.
Era assim, desde que a Maya nasceu. Se ele perdesse um jogo que fosse importante ou um título, ele vinha até ela. E desmoronava. Não existia o Gabigol. Era só o Gabriel, pai da Maya. Da dengo.
A Maya se acalmou depois de um tempo e acabou pegando no sono, eu me aproximei deles e estendi a garrafinha de água pra ele. Ele negou, ajeitou a nossa filha mais ainda no abraço dele e respirou fundo.
— Um mês.
— O quê?
— Tem um mês e eu não consegui te contar nada, eu não queria nem mesmo que ela postasse nada. Minha cabeça tá muito cheia pra me preocupar com isso agora, mas depois que ela postou. Não tem mais volta.
— Você não me deve nada, Gabriel.
— Eu devo. Eu me declarei pra você três semanas antes de começar isso, te pedi uma chance.
— São situações diferentes. — eu respondi com a boca seca, eu quem precisei beber da água.
— Não são. Você se afastou de mim mais ainda, depois daquela festa e ela tava lá. Disposta, sempre por perto e eu acabei decidindo seguir em frente, Bianca.
— E não está errado...
— Isso não significa que eu desisti de amar você... e estou errado sim, quando só uso ela pra tampar o que você deixou aberto. — ele murmurou baixinho e eu fiquei em silêncio, não tinha o que falar e o Gabriel tinha sido levado pelo cansaço. Dormiu com o corpo colado no da filha.
eita preula
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Labirinto | GB10
Fanficporque ela realmente sabe que por mais que pareça que você esteja se divertindo, ou se encontrando por aí, ela sabe que você está mais perdido que qualquer outra pessoa ao seu redor. • todos os direitos reservados. • história original • não autoriz...