Samantha

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A minha história com o Ricardo é cheia de conflitos, dores, dúvidas e medo. E tudo isso é culpa minha. Eu sou a problemática. Mas também existe a paixão que nos une. Quando nos reencontramos depois de sete anos afastados, a atração sexual foi arrebatadora, intensa e irresistível. Desse dia em diante não conseguimos mais parar. Cada vez que nos encontrávamos o sexo era gostoso, quente e alucinante. Nunca tinha me sentido assim tão plena, então me deixei levar, aproveitando o bom momento sexual que eu estava vivendo. Mas eu subestimei os meus sentimentos e achei que podia levar aquela relação adiante sem muito envolvimento. Só que entre eu e Ricardo também existe amor e isso fez as coisas ficarem muito complicadas. Ele quer uma coisa que eu não sei se sou capaz de dar: Comprometimento. No meio de tudo isso tem a Vanessa, uma grande amiga minha e a primeira mulher que eu me relacionei sexualmente. Nosso reencontro foi incrível, porém foi um erro da minha parte. Ela é casada, ama o marido e é feliz no relacionamento, e eu não tenho a menor intenção de estragar a relação deles. Resolvemos então nos 'divertir' por um tempo, somente sexo sem compromisso. Mas até isso deu errado e acabou se complicando. Vanessa percebeu que algo tinha mudado em mim, e que de uma hora para outra eu fiquei mais ansiosa que o habitual. Resolvemos então acabar com o nosso lance e ficar só na amizade. Agora eu tenho que lidar com os transtornos da minha vida sentimental sozinha, sem ninguém por perto para compartilhar os meus anseios. Tenho vivido dias angustiantes nas últimas semanas por consequência das minhas indecisões, e estou a ponto de enlouquecer com tantos problemas para tentar resolver.

Cada um de nós tem as suas batalhas para lutar e as suas questões pessoais para lidar, mas entre mim e o Miguel as coisas são completamente diferentes. Ele sempre tomou as minhas dores e lutou as minhas batalhas quando eu mais precisei. Nos meus momentos mais sombrios o único que sempre esteve ao meu lado foi ele. Devo minha vida ao Miguel, e faço o que for preciso para ajuda-lo. E nesse momento ele está precisando de muita ajuda. Estou preocupada com o meu irmão. Na verdade, eu estou desesperada! Depois que ele terminou definitivamente com a Isadora seu comportamento vai de mal a pior. Há quinze dias atrás o meu irmão teve o que os psicólogos chamam de 'ponto de ruptura'. O Miguel simplesmente chegou no seu limite, e rompeu definitivamente com a Isadora, indo embora da casa dela sem olhar para trás. Ela foi atrás dele e tentou convencê-lo a ficar, mas o meu irmão não dirigiu uma palavra sequer a Isadora, a tratando com desprezo. Em seguida a minha cunhada me ligou e contou o que tinha acontecido entre eles, e na mesma hora eu fiquei preocupada com a reação do Miguel. Geralmente quando ele explode desse jeito, dificilmente volta atrás na sua decisão. Meu irmão entrou no carro e dirigiu sem parar até o quiosque do Serafim, na Praia Grande em Arraial do Cabo, e de lá ele só saiu carregado por mim e pela Carol. Serafim me ligou, avisando que o meu irmão tinha bebido além da conta e estava em coma alcoólico, literalmente caído na sarjeta. Pedi ajuda a Carol, e ela me ajudou a levar o meu irmão para casa. Demos banho nele e o colocamos para dormir. Desse dia em diante o Miguel tem bebido todos os dias, e voltou para a sua antiga vida de libertinagem. Faz cinco dias que ele não aparece aqui em casa e a nossa mãe está aflita, sem conseguir dormir direito, e temendo que o pior aconteça. Todos esses aborrecimentos estão acabando com a minha pouca sanidade. Eu sei que ele tem ido trabalhar porque a Luíza, funcionária da operadora de mergulho, me contou por telefone. Ela também me contou que o Miguel está estranho, sério e sem muita conversa com o restante da equipe. Isso é desesperador! Quando o meu irmão se fecha desse jeito é porque ele está sofrendo mais do que consegue suportar. Ele tem tentado tocar a vida depois de tudo o que aconteceu, mas não está sendo fácil. Foram muitas perdas em pouco tempo e ele não está sabendo lidar com elas. A cabeça dele está confusa, ele acha que está sendo castigado por Deus por algum motivo. E como eu sei que o meu irmão tem tendência a usar o álcool e as drogas como fuga, eu já imagino ele fazendo coisas das quais vai se arrepender depois. Guardo os meus problemas pessoais no fundo da minha mente e saio de casa para procurar o Miguel, sem saber exatamente onde será o meu ponto de partida. Pego um taxi e peço ao motorista para passar bem devagar em frente aos bares e quiosques aqui de Arraial do Cabo, que estão movimentadíssimos porque hoje é ser sexta feira. Infelizmente não achei meu irmão em lugar nenhum. Encontro a Letícia no quiosque da Praia dos Anjos e pergunto a ela sobre o Miguel. Ela disse que ele passou o dia com o Jonas lá na marina e que ele pode ter alguma informação sobre o paradeiro do meu irmão. Peguei o taxi novamente e fui até o bairro Monte Alto, onde ele mora. E para a minha surpresa, Jonas estava em casa numa sexta feira quente e de alta temporada. Ele disse que não estava se sentindo bem para sair, pois estava com uma crise de sinusite. E que tinha dispensado o convite do Miguel para ir a boate Absolut, em Búzios. Agradeci pela informação, desejei melhoras a ele e parti para búzios atrás do meu irmão. Embora eu já tenha frequentado muitas baladas, hoje em dia eu não gosto mais desse tipo de lugar. A música alta e as luzes piscando me deixam atordoada e com dor de cabeça. Como eu sei que meu irmão gosta de ficar na área vip, sou obrigada a desembolsar um valor exorbitante para entrar nessa parte da boate. Circulo pelo local e algumas pessoas me olham com espanto só porque eu estou usando uma calça jeans, uma blusa preta com a estampa da banda de rock Guns N'Roses e tênis Vans. Sei que não estou vestida de maneira glamorosa como todas as mulheres do local, nem tampouco estou super bem maquiada, mas eu não estou aqui para me divertir, e sim numa missão de resgate. Pouco me importa os olhares dessas pessoas! Vasculho a área vip e ando pelos bares da boate e nem sinal do meu irmão. Vou até o mezanino e a varanda e nada. Pergunto a três conhecidos que encontro na boate se eles tinham visto o meu irmão e eles disseram que não viram ele. Vou até os camarotes, mas aqui as coisas se complicam. A entrada sem autorização é proibida e tem um segurança na porta de cada camarote. Uso o meu sorriso mais simpático e pergunto ao segurança do primeiro camarote se ele viu o Miguel. Mostro a ele uma foto do meu irmão que eu tenho no meu celular. Ele olhou a foto e negou que tenha o visto. Agradeço pela informação e vou até o outro segurança do segundo camarote.

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