Era Uma Vez

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Marília.

Acordei praticamente junto com o sol, me sentei perto da janela enquanto observava o dia lá fora que estava lindo. Eu estava animada, hoje era a cerimônia da academia e eu estava feliz, mesmo sabendo que iria sozinha, que talvez não fosse tão legal assim, mas eu estava bem com isso, ou pelo menos acreditava nisso.

A Suzana iria vir pra cá hoje pois a mulher da limpeza que ajudava ela também viria limpar a casa, eu fui tomar banho porque ia sair e deixar elas cuidando das coisas pra não atrapalhar. Organizei minha bolsa e falei com a Eloísa, iríamos a praia agora de manhã com a Soraia e a Danda, eu estava muito animada.

Sai e encontrei a Eloísa no elevador, descemos juntas conversando e ela falou que queria conversar comigo depois, fiquei um pouco curiosa porque pelo que ela falou era algo mais sério. Mas tudo passou quando saímos, passei pra buscar as meninas e a gente foi pra praia.

A manhã foi simplesmente incrível, me divertir muito com as meninas e principalmente adorei conhecer melhor a Soraia, já a Eloísa tava meio distante, porém foi legal mesmo assim. Almoçamos na praia e eu deixei elas em casa, então eu desci pra Rocinha. Precisava muito ajeitar meu cabelo e minhas unhas e a Rosa não teria tempo de ir lá em casa hoje, então precisei vir mesmo sabendo que era um risco, assim como da outra vez.

Mas ocorreu tudo bem, sai com meu cabelo lindo e hidratado, enquanto estava no carro procurando música escutei o barulho de várias motos chegando perto da entrada do morro, olhei pelo retrovisor e tomei um susto vendo o Theus. Ele estava junto do menino de cabelo vermelho, e do outro que tinha uma tatuagem de falcão e veio tirar satisfação comigo da última vez que eu estivesse aqui no salão.

Meus olhos estavam arregalados, olhei pra trás sem acreditar e vi ele conversando com os homens que estavam lá na entrada e coloquei a mão no rosto. Imediatamente liguei o carro, o que por algum acaso chamou atenção dos caras que olharam, desviei o olho do retrovisor e saí dali nem se quer encarar eles novamente.

Fui o caminho todo pensando nisso, ele mentiu pra mim? Ele sabe quem é o meu pai e tudo isso foi só por interesse? Não era possível, porque de alguma forma não parecia ter sido só isso.

Mas eu sabia que as pessoas eram ruins, que as pessoas eram capazes de fuder com a vida das outras sem pena nenhuma. Eu só implorava silenciosamente pra não ser assim com ele, porque eu não merecia isso. Minha cabeça já havia começado a doer, parei no sinal e catei um remédio pra dor de cabeça, tomei água e peguei meu celular.

"Precisamos conversar." — Enviei a mensagem pra ele, era a primeira mensagem que ele recebia minha.

Joguei o celular na bolsa e saí dali indo em direção a casa, quando cheguei estava tudo arrumado, tinha o cheiro de comida e o cheiro de limpeza, junto de um bilhete em cima da minha cama, com uma flor.

"Eu sei que hoje é seu dia na academia de luta, estarei lá. Beijos, Suzana."

Por um momento deixei a felicidade tomar conta de mim, a Rosa havia dito que também iria me ver quando eu comentei com ela. Eu estava feliz por saber que iria ter pelo menos a elas lá comigo, fui me arrumar, coloquei a roupa e peguei meu celular, não havia mensagens dele.

Mas minha cabeça não saia disso, eu queria saber o que estava acontecendo e eu me negava a acreditar que eu tinha sido tão burra a esse ponto. Chegou uma mensagem da Eloísa falando que quando eu chegasse, subisse direto pra casa dela.

Ignorei e peguei minhas coisas, fui até o escritório do meu pai e tentei abrir mas estava trancado. Soltei um grito por isso estar acontecendo e bati a cabeça na porta, resmungando qualquer palavrão que veio na minha mente.

Respirei fundo, juntei minha bolsa que caiu no chão e tomei um copo de água, me olhei no espelho da sala e soltei o ar, toquei no meu colar que era presente da mamãe e me acalmei. Hoje eu só iria pensar em mim, em uma conquista, em como ela estaria feliz, eu precisava descansar um pouco desse peso.