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Deco.

A Marília me fez sair de casa pra comer uma poção de batata frita, e ainda deixou metade porque disse que tava sem fome. Fiquei encarando ela com maior cara de bolado, mas ela deu um sorriso pra mim e eu neguei com a cabeça.

Depois disso a gente voltou pro morro com ela pilotando, já tava ficando profissional nesse bagulho e eu me amarrava. Passei direto com ela e fui pro pico do morro, aqui tinha pouca iluminação mas eu já era acostumado, porém ela não.

Marília: Não leva a mal, mas isso aqui é quase um cemitério. Não curto muito essa hora da noite.— Falou me puxando e eu soltei uma risada.

Levei ela te o outro lado e subi na laje da lojinha, aqui tinha arma pra caralho e então tinha moleque fazendo segurança. Mas já tinha me visto subir e tava suave, me sentei na laje e ela sentou na minha frente.

Marília: Quer falar sobre o que aconteceu ontem agora? — Olhei pra ela.— Ou quer esquecer?

Deco: Tu tá tranquila?

Marília: Tô sim, você ouviu o que ele disse né... Uma hora ou outra ia acontecer, agora não é um bom momento pra esse plano.— Falou dando os ombros.

Deco: Então jae, tá tranquilo. Só fiquei meio assim por saber disso, parece que só aconteceu na hora que a gente começou a planejar.— Ela negou.

Marília: Ultimamente você tá tão... Pesado, sabe? — Falou uma cota depois de ficar em silêncio.— Ainda se culpa pelo que aconteceu... Queria que você relaxasse, tirasse esse peso de si. Você é inocente dessas coisas, Theus.

Deco: Meu irmão morreu por minha causa, e a motivação começou no baile de aniversário pra mim. Anos depois, gente que eu amo quase morre, meu pai morreu, isso é atoa?!

Marília: Bom, seu irmão eu não sei muito... Mas seu pai morreu porque ele tinha treta com o Márcio, bem antes de você surgir, pelo que eu entendi. Eu quase morri porque meu pai me odiava, estando com você ou não, a história iria ser assim. Mas a sorte que eu tive você pra me proteger, isso que importa...

Acabei ignorando todo resto e comecei a contar sobre o Bryan pela primeira vez, contei cada detalhe, ela me escutou atenta em cada palavra.

Marília: Não foi sua culpa, foi covardia de outras pessoas.— Falou brincando com meus dedos e me olhou.— Você merece paz nesse seu coração, tenho certeza que o meu cunhado quer você em paz.

Dei um sorrisinho pra ela e ela beijou minha mão, Marília se esticou e foi tirar o cordão dele do pescoço, neguei puxando a mão dela e fiz cara feia.

Deco: Tu protegida, me deixa em paz...

Marília: Garanto que ele vai continuar me protegendo, mas é algo valioso seu demais pra você não usar.— Insistiu.

Deco: Ele iria me gastar pra caralho se tivesse aqui.— Ela sorriu.— Tu é teimosa igual, igual não, pior que a Eloísa. Quando eles tavam juntos eu implicava pra caralho em como ele aturava ela, agora tô entendendo o lado dele.

Marília: Eu não sabia que ele e a Eloísa eram namorados.— Falou abrindo a boca, maior cara de curiosa.

Deco: Até o último dia.

Marília: Então eu errei muito feio em possibilitar ela estar ficando com o Gl.— Fez careta.

Deco: Já pensei nesse bagulho também, mas Eloísa não ficou com ninguém desde que ele morreu.—

Marília: E se ela ficasse, o que você acharia?

Deco: Não sou pai e mãe de ninguém, eles que se virem.

Ela confirmou com a cabeça e me abraçou, beijando meu rosto todo, encarei ela que abriu um sorriso e me beijou, tentei puxar ela pro meu colo mas ela me empurrou.

Marília: Cheio de gente aqui filho.— Bateu na minha cabeça.

Deco: Então bora descer pra casa cara.— Beijei a cabeça dela que se levantou.

Marília: Me mostra o morro, gosto de ver como ele é bonito de noite.— Esticou a mão pra mim e eu encarei ela serinho.

Deco: Por que tu não quer ir pra casa? — Marília colocou as mãos na cintura.— Fala logo.

Marília: Só quero conhecer o morro, mas se você prefere ir pra casa.— Deu os ombros e ia saindo.

Deco: Marília...— Falei sentado ainda.

Marília: Não suporto mais aí sua mãe e muito menos quero conviver com ela por mais tempo.— Cruzou os braços.— Não gosto das piadas, um dia ela me trata bem, no outro, é como no primeiro dia que eu cheguei.

Ela bateu o pé me encarando e eu respirei fundo quando me levantei. Não respondi ela e abracei a Marília de lado, tirei ela da laje e a gente desceu, fiquei andando pelo morro com ela até o dia amanhecer. Depois disso tive que levar ela pra casa, deixei ela em casa e só tomei banho, passei meia hora deitado com ela e depois levantei pra procurar alguma casa pra ela, ou pra nós dois, só não tinha decidido ainda.

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