septuagésimo primeiro capítulo

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Duas horas mais tarde
GABRIEL.
Foi difícil acalmar a Mônica quando ela chegou ali aos prantos, porra, tava difícil pra caralho pra mim... Não consigo nem imaginar como estava pra ela.

Estávamos no quarto que a Bia estava internada, ela tava apagada, já tinha tomado três litros do soro que seria só o começo da desintoxicação.

— Gabriel? — ouvi a Doutora chamar, beijei o rosto da minha sogra e fui até o lado de fora com a médica. — Nos constatamos que ela tomou além da cartela, você não viu nenhuma outra?

— Eu falei com o amigo dela, aliás, ele tá aqui já. Foi só buscar uma água pra Mônica... A Bianca tava tomando calmante e hoje ela já tinha ingerido quatro comprimidos.

— Tudo bem, agora é esperar acabar a desintoxicação e logo ela vai se sentir um pouco mais em alerta. — ela me respondeu enquanto anotava alguma coisa na prancheta e me olhou. — Se você demorasse um pouco mais... seria tarde.

— Se eu demorasse mais do que demorei pra ir atrás dela, eu morreria junto.

A médica não disse nada, só assentiu e eu voltei para dentro do quarto.

— Mônica, vou precisar dá uma passada em casa. Coisa rápida, em menos de uma hora eu volto.

— Pode ir filho, eu te ligo se tiver algo importante. — ela beijou minha testa e eu saí de lá.

Peguei meu carro que ainda estava estacionado de qualquer jeito na frente do hospital e fiz o caminho para casa.
Estacionei, respirei fundo e sai do carro.

Foi eu entrar ali para toda a minha raiva começar acender em todos os lugares do meu corpo, fui atrás das duas e encontrei  elas no quarto da Joana.

— Meu filho...

— Não me chama de filho, não quero nem olhar na tua cara. E você sua filha da puta, mete o pé! Some.

— Gabriel, não é assim... Nós podemos conversar. — Joana chegou mais próxima de mim, botando a mão no meu peitoral e eu agarrei nos seus braços.

— Quer conversar? Quer? Vamos conversa, porra. — segurei ela mais firme ainda quando ela tentou escapar. — Eu tô vindo do hospital, sabe porque? — ela não respondeu, já estava chorando. — RESPONDE CARALHO!

— Não... não sei. Você se machucou?

Eu ri, gargalhei de nervoso. Lambi minha própria boca que estava com os lábios secos. Joana me olhava com medo e era isso mesmo que eu queria. Queria que ela se arrependesse.

— Onde eu me machuquei ninguém tá vendo, filha da puta. Ninguém tá vendo. — Sacudi ela porquê ela desviou o olhar. — VOCÊ VAI OLHAR PRA MIM, VAI OLHAR! NÃO ME AMA PORRA? NÃO DIZ TANTO ISSO? OLHA O QUE TU AMA DESTRUÍDO, VADIA DO CARALHO.

— Gabriel, por favor! — minha mãe tentou me encostar e eu empurrei a mão dela e ela, que caiu de volta na cama. — Para com isso, meu filho!

— VOCÊS DUAS DESTRUÍRAM TUDO! ESTÃO FELIZES COM ISSO? A BIANCA TENTOU SUICÍDIO. ESTÁ LÁ NUM HOSPITAL GROGUE, PORQUÊ EU CHEGUEI Á TEMPO DE SALVAR. — joguei a Joana do lado da minha mãe.

— Meu Deus — Joana soluçou e exclamou baixo.

— Se eu perdesse... se não conseguisse salvar a minha mulher. — passei o braço no rosto de qualquer jeito, tentando secar minhas lágrimas. — Vocês duas iam se arrepender de tudo, tudo que fizeram.

— Me perdoa, meu filho. — minha mãe de novo tentou me encostar e eu afastei.

— NÃO ENCOSTA EM MIM, CARALHO! EU  NÃO EXISTO MAIS PRA VOCÊ, TÁ ME OUVINDO? ESQUECE QUE VOCÊ TEVE UM FILHO HOMEM! ESQUECE.

Quando eu saí dali encontrei meu pai no corredor, abraçado na Dhiovanna que soluçava de tanto chorar.

— Pai... a Bianca, mano... — desmoronei de vez, não aguentava mais ficar segurando todo o peso do meu corpo. Caí ajoelhado, sem forças.

— Eu sei filho, eu ouvi tudo. Nós vamos ficar do lado da nossa menina, não importa o que aconteça. — Meu pai estava passando as mãos nas minhas costas.

— Eu cheguei lá... eu só queria conversar, pai, dizer tudo que eu tinha ouvido. Queria ouvir a história toda saindo da boca dela. — eu solucei, tossi e senti a Dhiovanna secando meu rosto na roupa dela. — Só que ela tava... Pai, eu não vou conseguir esquecer aquilo. Me ajuda.

— Bi, vai ficar tudo bem... Confia na gente. Em Deus, vai se acertar tudo. Você vai ver, meu amor.

— É isso, filho. Vai ficar tudo bem... Levanta. Você precisa tomar um banho,  comer alguma coisa. — Ele me puxou pra cima e os dois foram para o meu quarto comigo. — Eu vou me encarregar de tirar aquelas duas daqui, quando você voltar... não vai mais precisar se estressar com isso.

Mais tarde...
Cheguei no hospital a Dhio veio me acompanhando, ela estava bem abalada.

— Não entra na minha cabeça que a nossa mãe fez isso. — Ela vinha falando comigo pelo corredor.

— Parece que eu tô vivendo um pesadelo Dhio. — Falei cansado de tudo.

— Theo falou o que sobre ela? — Ela se referia a Bia.

— Falou que ela tá bastante abalada, que parece que agora ela está tendo noção do que ela tentou fazer… — Falei coçando a barba, entramos no elevador e preferimos o silêncio.

Tinha outras pessoas na cabine.

Saímos ainda em silêncio, no andar do hospital tinha uma salinha de espera, assim que chegamos lá encontramos o Theo e a Ana.

— Noticiais? — Eu perguntei a ambos.

— Noticiais boa Gabi, ela já está se restabelecendo fisicamente, ainda está tomando soro, está mais responsiva .. agora devemos nos preocupar com o lado psicológico ela. A gente não pode deixar passar batido o fato que a Bianca tentou tirar a própria vida.

— Eu nunca vi ela tão fraca. — Theo falou. — Ela que sempre foi de estufar o peito pra qualquer problema que viesse, e nesse ela simplesmente se escondeu … — Ele falava limpando umas lágrimas que desciam.

— Mas o assunto é sem dúvida o mais delicado. — Dhiovanna falou suspirando.

— Eu não ia me perdoar, eu deveria ter ficado com ela, desde cedo ela tava dando indícios de algo assim, depois que passa que percebemos. — Theo já estava chorando novamente. — Se a Bianca morresse eu ia me matar junto, sem dúvidas.

Realmente eles tem uma ligação de outro mundo.

Todas as vezes que eu escrevo sobre a visão do Gabriel, desde que iniciou essa confusão na vida da Bianca.
Eu choro.
Choro mesmo.

Porquê me dói como se fosse verdade, sabe? Ele é ex marido dela, claro que conta a parte que ele nunca esqueceu a Bibi, mas porra... Ele sente tudo doer junto, se magoou, se machucou mas não destratou dela.

Não desistiu.

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