08

27.5K 2.2K 457
                                    

Marília.

Eu tava na merda, se meu pai ou a mulher dele estivessem por ali na sala e me vissem com esse vestido, eu iria escutar tanta merda que não tava escrito. Abri a porta devagar e olhei, não vi sinal de ninguém e entrei na ponta de pé, sai pelo cantinho da sala vendo que tava tudo vazio e me joguei dentro do meu quarto, no mesmo segundo tomei um banho e respirei fundo, saindo e indo até a cozinha, peguei um copo de água e me encostei na bancada.

Márcio: O que você tá fazendo essas horas aqui? Não deveria tá dormindo? — Tomei um susto, deixei a água derramar na minha blusa e resmunguei.

Marília: Estou sem sono e com sede.— Peguei o pano limpando minha blusa dos mickey.

Márcio: Vacilos como esse são essenciais para os erros.— Levantei olhar pra ele.

Marília: Não dá pra ser a melhor em tudo.— Ele me encarou firmemente.

Márcio: Eu sou a prova viva que dá sim.— Soltei uma risada.

Mari: Você não é o melhor em muitas coisas.— Coloquei a mão na boca e ele se aproximou.

Márcio: O que você quer dizer com isso? — Parou do outro lado do balcão me encarando.

Mari: Pensei alto.— Coloquei o copo ali e fui me saindo, já sabia que estava vindo palestra sobre como ele fazia de tudo por mim e tinha que escutar baboseiras da minha boca.

Márcio: Quando você sentir o peso do meu suor pra te dar o melhor, você vai parar de falar besteiras.— Confirmei com a cabeça.— Você poderia estar me ajudando a prender o chefe dos maioria dos roubos aqui do Rio, mas prefere ser ingrata.

Mari: Como eu sou ingrata? Eu passo 24h do meu dia fazendo o que você planeja, tudo que você quer que eu faça, como você quer que eu seja. Tem certeza que o seu robô tá errando em algo? — Parei na porta do meu quarto.— O que eu posso fazer pra te ajudar, pai?

Márcio: Você não é conhecida, conseguiria se infiltrar no morro e no primeiro vacilo traria o Dadinho pra mim, eu subiria de cargo e você seria reconhecida como... Minha filha.— Parei por um minuto, só pra ter certeza que havia escutado aquilo mesmo.

Mari: Você tá sugerido que eu seja teoricamente uma moeda de troca? Sabendo dos riscos, você deixaria sua filha fazer isso? — Soltei uma risada sem graça.

Márcia: Temos que fazer de tudo pelo certo, Marília! Pare de drama.— Abri a boca e perdi as palavras na hora de falar.— Pense nisso, você me deixaria orgulhoso se conseguisse.

Soltei uma risada desacreditada e abri a porta do meu quarto, bati com toda minha força e me joguei na cadeira, eu esperava que eu estivesse louca o suficiente pra o que acabei de ouvir não fosse real, mas sim coisa da minha mente...

Porque pra eu dar minha vida igual uma tonta nas mãos dele, fazendo tudo conforme seus agrados e nem isso ser o suficiente pra eu ser reconhecida pelos amigos do meu pai como "filha.", era impossível. Ou melhor, pro meu pai ter orgulho de mim, não bastava seguir suas ordens, eu tinha que correr riscos, jogar minhas mãos ao céus e pronto, ele ficaria feliz, orgulhoso e saberia que é um ótimo pai!

Era Uma Vez Onde histórias criam vida. Descubra agora