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Marília Ferraz.

Observei o dia amanhecer na janela do meu quarto enquanto estudava, eu via minha vida pela janela todos os dias. Olhei pro caderno lendo o último artigo, fazendo mais algumas anotações e fechei meus olhos cansada, amarrando meu cabelo.

As vezes eu achava muito peso pra quem só tinha 19 anos, será que eu realmente precisava disso? Precisava seguir o caminho do meu pai, delegado federal, que conseguiu passar na primeira prova?

E agora, esse fardo era todo meu, e eu já havia decepcionado ele por não ter conseguido entrar com dezoito anos, na primeira prova igualmente a ele.
E não havia como esquecer isso, eu sempre era lembrada em qualquer oportunidade.

Meu relógio tava marcando cinco da manhã, eu estava estudando desde as quatro horas da manhã, as cinco e meia eu tinha que ir pra academia de luta, as sete eu ia pro cursinho e ficava lá até o meio dia.
Depois disso tudo eu venho pra casa, tenho uma hora de descanso, que aliás, segundo meu pai, é muito tempo sem necessidade, mas depois de tentar me acalmar um pouco, vou pra academia até as três da tarde. E depois tenho algumas horas até começar a estudar, pra não ficar atoa...

Pesado demais? Que nada. Pro meu pai isso era apenas o mínimo, que eu nem fazia direito segundo o senhor incrível.

Saudades do colo acolhedor da minha mãe, que sempre me deixou livre pra escolhas, não me botava pressão e me amava. Realmente me amava, eu sentia o amor, eu vivia no amor...

Me levantei abrindo a porta do meu banheiro e coloquei na água quente, tirei minha roupa me olhando no espelho e pelo menos eu era muito gostosa por fazer academia, vai que isso me trouxesse algum benefício na vida.

Tomei um banho e sai me arrumando, peguei minhas coisas e quando abri a porta do quarto vi meu pai sentado na sala de estar com o computador aberto, coloquei meu fone mas ainda escutei ele falando.

Márcio: Mais alguns minutos e você se atrasa.—Falou concentrado no computador.

Encarei o rosto dele e desviei o olhar ligando minha música, peguei minha comida que eu deixava pronta na noite anterior e sai comendo no elevador, como todos os dias. Mas hoje eu não estava sozinha, o que era estranho porque eu sempre pegava o elevador sozinha, principalmente pelo fato de ser tão cedo, era muito raro ter alguém descendo no mesmo horário.

Mas hoje tinha uma mulher que eu nunca havia visto, com cara de sono e quase dormindo encostada. Ela abriu os olhos me olhando assim que eu entrei e eu encostei no outro lado, comendo tranquila e evitando qualquer tipo de contato, pois não era muito fã de conversas essas horas.

Na verdade em qualquer hora do meu dia.

— Bom dia.— Falou me olhando.— Sou nova aqui... Eu me chamo Eloísa.

Marília: Bom dia. Marília.- Falei sem nem um pouco de interesse, mas não iria ser mal educada.

— É bom ver alguém da minha idade aqui, só tem gente rica me olhando torto.—Analisei a roupa dela, que era uma blusa grande e provavelmente um short coberto pela blusa.— Me sinto de outro mundo.

Mari: Com o tempo você se acostuma.— Falei apenas por educação vendo o elevador abrir.— Mas se você mora aqui, é rica igual a todos.

Dei passos largos saindo dali assim que abriu, sem chances de respostas para ela.
Fui em direção ao meu carro, abri jogando minhas coisas dentro e fiz careta ao me ver no relaxo. Sai do estacionamento vendo que o dia estava completo nublado, e esse era o clima perfeito pra descansar, que no caso era o contrário de tudo que eu iria fazer pelo resto do dia.

Fui até a academia e iniciei meu dia ali novamente, sofrendo por todas longas e cansativas etapas dele, sem poder reclamar muito. Só agradecer quando o dia acabava e eu podia simplesmente desmaiar no meu quarto, o que era com toda certeza a minha melhor hora.

Era Uma Vez Onde histórias criam vida. Descubra agora