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Deco

O sangue dela na camisa branca que ela me deu tava marcado, Gl me arrastou pra dentro da casa dele porque se dona Ana me visse assim, ela não ia aguentar.

Nem eu tava aguentando...

Gabriel me arrastou pra baixo do chuveiro, tava frio e eu quase congelei com a água. Não parava de chover, a água daqui também tava gelada, quase tomei um chove quando ela bateu na minha cabeça.

O celular do Gl tocou, tava em cima da pia. Eu levantei meu olhar e ele olhou pra tela do celular, pegou e colocou no viva voz.

Gl: Matheus tá escutando.— Falou antes de qualquer bagulho, olhei pra água que tava se misturando com o sangue e fiquei observando.

Falcão: Ela ainda tem chance... É cinco por centro de chance...— Levantei o olhar novamente.— Precisa de sangue O negativo e muitas horas de cirurgia.

Deco: Eu tenho...— Dei um pulo do chão, ia sair do banho sem importar com o meu estado. 

Gl: Tu fuma e bebe pra caralho, usou lança mais cedo.— Me olhou feio.— Dona Ana, vou falar com ela.

Falcão: Eu vou mandar o papo reto pra vocês...— Observei o celular em cima da pia.— O doutor falou que ou é papo de milagre, ou não tem nada. Então o que tiver de fazer, faça na velocidade da luz.

Gl desligou e me encarou, eu ia atrás da minha mãe e ele negou, saindo de perto de mim.

Gl: Eu resolvo, fica aí e toma juízo, pega postura caralho.— Falou correndo pra fora de casa.

E olha que ele era um filho da puta até uns dias atrás.

Me enrolei aos cinco por cento, ela tinha chance. Me olhei no espelho e tirei a blusa, tirei o resto da minha roupa e deixei a água gelada cair pelo meu corpo, peguei o sabonete, a blusa que ela me deu e comecei a lavar, não sei quanto tempo eu passei ali tentando tirar aquelas manchas, mas parecia bagulho impossível.

Me enrolei numa toalha e procurei uma roupa do Gl, quando entrei no quarto dele, tinha vários portas retratos com foto de nós três. Fazia anos que eu não entrava aqui, nem sabia mais como era.

Coloquei qualquer roupa que vi na minha frente e voltei a tentar limpar a blusa, porque era o único bagulho que tava me distraindo agora. Cinco por cento era muita coisa...

Nem eu sei quantas horas eu passei tentando limpar aquela blusa, mas parecia impossível sair. Minha mão já tava doendo quando deixei ela na água com sabão pra ver se ajudava, voltei pra sala e fiquei sentado no sofá e foram mais horas sozinhos, tentando não matar e nem morrer com os altos pensamentos que tava rolando aqui.

Vi que o dia tava clareando, mas ainda escuro pra caralho com cara de chuva,  sai de casa e fui andando em direção a quadra do baile e quando cheguei lá o corpo ainda tava lá, mas tinha uns moleques em volta cobrindo com um lençol.

Deco: Leva ele pra matinha.— Os moleques me olharam.

Xt: Tu vai assumir agora? — Me olhou de lado.

Deco: Eu só quero a porra do corpo do meu pai enterrado, qual foi caralho? — Falei alto.

Os outros tavam calados e ignoraram, pegando o corpo do pai e eu fui subindo com eles, já tinha altos buracos feitos só esperando os corpos, sempre tinha alguém pra jogar aqui. Coloquei ele no buraco mas não joguei areia em cima, no sabia se o Gl ia querer fazer alguma outra parada.

Subi um pouco mais o morro até a parte que me dava acesso a tudo lá embaixo, a parte mais bonita daqui. Me sentei do lado do único corpo daqui, o Bryan. O que foi bagulho de outro mundo porque ele tava todo desconfigurado, então o que tava aqui era mais a consideração do que o corpo mermo.

Deco: Tu queria que eu fosse responsável, mas tu não falou que ia ser por acabar com a vida de tanta gente.— Gastei, sem soltar uma risada.— Tá orgulhoso, filho da puta?

O silêncio que fazia aqui era de deixar maluco, aqui não tinha nenhuma confusão, era só paz, descanso pra alma.

Deco: Aí Bryan, eu preciso que tu faça isso por mim, é o último bagulho que eu te peço. Marília não merece isso, nunca mereceu porra nenhuma, se tu salvar ela, vai me salvar pra caralho também.— Cocei a cabeça.— Tô apaixonado filho, agora eu entendo o porquê de quando tu tava com a Eloísa, ser bobão. Nem parecia um moleque velho, mas agora eu tô ligado e quero viver essa parada, com ela.

Continuei olhando o sol entre as nuvens e fiquei tranquilo ali, a calma já tinha invadido e eu tava apenas vendo o dia passar.

Era Uma Vez Onde histórias criam vida. Descubra agora