53

24.5K 2.3K 718
                                    

Marília.

Eu estava arrumando as poucas coisas que eu tinha dentro da sacola mesmo quando o Deco entrou no quarto, quase quebrando a porta...

Deco: Quando eu te falar um bagulho, tu me escuta, jae? — Falou alto comigo, me levantei e encarei ele.— Tu tá no meu comando, não ao contrário.

Marília: Matheus, eu não estou no seu comando.— Falei no mesmo tom que ele.— Você me ajudou, obrigada! Mas eu não preciso de um pai.

Deco: Então vai pra porra da rua achando que a vida é bagulho fácil, pra quem sempre foi uma mimada de qualquer forma, viveu na asa do pai pra caralho. Vai achando que lá fora tem gente pra te servir, que alguém vai te proteger de quem tá na maldade contigo. Sai nessa porra achando que a vida é assim!

Marília: Tá maluco? Me diz quantas vezes você me viu pensar assim?! Caralho, você conviveu comigo por quase um mês e é isso que você deduziu sobre mim? — Neguei com a cabeça.— Minha realidade de antes era bem diferente, mas eu nunca deixei de abrir os olhos e tentar me adaptar ao que tá acontecendo agora.

Deco: Tu pode fingir pra caralho, mas tu sabe que não é fácil se adaptar assim. Tu quer o ganhar o que com isso? Tu quer provar pra mim que é tu que manda? Eu tô pouco me fudendo pra isso cara! Eu tô te livrando de altos bagulhos, essa porra é o que menos importa pra mim.

Marília: Matheus, não é sobre você! — Gritei no mesmo tom que ele, ele me encarou com raiva e eu fiquei sem entender.— O que tá acontecendo? Por que você tá surtando tanto? Caramba, que desnecessário cara! Me dá um motivo disso, me explica o que tá rolando.

Deco: Se tu for, tu não pisa mais aqui.— Me ignorou e eu continuei sem entender nada.

Vermelhinho era gente ruim? Se sim, porque o Deco ainda andava com ele? Não faz sentindo. Porém eu tava tonta de raiva desse garoto, simplesmente um surto do nada, se pondo como meu dono, falando como se eu não fosse capaz de viver no mundo só porque era diferente.

Apesar de tudo eu nunca me encostei, sempre batalhei pelo que eu quis, e ela pelas coisas que eu não quis eu me esforcei, dei tudo de mim. Nunca precisei de gente me servindo, sempre aprendi a ser igual a igual.

Então ele não podia falar assim comigo, porque ele já deveria saber disso.

E eu sei que ele já teve essa visão de mim, mas por causa de uma raiva sem sentindo, se finge de cego?!

Marília: Se essa é a questão, tudo bem.— Falei firme.— Não piso nunca mais na sua casa e pra emendar, não falo mais com você. Obrigada por toda ajuda, Matheus.

Ele pareceu soltar todo ar que prendi no pulmão, me encarou com uma cara mais calma e eu me abaixei, de todas as sacolas, a única que eu tu peguei foi a que estava com as minhas roupas. Deixei perfume, creme, todos os luxos que ele havia me dado.

Deco: Qual foi...— Falou quando eu já estava saindo do quarto.

Ignorei ele abrindo a porta e sai de casa sentindo minha cabeça explodir, olhei pra rua onde as motos desciam, pra uma escada que tinha ali perto, pra umas pessoas pra lá e pra cá. Sai andando vendo algumas pessoas me olhando torto e fui em direção ao nada, que era a única coisa que eu sabia seguir no momento.

Era Uma Vez Onde histórias criam vida. Descubra agora