sexagésimo sexto capítulo

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BIANCA
Desde as quatro da manhã que meu celular não parava as notificações, eu mal tinha pego no sono quando fui acordada pelo tanto que o telefone apitava.

Foi ler a notícia para que o celular batesse no chão e eu não sabia nem como tinha desaprendido a respirar. Estava enlouquecendo desde lá, já são quase onze da manhã e eu não consigo sair de dentro do quarto, há uns minutos atrás, Theo tentou de novo vir aqui, abrir a porta, falar comigo e não conseguiu. Me informou que a Ana Júlia iria pegar a a Maya na escola e iria dar um passeios com ela e só iria vir com ela de noite, já mesmo pra ela dormir. E eu não fui contra era melhor do que ela me ver assim.

Meu estômago roncou de novo, minha boca só não estava seca porquê molhava a todo instante conforme minhas lágrimas chegavam até lá.

— VAI EMBORA, THEO! EU NÃO QUERO FALAR COM NINGUÉM! — eu gritei quando ouvi baterem de novo na porta.

— Abre essa porta, Bianca. — escutei Gabriel ordenando e eu senti meu coração subir e bater nos meus ouvidos de tão forte. — Abre.

Tava rouco. A voz embolada e eu não queria pensar que ele estava se sentindo mal com tudo isso.

Eu não conseguia nem pensar em nada, estava com a cabeça rodando mil situações ao mesmo tempo, com medo, com ansiedade, com dor.

Tirei o cobertor de cima da minha cabeça e fui até a porta, destranquei e abri devagar, Gabriel passou feito um furacão.

— Eu quero ouvir da sua boca, quero que você me conte. Não quero acreditar em nada disso que tá passando em todos os Instagram de fofoca. Me diz... me diz que você não me traiu desse jeito por conta de uma parada que eu sempre te ofereci de deixar aos seus pés. — Gabriel quase soluçava a cada palavra que dava, o rosto não parava seco, tinham lágrimas rolando constantemente.

— Eu não fiz isso. Eu não fiz isso, Gabi. Eu não sei como tudo isso tá caindo na mídia, mas você tem que confiar em mim. No sentimento que eu tenho por você. Por favor, não me julga igual todo mundo tá fazendo.

— Você ganhou daquele cara mais de 800 mil, Bia. Isso é dinheiro pra caralho. Porque não me pediu, mano? Porque não aceitou nas vezes que eu te ofereci?

— Gabriel, confia em mim. Eu não fiz nada daquilo enquanto estava com você.

— Enquanto estava comigo... então antes... antes você fez? Puta que pariu, Bianca!

— Desculpa. Me desculpa. — tentei passar a mão no rosto dele, mas ele desviou, me olhou de um jeito que eu nunca vi antes.

— Por quanto tempo Bianca? Porquê você me escondeu essa parte da tua vida?

— Eu... eu não me orgulho disso, tá legal? Não me orgulho, tentei ao máximo esconder de todo mundo. Só o Theo sabia, eu fazia uns bicos numa agência, como modelo de uns catálogos e aí, acabou chegando esses tipos de propostas.

— Bianca, mano... você é maluca, caralho? Como que você aceitou se vender desse jeito?

— Eu precisava! Eu não tinha mais de onde tirar dinheiro, minha mãe não tinha mais o emprego fixo dela que me ajudava com as despesas da faculdade. Era o meu último ano, você queria que eu fizesse o que, Gabriel? — eu já estava falando mais alto e ele tava andando de um lado pra outro no quarto.

— Você me conheceu dois meses antes de se formar, Bianca. Eu não tô acreditando nessa porra! VOCÊ ME TRAIU SIM, CARALHO!

— Olha pra mim, olha pra mim. — fui atrás dele e segurei no seu rosto. — Eu não sai com ninguém mais desde que nós dois passamos a ficar juntos. Confia em mim, Gabi. — supliquei e ele não olhava pra mim, estava olhando para ao lado. — Olha aqui, por favor meu amor. Não faz isso comigo, não faz igual todo mundo tá fazendo. Confia em mim. Eu te amo, não iria mentir pra você.

Você já mentiu quando escondeu tudo. — Gabriel botou as mãos nos meus braços e forçou para baixo, tirando do rosto dele. Meu corpo chegou a sacolejar quando ele saiu do quarto esbarrando em mim.

Meu coração estava em pedacinhos e talvez dessa vez seja ainda pior para colar todos os cacos. Se eu já estava chorando antes, agora estava pior, o choro gritava de dentro do meu peito, me fazia soluçar, ficar sem ar como se eu estivesse sendo atingida por socos em forma disparadamente pela minhas costas. Minhas mãos começaram a formigar, eu não sentia nem mesmo o toque delas enquanto tentava massagear meu peito e recuperar o ar. Doía. Era a dor de decepcionar as pessoas que eu amo, a dor de ser exposta, dor de machucar o homem que eu mais amei na vida. Dor de me sentir tão insuficiente, pequena pra ir contra toda essa avalanche que me engole cada vez mais.

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