sexagésimo nono capítulo

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BIANCA.
Minha mãe entrou no quarto, ainda que de olhos fechados eu sabia por conta do perfume que ela usava. Meu coração acelerou, eu estava em um conflito imenso em saber se ela seria mais uma na fila de apontar os dedos e me deixar mais baixa que o chão ou se ela me apoiaria, me daria o colo que agora eu precisava.

— Preciso conversar com você. — Ela parou na frente da cama e eu encarei ela.

— Mãe, por favor…

— Não Bianca, eu preciso conversar com você. — Ela falou firme. — Você tem ideia do que é uma mãe do nada, sem ao menos esperar receber a notícia que sua filha foi garota de programa? — Ela falava sem parar.

Me levantei, sentei na cama, passei as duas mãos no rosto. Eu não aguentava mais aquele assunto.

— Me fala Bianca, me fala que é mentira. — Ela falou andando pelo quarto de um lado pro outro. — FALA BIANCA.

Eu me assustei com o último grito dela. Respirei fundo e encarei minha mãe.

— Não mãe, não é mentira.

— Bianca, pra que? Porque? — Ela parou na minha frente. — Você não precisava disso, dinheiro fácil?

— Não mãe. — Eu já falava sem forças.

— Era pra que? Pra você andar vestindo roupa boa? Pra você andar naquelas festas que tinha? NÃO PRECISAVA DISSO BIANCA. — Ela gritou novamente. — Eu tô com vergonha, vergonha de você, vergonha de todos saberem que a minha filha se vendia.

— Você tá no seu direito mãe. — Eu falava sem ânimo.

Eu já não tinha mais vontade de rebater ninguém, eu já tinha me colocado no lugar de vilã.
Vilã pro Gabriel sendo a esposa que supostamente traia ele, vilã pra Maya que está passando por situações de bullying por conta de mim, vilã pra Lindalva...Vilã pra minha mãe trazendo a ela todo esses constrangimento pra ela.

— Porquê você fez isso, meu amor?

— Meu trabalho como modelo mal estava dando pra me sustentar lá em São Paulo mãe, era um custo muito alto. Você não trabalhava mais naquela empresa, tava fazendo bicos pra ter uma grana e eu não poderia contar com a ajuda do meu irmão também, ele tinha acabado de casar, estava ajeitando a vida dele. — comecei a explicar devagar. — Eu sei a dificuldade que você tava passando, não vou me enganar... também sei que foi um erro meu mãe, eu não deveria ter entrado nisso. Tinha que ter tentado mais, procurado outro emprego mais honesto. Dinheiro limpo.

Eu solucei, como eu me arrependia de ter vivido aquilo.

— Você tinha 17 anos, Bianca. Isso não era crime? Me diz.

— Não. Eu queria está lá. Ninguém me forçou, eu me deixei levar pelo dinheiro fácil. — a última palavra saiu rasgando minha garganta. Não era tão fácil assim. — E depois de uns meses, eu conheci o Gabi...

Comecei a contar tudo, sem deixar nada escapar, ela chorou junto comigo e no final estávamos abraçadas as duas.

— Eu não vou dizer que não estou triste com tudo isso, porquê eu tô. Me dói toda essa história, tudo isso que tá acontecendo e pior ainda te ver assim minha menina. Você é tão linda, gosta de está sempre tão bem arrumada e agora olhar você desse jeito me corta o coração. — ela passou as mãos no meu rosto e eu suspirei. Não queria continuar chorando, nem meus olhos aguentavam mais, só que era inevitável. — Eu estou do seu lado, me ouviu? Eu tô com você.

Eu assenti, sem forças pra agradecer e deixar ela entender o quanto ouvir isso assim era importante pra mim.

— Eu só preciso de um tempo meu amor, preciso pensar em tudo isso. Vou tentar ajudar você e o Theo. Vê como está a situação com os advogados.

— O que tá acontecendo na empresa, mãe? Me conta. Por favor. Não me deixa no escuro também.

— A Ana Júlia está presa lá há três dias, Theo fica indo e voltando. Parece uma baratinha tonta, o tempo inteiro no pico de resolver as situações. — ela falava com cautela. Tomando cuidado a cada palavra que saía de sua boca. — Vocês perderam oito patrocinadores, estão sendo processados e já gastaram mais de dois milhões em multas.

Eu não quis mais ouvir, pedi pra ela me deixar sozinha. Ela se negou ainda, mas eu precisava, precisava ficar sozinha. Me sentir sozinha eu já me sentia desde o começo de tudo isso.

Aquilo ali foi o estopim para a bomba estourar no meu colo, era a faísca que precisava pra tudo na minha cabeça se embolar de uma vez só.

Meu amor me odiava. Minha filha estava sofrendo, sem poder viver sua rotina diária. Minha mãe parecia me desculpar mas seus olhos estavam tão perdidos quanto quando entrou nesse quarto pra conversar comigo.

Meu sonho estava sendo destruído, pedaço por pedaço.

Não tinha mais vida nenhuma dentro de mim.

GABRIEL
Eu tinha ido até o CT precisava falar com o Ladin e pedir que me desse uns dias sem precisar ir até lá. Minha mente tava pesada, eu não conseguia me concentrar em nada e não queria ficar andando naqueles corredores com aquele tanto de par de olhos me transmitindo pena.

Cheguei em casa procurando por minha mãe, iria conversar com ela sobre o que ela fez ontem com a Bianca. Não gostei, independente da situação, ela mal pensou na minha filha que estava escutando tudo. Joana era outra que iria ouvir.

Perguntei para a Sandra e ela só me disse que estavam no escritório e eu fui até lá.
Travei quando ouvi meu nome.

Gabriel me contou que a Bianca disse que devolveu todas aquelas transferências, você confirma isso, Lívia? — escutei minha mãe falando e eu queria saber, quem era Lívia, já que eu estava só enxergando minha mãe pela fresta da porta.

Eu também iria perguntar isso. — Joana disse e eu estava confuso.

Quem é Lívia e o que ela sabe da história da Bianca?

Ah, é verdade... mas isso é só um detalhe!

Verdade. Era verdade.

Mas... você não mandou aqueles outros papéis para o IG, não é?

Claro que não! Mandei tudo o que era necessário pra acabar com a fama que meu filho levou, as pessoas tinham o direito de conhecer a verdadeira Boca Rosa.

Não foi a fala que me destruiu, mas sim por quem ela foi dita. Minha mãe. Minha própria mãe estava metida nisso tudo.

Eu não sabia mais como minha vida poderia piorar, mas parece que tem como sim. Minha mãe me dando apunhalada.

Meu choro subiu na garganta na mesma hora. Me fazendo sentir o pescoço engrossar. Não tinha força nem pra entrar ali e despejar nela tudo isso. Não tinha forças, a informação tinha quebrado minhas pernas como se eu levasse uma entrada daquelas fortes dentro de campo. Voltei para o lado de fora da casa correndo, puxando ar pra conseguir me controlar e dirigir.

parece que ninguém pensou que fosse a Lindalva a vilã né mesmooo??

Labirinto | GB10Onde histórias criam vida. Descubra agora