Manipulação

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Isadora

Miguel encerrou a ligação e acelerou o carro, desrespeitando o limite de velocidade e as leis de trânsito. Me dei conta que não faço ideia de onde a Rebeca mora, e não sei se estamos perto ou longe da casa dela:

-Que merda ! Acho que a Rebeca está perdendo o bebê... Eu tenho que ajuda-la.

"Fica calmo, você vai chegar a tempo e nada de ruim vai acontecer."

-Caralho essa gravidez está me enlouquecendo, toda hora acontece alguma coisa !

"Me deixa em qualquer lugar que eu pego um táxi e vou para casa."

-O que?!

"Eu não posso ir com você até a casa da Rebeca, ela não me suporta e eu não suporto ela, esqueceu?!"

-Não esqueci, mas não vou te largar na rua. Isso está fora de cogitação!

"A Rebeca me odeia, ela não vai querer me ver em um momento estressante como esse."

-Foda-se que ela te odeia! Você é minha mulher e eu não vou te abandonar na rua só por causa de um capricho dela.

"Você vai estressar ela sem necessidade..."

-Ela está passando mal e não vai criar caso com você. E se ela fizer alguma coisa que te ofenda ela não vai entrar no meu carro, e eu a coloco dentro do primeiro táxi que passar!

Miguel está dirigindo feito um louco, e em menos de quinze minutos que ele recebeu a ligação, ele estaciona em frente a uma casa cinza, de muro alto e portão branco. Ele abre o porta luvas, pega um chaveiro e sai do carro, entrando na casa apressadamente. Eu fico sem saber o que fazer. Olhei para os lados procurando um ponto de táxi ou de ônibus, mas aqui é uma rua exclusivamente residencial. Tento pedir um Uber, mas não há carros disponíveis. Quando a maluca me ver aqui vai fazer um escândalo! Menos de dois minutos depois, Miguel sai da casa com a Rebeca nos braços. Ela está chorando, nervosa. Suas pernas e seu vestido estampado estão ensopados de sangue. Sua barriga está enorme. Aparentemente o sangramento dela ainda não parou. Ela está pálida e seus lábios estão brancos. Eu saio do carro e abro a porta de trás para que o Miguel a coloque no banco. Estou angustiada só de ver o estado de saúde dela:

"Leva ela para o hospital imediatamente ! Eu me viro aqui, vou procurar um táxi..."

-Pelo amor de Deus, Isa, agora não é hora de fazer cena. Entra no carro !

*Eu não quero ir para o hospital no mesmo carro que essa mulher! - disse a Rebeca.

"Está vendo só, Miguel ?!" - eu disse.

-Rebeca, cala a boca ! (disse o Miguel)

*Você vai me maltratar numa hora dessas?!

-Então não fala merda. Você quer ser socorrida ou não?

*Quero, mas...

-Não tem „mas‟ Rebeca! Ou você fica calada dentro do carro junto com a Isadora, ou eu vou te largar sangrando aqui na calçada e você dá o seu jeito de chegar ao hospital. Você decide!

"Miguel, eu acho..."

-Não, Isadora! Você não acha nada ! Chega de discursão, entra na porra do carro e dirige. Eu vou no banco de trás com a Rebeca.

Mesmo fervendo de ódio por ele ter sido tão grosseiro comigo, eu entro no carro e começo a dirigir pelas ruas de Cabo Frio. Nem dá tempo de ajustar a altura do banco do motorista para que eu possa dirigir melhor.

-Vai mais rápido !

"Porra, eu não sei nem para onde eu estou indo ! Porque você não me fala qual caminho eu tenho que seguir, em vez de ficar me dando ordens ?"

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