ATENÇÃO LEITORES: ESSE CAPÍTULO CONTÉM PARTES ANGUSTIANTES, E GATILHOS QUE DESPERTAM ANSIEDADE.
Miguel
Dez dias depois do seu nascimento, finalmente chegou o grande dia de nos conhecermos pessoalmente. Estou nervoso e ansioso aqui dentro do vestiário. Conforme me orientaram, já me higienizei e vesti as roupas especiais para entrar na UTI neonatal. Um enfermeiro me acompanha até a incubadora onde o Miguelzinho está. Olho para o meu filho usando somente uma fralda descartável e vejo o quanto ele é forte, mesmo aparentando ser frágil. Miguelzinho está cheio de eletrodos colados em seu peito com fios conectados a um monitor que mostra em tempo real seus batimentos cardíacos e o funcionamento dos seus órgãos. Ele também está usando uma sonda, um cateter e um oxímetro. A evolução do quadro de saúde dele é monitorada vinte e quatro horas por dia. Aparentemente todo esse aparato hospitalar preso ao seu corpo não abala a sua tranquilidade. Meu filho está acordado e quieto, parece até que ele sentiu a minha presença. Sua cabecinha estava virada em direção ao minha voz enquanto eu conversava com o médico neonatologista. Talvez ele tenha reconhecido a minha voz. Miguelzinho parece tão curioso quanto eu. Descobri que bebês quando nascem não enxergam com clareza, e só veem vultos e sombras. No primeiro momento só nos olhamos. Seus olhos são verdes iguais aos meus. Me senti vulnerável diante de um bebê de pouco mais de um quilo e meio e quarenta e cinco centímetros de altura. Sem saber como agir e o que fazer, eu começo a chorar. Estou assustado e queria que minha mãe estivesse aqui comigo. Preciso de colo materno tanto quanto o Miguelzinho. O médico me encorajou a conversar com meu filho para que eu me acalmasse. Respirei fundo, enxuguei as lágrimas e me abri para ele:
"Oi, garotão... Melhor dizendo: Oi, Miguel Monteiro de Castro Salvatore. Eu sou o seu pai... Eu queria te dizer um monte de coisas, mas não sei como vou fazer isso...Acho que antes de mais nada eu te devo muitas desculpas. Me perdoa por ter te rejeitado... Me perdoa por não ter sido um pai amoroso... Me perdoa por todas as grosserias que eu disse a sua mãe e você teve que ouvir. Eu não sou uma pessoa ruim, só sou um cara complicado. Mas isso não tem nada a ver com você, tá?! Vou me esforçar ao máximo para ser um bom pai, e vou te recompensar por todo o tempo perdido sendo o pai que eu gostaria de ter tido... Mas para isso eu vou precisar da sua ajuda. Fica bom logo para você ir para casa. Quero que a gente passe bastante tempo juntos."
**Papai, agora está na hora do contato pele a pele. Senta na poltrona e abre a parte de cima da sua roupa. Vou coloca-lo deitado em seu peito. - Disse o enfermeiro.
-Mas eu nunca segurei um bebê na vida. Tenho medo de machucar ele.
**Fica tranquilo que eu vou te orientar.
O enfermeiro pegou o Miguelzinho da incubadora com o maior cuidado, e o colocou deitado entre o meu peito e a meu abdomem. Ele começou a chorar a plenos pulmões e eu o acompanhei. Chorei feito criança, só que era de emoção. Uma enfermeira fotografou esse acontecimento ímpar da minha vida. Era como se o Miguelzinho tivesse acabado de nascer. A partir do momento que eu acariciei as suas costas suavemente e pedi para ele ficar calmo, a choradeira terminou. Fiquei sentindo a sua respiração curta e rápida, junto com os batimentos acelerados do seu coração. Eu também estava ofegante e com o coração acelerado. Aquele momento pele com pele entre eu e meu filho era um marco na minha vida. É real, na verdade é surreal e incrível... Eu sou pai de verdade, e esse bebê tem o meu sangue! Meu Deus, como ele é quentinho e cheiroso. Sua pele é tão suave e delicada... Eu nunca vi nada igual! Me sinto invadido por uma enxurrada de sentimentos bons. Esse contato me proporciona uma sensação de força, poder, responsabilidade e amor. Com o Miguelzinho assim tão perto eu me sinto um gigante, um super herói disposto a proteger e lutar por ele. Eu seria incapaz de maltratar, agredir, abusar ou humilhar meu filho, transformando ele em uma pessoa ferida e traumatizada. Aquele ciclo de violência foi quebrado, morto e enterrado definitivamente com o Fontana.
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CORAÇÃO DE PORCELANA
RomanceUma mulher meiga e gentil é traída, humilhada e maltratada por aquele que lhe jurou amor eterno no altar. Magoada e ressentida, Isadora se fecha em sua própria dor, e perde as esperanças de ser feliz no amor novamente. Depressiva e sem motivos para...