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Deco.

Quando entrei na casa do Gl, a Soraia tava na cozinha, Vermelhinho dormindo sentado e eu não vi o Gl, quando entrei a Soraia me olhou e eu encarei ela.

Deco: Gl tá aonde? — Vermelhinho abriu os olhos assustado, e eu neguei com a cabeça.

Soraia: Tomando banho.— Escutei alguém saindo da área de serviço e levantei o olhar vendo a Eloísa.

Deco: Quem tá no hospital? — Falei sério.

Eloísa: Sua mãe e o Falcão.— Ela estendeu a blusa branca pra mim, a blusa tava limpa.— Consegui lavar.

Deco: Valeu.— Peguei da mão dela, ainda tava um pouco úmida mas eu ignorei, fiquei calado observando geral ali porque eu tava esperando alguém me falar, mas namoral?

Não queria perguntar.

Eloísa: Você quer saber? — Falou respirando fundo e eu balancei a cabeça de leve.— Três cirurgias, a última só acaba às 18h de hoje.— Olhei pro relógio, meio dia agora.— Ela reagiu bem as duas, mas a da barriga parece que tá mais complicada...

Vermelhinho: Ei irmão, tá tudo tranquilo.— Falou levantando e abraçou meu pescoço.— Ela tá fortona, grandona sem medo.

Eloísa: Você precisa saber que se após as 18h, o fim da cirurgia, se ela não reagir dentro de 24 horas, infelizmente....— Ela não terminou de falar, mas doeu do mermo jeito.

Soraia: Você pode ir visitar ela às 19h, Matheus.— Encarei ela.

Ignorei altos bagulhos e me sentei no sofá, Gl tava descendo as escadas quando me viu balançou a cabeça e olhou pra cozinha. Soraia falou que o almoço tava pronto e eu não quis comer, fiquei deitado no sofá esperando o tempo passar, cada hora que passava era pior que tortura.

Bateu seis horas e eu tava fumando um cigarro, mas levantei, tomei banho e sai de casa. Peguei minha moto e fui pro hospital, cheguei meio desconfiado da movimentação mas ignorei pra caralho e fui atrás dela. Era UTI, o médico falou que nem podia, mas que não sabia como iria ser as próximas horas, então me deixou entrar.

Mas eu me arrependi maneiro, não queria ver ela assim. Tava cheio de fio, até na boca tinha os bagulhos, cocei a cabeça e toquei no cordão do pescoço dela, peguei na mão dela que tava na temperatura normal, e pra mim isso já era um bagulho bom. Coloquei a mão dela por cima do cordão e beijei a testa dela.

Deco: Se tu ficar prometo que vou parar de implicar contigo filha, papo reto.— Falei olhando pra ela.— Melhor pô, eu vou correr contigo todo dia. Pode ser até na praia... Te levo pra comer uma vez na semana aonde a gente foi a primeira vez. Te ensino a ser a melhor pilota de moto, de dar inveja... Te deixo mandar em mim, meter maior moral ein.

Lembrei dela sorrindo e guardei isso pra mim, me sentei no sofá e fiquei olhando pra ela, era só um sinal, qualquer bagulho que não me deixasse no fim, qualquer parada pra me dar esperança.

Fiquei sentado ali a noite toda, encarando ela e esperando por alguma parada. Sai do quarto por dois minutos, fui no banheiro, lavei o rosto e fui atrás de comida, comprei um refrigerante e um pedaço de bolo de chocolate, mas parece que não foi melhor bagulho depois de um dia sem comer, quis colocar pra fora na merma hora.

Tava voltando pro quarto quando vi os médicos correndo pra dentro do quarto dela, parei no final do corredor olhando a movimentação e não consegui ir lá, não conseguir ser homem suficiente pra saber o que tava acontecendo, então só fiquei parado olhando, e sentindo que a dor tava voltando de novo.

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