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Deco.

Corri até o lugar que eu mais odiava nesse morro, pra mim, ainda tinha marca de tudo que aconteceu aqui... Entrei no beco e vi o Gl no cantinho, ele tava tendo uma convulsão, cheguei perto dele vendo que ele já tinha vomitado também, mas tava se tremendo e a boca saindo a espuma branca.

Deco: Filho da puta.— Falei olhando pra ele.— Covarde do caralho.— Puxei o braço dele, sentindo o batimento fraco.

Marília: Quem eu chamo? — Falou atrás de mim. 

Deco:  Ninguém, não adianta.— Falei vendo o corpo dele se acalmar das pontadas.

O corpo dele foi ficando mole e eu limpei a boca dele, arrastei ele pra sentar e enfiei a mão na boca dele, Gl não reagiu no mesmo segundo, mas momentos depois começou a vomitar em cima do próprio corpo.

Marília: Precisamos da sua ajuda, eu acho.— Escutei ela falando e ignorei, vendo ele tentando respirar assim que parou de vomitar.

Mas não conseguiu, ele tava de olhos fechados, todo sujo de vômito e desesperado em busca de ar, começou a tentar se mexer e eu dei um tapa no rosto dele.

Deco: Acorda, Gabriel. Para de forçar, caralho.— Balancei o rosto dele.— Para e respira.

Ele continuou desesperado mas eu balancei o rosto dele até ele se acalmar, fiquei por minutos esperando ele abrir os olhos enquanto já tava controlando a respiração, até o beco ser iluminado por farol de moto.

Olhei pra trás vendo o Falcão e o Vermelhinho vindo na minha direção.

Falcão: De novo? — Falou colocando a mão na cintura.

Deco: Se ele não fizer isso todo ano, perde a graça.— Falei sério, olhando pra ele que forçava os olhos a ficarem fechados.

Vermelhinho: Graça mermo vai ser quando o Gl morrer por não parar com essa porra! — Falou chutando a perna do Gl de leve.— Tu acha que Bryan tá orgulhoso dessas tua merda né? — Gabriel abriu os olhos no mermo instante.— Se ele tivesse aqui, nem olhava mas pra tua cara.

Gl que há segundos atrás nem abria os olhos, nem respirava direito deu um soco na cara do Vermelhinho, Falcão puxou vermelho pra trás e eu encarei o Gl.

Gl: Se ele tivesse aqui, eu não precisava me drogar pra ver ele, filho da mãe.— Falou com a voz arrastada.

Marília: Você não precisa tentar se matar pra ver ele.— Falou e eu olhei pra trás.

Gl: E o que tu sabe? Tu já perdeu alguém que te amava? Porque pelo que eu sei, tu só tá atoa.— Desviei o olhar pro Gabriel.

Ele não tava em consciência, ainda tinha droga pra caralho no corpo dele, qualquer bagulho que falasse ia ser rebatido. E eu tava sem cabeça, parecia que a cada momento do bagulho era confusão pro meu lado filho.

Deco: Aí, Gabriel. Eu tava em paz, o único dia que eu faço questão de ter paz e no aniversário do meu irmão, tu veio e estragou essa porra, de novo! — Segurei o rosto dele.— Então fala direito com a minha mulher que só tentou te ajudar, porque se não fosse ela, tu teria se afogado na porra do teu vômito. Entendeu, caralho?

Ele não me respondeu e começou a vomitar de novo em cima do próprio corpo, virei o rosto dele pro lado. A essa altura, já tinha uma galera passando, olhando e comentando, algumas até paradas na entrada o beco.

Falcão: Vou arrumar água.— Falou saindo de perto da gente.— E aí filhas, tão precisando de alguma coisa? — Falou com a galera que tava na entrada no beco.

Vermelhinho: Vai ter troco maluco, vai achando que tá de graça assim.— Falou indignado com a mão no rosto.

Marília deu uma risadinha e eu fiquei esperando o Falcão, ele voltou com dois baldes de água e eu joguei no corpo todo do Gl, chamei um menor pra limpar a bagunça e fui subindo com ele pra casa com a ajuda do Vermelhinho, que tava o caminho todo dizendo que ia amassar o Gl.

Deco: Vou ficar aqui.— Falei quando coloquei o Gl no banheiro.— Desce com o Falcão, pega o que tu precisar lá em casa e volta.

Marília: Quer que eu fique lá? — Falou passando a mão na minha bochecha.

Querer eu queria pra caralho, porque eu sabia que quando a droga saia aos poucos, Gabriel tinha uma crise do caralho. Eram horas chorando igual criança, quebrando os bagulhos, agindo igual maluco.

Deco: Não, pô.— Falei, porque ia evitar confusão e eu não tava com cabeça pra isso.— Pega uma roupa pra mim também.

Falcão: Marília pode dormir lá em casa, Carol arrasta pra quarto contigo.— Olhei pra ele, já tinha conversado com ele sobre o acontecido lá em casa, e ele sabia o que rolava com o Gl.

Olhei pra Marília que fez uma careta mas deu os ombros.

Marília: Tudo bem, pode ser.— Sorriu fraco pra mim.

Vermelhinho: Vai ter troco, Gl! — Falou saindo da cozinha com o gelo no rosto.

Dei uma risada e Marília saiu com o falcao, vermelhinho se deitou no sofá e eu fui jogar água no Gl, enquanto a água caia, fiquei encarando ele e pensando em mil coisas.

Do nada meu raidinho começou a chamar, quando falei com os moleques disseram que tava tendo policial rondado o morro, alguns até subindo. Xinguei pra caralho, e adiantei com o Falcão, vermelho meteu o pé pra ajudar no controle e Falcão fez o mermo, depois de passar aqui pra deixar meus bagulhos e deixar a Marília na casa dele.

Eu tava ganhando o prêmio de fudido sem paz cara, papo reto.

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