Sicário

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ATENÇÃO LEITORES:

ESSE CAPÍTULO CONTÉM CENAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL. PARA QUEM SOFRE DE ANSIEDADE, TOME CUIDADO COM OS GATILHOS NEGATIVOS!!

Miguel

Não imaginava que a minha noite fosse ter uma reviravolta tão impressionante. Samantha está grávida! Pode parecer loucura, mas é verdade. Eu mesmo não acreditei quando ouvi, e cheguei a pensar que a onda do beck tinha prejudicado definitivamente o meu raciocínio. Quando eu coloquei a minha irmã e o Brito cara a cara para se resolverem, e ele ficou sabendo que seria pai, eu vi uma família se formar diante dos meus olhos. Estar presente naquele momento tão decisivo para eles foi muito satisfatório. A tal história de amor com final feliz que o meu amigo disse que aconteceria na minha vida aconteceu na vida dele, e isso me deixou feliz pra caralho. O Brito merece essa felicidade. Ser aceito pela mulher que mais ama nesse mundo, e ainda por cima ter um filho com ela?! Porra, isso é maravilhoso! Olha só as voltas que o mundo dá!? A sorte deles mudou de uma hora para a outra. O sofrimento, as incertezas, o choro e a dor acabaram de vez na vida deles. Minha irmã não poderia ter escolhido homem melhor para amar e cuidar dela. Estou tranquilo e satisfeito, como se tivesse cumprido uma importante missão e atingido o objetivo. Sinto gratidão por vê-la feliz e sorrindo ao lado do amor de sua vida. Samantha merece toda felicidade do mundo depois de ter vivido um inferno na infância. Quem sabe agora ela consiga superar, de uma vez por todas, seus traumas e limitações. Esse bebê definitivamente foi um presente dos céus, e não poderia ter acontecido em melhor hora! Nossa comemoração pela gravidez da Samantha durou a madrugada toda. Fomos para o apartamento do Brito, e lá bebemos três garrafas de champanhe. Só eu e ele, porque a minha irmã ficou só na água de côco e no suco de laranja. Nada de álcool para gestante! E ainda comemos pizza de quatro queijos que o Brito preparou especialmente para aquela ocasião. Parecia dia de festa! Eu estava tão bêbado que não consegui ir embora para casa, e tive que dormir por lá mesmo. No sábado a tarde nós três seguimos para a Prainha, e nos reunimos na sala da casa da minha mãe. Samantha e Brito fizeram questão que eu estivesse presente quando fossem dar a notícia da gravidez para dona Helena. Ela ficou apreensiva quando nós a chamamos para conversar. Fiquei em silêncio enquanto o Brito dizia para a minha mãe o quanto ele amava a filha dela, o quanto a Samantha significava para ele, e que a volta dela sete anos depois do término do relacionamento deles mudou a sua vida de um jeito inesperado. Minha mãe surpreendeu a todos nós quando disse que já sabia dos encontros às escondidas da minha irmã e do Brito. Ela se justificou dizendo que uma mãe sempre sabe quando a sua filha está "apaixonada". E como a Samantha andava saindo em horários estranhos, toda arrumada e perfumada, e levando preservativos na bolsa, ela concluiu que o único homem que a sua filha poderia estar se "relacionando" era o Ricardo. E assim ela matou a charada. Pelo visto a dona Helena é muito mais observadora do que eu imaginava! Achando que o Brito iria pedir a mão da Samantha em casamento, minha mãe já foi logo dando a sua bênção e dizendo que seria uma honra ter um rapaz tão íntegro como ele sendo seu genro. Tive que intervir na conversa para desfazer esse mal entendido, e pedi a Samantha para contar a novidade. Minha irmã nem precisou falar, bastou colocar a mão sobre a barriga e começar a chorar que a minha mãe entendeu tudo. Ela abraçou a filha e chorou emocionada. Tinha tanto significado naquele abraço tão cheio de amor e gratidão, que eu comecei a chorar também. Porra, não deu para segurar a onda! Ultimamente eu tenho andado sensível demais! Fui contagiado pelos bons sentimentos e pela emoção do momento. O Brito então, nem se fala. Ele que já sensível por natureza, chorou mais que todo mundo. Ele reconhece a grandeza desse acontecimento. Minha mãe ficou em êxtase porque vai ser avó outra vez. Em breve eu serei chamado de tio pelo meu sobrinho ou sobrinha, e vou ama-lo e protege-lo como se fosse meu filho. E vou cuidar dessa criança com a mesma devoção, preocupação e comprometimento que a mãe dela sempre teve por mim. Samantha foi me buscar na boate ontem com uma determinação e ferocidade que poucas vezes na vida eu vi nela! Minha irmã estava vermelha de raiva e espumando pelos cantos da boca. A indignação dela era tanta que até rosnar para mim ela rosnou ! Pensei até que ela fosse dar na minha cara. Se bem que eu merecia. E se ela me batesse eu não revidaria, e ainda aceitaria resignado cada tapa que levasse! Não poderia nem ficar puto com a atitude dela, pois a Samantha estava com a razão! Eu estou todo errado. Eu só tenho feito merda. Meu comportamento destrutivo só tem dado dor de cabeça para a minha família, e me levado ao fundo do poço. E o pior de tudo isso é que eu não sei o que fazer para mudar essa situação. Não sei como me levantar e dar seguimento a minha vida sem ter a Isadora ao meu lado. Sei que fui eu que a dispensei da última vez que discutimos, e que inclusive ela já tentou de diversas maneiras se reaproximar de mim, mas eu não permiti. Me sinto indigno de estar com ela. O que a Isadora tanto procura em um relacionamento amoroso talvez eu não seja capaz de dar a ela. Fui acusado de ser instável e imprevisível, já que, segundo a Isadora, ao menor sinal de problemas eu recorro a outras mulheres! Não me conformo dela pensar isso a meu respeito! Eu dei tudo de mim nesse relacionamento. Pode não ter sido muito, mas era tudo o que eu tinha para oferecer. Eu mataria por ela! Eu morreria no lugar dela sem nem pensar duas vezes! Eu abriria mão de tudo o que eu tenho nessa vida por aquela mulher. Sou louco de amor por ela, e mesmo assim ela me rejeita, me esnoba. Isadora conseguiu me destruir psicologicamente com seu orgulho. Está me matando ficar longe dela, mas talvez seja melhor assim. Eu preciso me curar de muita coisa para me tornar um homem melhor. Sou uma pessoa tóxica para ela. Causo mais angustia do que alegria na vida da Isadora, e por isso decidi me manter distante. Precisamos desse tempo separados para que possamos curar as nossas feridas emocionais.

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