Fernando

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Sempre me considerei um homem de sorte. Me casei com a garota mais bonita da cidade de Resende. Isadora ou Dorinha, como eu a chamo carinhosamente. Uma preta linda, com uma beleza angelical e um sorriso meigo que me conquistou rapidamente.
Com a Isadora foi amor à primeira vista. Eu fui arrebatado pelo seu amor e sua devoção. Fomos um casal apaixonado que despertou a inveja, o desconforto e a raiva de muitas pessoas. O nosso amor incomodou muita gente, inclusive a minha família. Meus pais acharam que ela tinha engravidado de propósito, só para dar o golpe da barriga. Mas não foi bem assim, ela engravidou por acidente. Como nunca cogitamos fazer um aborto, resolvi pedir a mão dela em casamento e calar qualquer ruído que as pessoas a nossa volta pudessem fazer. Me tornei um homem responsável, marido, chefe de família e pai de duas crianças. E estava apaixonado pela minha esposa, embora o nosso casamento não fosse um mar de rosas. As coisas entre nós começaram a cair na rotina e embora a minha esposa sempre tenha tentado salvar o nosso relacionamento ao longo dos anos com todo o tipo de romantismo, eu não estou me esforçando o suficiente. Para dizer a verdade, eu estou de saco cheio do meu casamento. Nossa relação está estagnada e sem graça. E eu não sei o que fazer para mudar essa situação. Confesso que me acomodei ao ter a minha vida estabilizada e a convivência diária com os meus filhos. Nos casamos muito jovens e no início da nossa vida de casados o sexo era maravilhoso. Isadora sempre teve muito fogo e eu gostava disso nela. Mas com o passar do tempo e com a nossa vida profissional corrida, acabamos nos afastando e perdendo a intimidade. Fui percebendo a mudança no seu corpo enquanto ela engordava. Isadora está acima do peso ideal, embora ela se exercite com certa regularidade. Mesmo que ela se cuide e esteja sempre bonita, perfumada e atraente quando estamos juntos, não sinto mais tesão por ela como antigamente. Sem contar que o foco principal dela é a gastronomia. Isadora leva o seu trabalho muito a sério e está sempre tentando se superar. Ela quer ser a melhor em tudo aquilo que faz e isso me incomoda. Para ela não basta ser uma chef de cozinha renomada com uma estrela Michelan. Ela quer ser a melhor chef de cozinha do Brasil e ganhar as três estrelas Michelan, título que só os maiores chef de cozinha do mundo tem. Isadora é muito soberba e arrogante. Ela quer se destacar mais do que eu na carreira profissional. Embora ela sempre tenha me incentivado a crescer profissionalmente, admito que eu nunca a incentivei como devia. Sempre quis que ela se dedicasse a família e a casa que é o que uma boa esposa deve fazer, mas ela nunca concordou. Esse comportamento dela sempre gerou transtorno no nosso casamento e motivou inúmeras brigas. E tudo isso fez com que o meu interesse por ela diminuísse. Embora nos últimos tempos a Isadora vem tentando melhorar a nossa relação e fugir da rotina que o nosso casamento entrou, eu sempre tive outros meios de fugir da rotina... Conheci a Júlia na academia onde eu era Personal Trainer há dois anos atrás. Ela era uma jovem muito bonita e simpática, que todo dia passava por mim e me cumprimentava com um sorriso encantador, mas a princípio eu não tinha notado o quanto ela era gostosa. Eu estava concentrado no meu trabalho com um cliente. Prometi que daria os resultados que ele me pediu, eu não tinha olhos para nada, a não ser o meu trabalho com ele. Numa tarde que o meu cliente precisou interromper a aula e se ausentar da academia, porque teve um imprevisto em casa, eu fiquei com tempo livre e resolvi malhar um pouco. A Júlia estava terminando a sua série de exercícios e me pediu ajuda para pegar uma anilha mais pesada. Eu a ajudei prontamente, aproveitei para dar algumas orientações a ela de como realizar aquele exercício de forma correta. No final do seu treino, perguntei a ela se gostaria de tomar um suco na lanchonete da academia. Eu sou um homem que se exercita todos os dias, tenho uma alimentação saudável e um corpo que, embora no auge dos meus quarenta e seis anos, ainda desperta o interesse das mulheres. Júlia viu em mim uma oportunidade de ter uma consultoria com um profissional qualificado sem pagar nada por esse serviço e em contrapartida, eu estava adorando flertar com uma jovem de vinte e quatro anos. Acabei gostando da atenção que ela estava me dando. A conversa entre nós era leve e espontânea. Tudo isso me deu um novo gás e fez eu me senti um homem mais jovem e atraente. Ela inflou o meu ego. Trocamos nossos números de contato e passamos a nos falar por mensagem de aplicativo. Para não correr o risco de ser pego traindo a minha esposa, eu comprei um celular somente para me comunicar com a Júlia. Fomos nos aproximando cada vez mais, enquanto eu me afastava da Isadora. Comecei a me imaginar estando em outros lugares junto com a Júlia. Queria estar com ela em um restaurante, fazendo uma trilha, em uma praia e em uma cama. Sim, eu estava louco para transar com ela. Queria muito ver aquele corpo sem nenhuma peça de roupa, tocar na sua pele firme, com lindos seios naturais e foder bem gostoso aquela boceta rosadinha. Eu já transei com outras mulheres durante o meu casamento com a Dorinha. Foram mulheres aleatórias, garotas de programa. Meu casamento já passou por diversas crises, eu sou homem e tenho as minhas necessidades. Quando a Isadora estava grávida, por exemplo, eu procurava me satisfazer com prostitutas. Isadora não sentia tanto desejo sexual estando com uma barriga enorme de gravidez. Então para não incomodá-la com algo que eu sabia que ela não tinha condição nenhuma de me dar eu procurava me satisfazer na rua e continuei assim quando ela esteve de resguardo, após o nascimento de nossos filhos. Sempre achei que se eu fodesse só com garotas de programa, só com as putas, eu não estava traindo realmente a minha esposa, porque eu não me envolvia emocionalmente com nenhuma dessas mulheres. Então no momento que me vi fantasiando com a Júlia, percebi que queria trair a minha esposa, queria me envolver com outra mulher e ter outro relacionamento. Eu queria a Júlia para mim, queria ficar com ela não só por uma noite, e sim por várias noites. E sabia que era muito errado da minha parte, mas não queria voltar atrás. Pensava na Júlia a maior parte do meu dia. Já não conseguia mais transar com a minha esposa, só fazia por obrigação e mesmo assim era ruim, porque eu não estava me esforçando como deveria para dar prazer à Isadora. Eu só queria gozar o mais rápido possível e terminar aquele sexo deprimente. Minha esposa já tinha percebido a minha falta de interesse, mas não desconfiava que eu pudesse ter outra mulher, porque eu tomo muito cuidado em esconder minha relação com a Júlia. Não quero expor o que nós temos por causa dos meus filhos. Ela sabe que eu sou casado e não me pressiona a largar a minha esposa. Ela disse que não tem interesse em estragar o meu casamento e que deveríamos continuar exatamente como estamos, e fodendo como dois adolescentes cheios de hormônios. Descobri que gostamos das mesmas coisas, então podemos fumar e beber o que quisermos sem nenhum julgamento. Ela curte substâncias mais pesadas, então eu fiz o que foi preciso para não ficar por baixo e parecer antiquado. Estar com a Júlia faz com que eu me sinta viril e confiante, porque ela prefere estar comigo do que estar com qualquer cara de vinte e poucos anos. Eu ainda sinto amor pela Isadora, por mais incrível que pareça. Esse sentimento não é algo que você simplesmente descarta. Sei que eu não tenho sido um bom marido ultimamente, que às vezes eu a maltrato e nós brigamos por conta do meu ciúmes. Eu já tentei mudar, mas não consigo. Fico louco quando algum homem olha para ela e acabo perdendo a razão. Odeio que cobicem o que é meu, e a minha esposa me pertence! Dorinha é uma mulher doce e especial, a mãe amorosa que gerou nossos filhos, que são o que eu tenho de mais precioso na minha vida, e eu não quero que homem nenhum tire isso de mim. Ela me ama e me aceita com os meus defeitos. Eu só não sei por quanto tempo eu vou conseguir levar essa situação adiante. Por mais que ela faça de tudo para me agradar e tenha esperança em salvar o nosso relacionamento, eu não consigo enxergar uma luz no fim do túnel. Nosso casamento parece não tem mais salvação, porém o divórcio está fora de cogitação para mim. Isso me causaria muitos transtornos. Duvido muito que a Dorinha teria coragem de pedir o divórcio. Ela prefere lidar com a minha indiferença do que encarar uma vida sem mim. Aquela mulher não tem coragem suficiente para recomeçar uma nova vida do zero. Ela depende de mim para ser quem ela é! Enquanto eu não encontro a solução para os meus problemas conjugais, eu sigo com a minha vida dupla. Se eu bem conheço a Isadora, é capaz de ela programar outra viagem de lua de mel de reconciliação. É dessa maneira que ela tenta resolver os nossos problemas de relacionamento. Todo aquele romantismo, flores e declarações de amor que ela tanto gosta, eu acho cafona e ultrapassado. Minha esposa é uma eterna apaixonada. E eu sou um eterno canalha.

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