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Deco.

Mais uma sensação horrível, parecia que era o limite da dor.

Virei pra trás, ela tava no chão. Marília sangrava tanto que parecia água escorrendo, olhei pra direção dos tiros e tinha sido ele.

O pai dela atirou.

Ele ia atirar em mim, os moleques da contenção tava no chão, os policiais com ele também. Ele apontou a arma pra mim, mas eu segundos senti um choque no meu corpo, Gl me empurrou e eu vi ele segurando o gatilho enquanto queimava tiros no filho da puta.

Cai de joelhos no chão, senti minha cabeça e meu corpo doer. Toquei no pulso dele em busca de qualquer coisa, uma esperança, qualquer coisa.

Deco: Não faz isso comigo.— Falei sentindo que a cada segundo a frequência diminua.— Eu te falei que te amo pra caralho, acredita em mim cara...— Balancei o rosto dela.— Porra, Marília... Fica aqui.

Tirei o cordão do meu pescoço, o cordão do Bryan, coloquei no pescoço dela sentindo meu rosto embaçar. Eu nem me importava se ainda tinha moleque trocando tiro, eu sentia outra parte de sendo levada.

Vermelhinho: Ei, ei, ei.— Gritou chegando.— Falcão chamou, tô na ativa. Vem cara, o carro tá na esquina.

Falcão: Matheus, reage caralho! Ela ainda tá aqui, faz ela ficar.— Escutei ele me gritar.

Ignorei, tava doendo pra caralho isso.

Escutei altos xingamentos, vi o Falcão correndo e tirando ela daqui com o Vermelhinho.

Senti uma mão no meu ombro e nem sabia quanto tempo ela já tinha sido levada, eu tava sentado olhando o sangue deslizando, os corpos espalhados no beco.

Eu falhei.

Eu falhei pra caralho.

Gl: Matheus.— A voz dele tava nervosa.— Não acabou, a gente não pode vacilar.

Deco: Eu matei o Bryan, eu matei o meu pai e eu matei a Marília.— Falei olhando o sangue no chão.— Eu matei três pessoas.

Gl: Tu não matou ninguém.— Segurou meu rosto.— Ela tá viva caralho, ela tá aqui porra.

Deco: Olha essa porra.— Falei encarando o sangue.— Eu matei a Marília, eu matei ela.

Gl me xingou e me puxou, mas eu não queria sair dali. Agora era a única coisa que me fazia sentir ela, o sangue tava numa poça quando começou a se misturar com água. Começou a cair meio mundo no céu, a chuva não parava, Gl tava tentando me manter de pé mas eu não conseguia andar.

Gl: Olha pra mim...— Segurou meu rosto de novo.— Bryan tá protegendo ela, ele tá do nosso lado.— Consegui desviar o olhar do sangue e encarei ele.— Confia em mim, ele tá com a gente!

Deco: Eu quero ir pra onde ele tá.— Senti meu peito doer, eu tava me sentindo uma criança filha da puta fraca.

Vi os olhos do Gl enchendo de lágrimas, ele me abraçou e eu senti minha garganta explodir, chorei igual quando era mais novo e acontecia alguma coisa errada, chorei porque doía pra caralho a sensação de perda, chorei porque não sabia o que fazer, e não queria acreditar que tinha perdido mais uma pessoa.

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