50

24.2K 2.1K 484
                                    

Marília.

Se tinha uma coisa que eu não curtia muito era ter que ficar indo de loja em loja, escolher roupa, ficar provando e todo esse caso. Mas o Deco pareceu que tirou o dia pra me forçar a fazer isso, ele não podia ver algo legal que me forçava a entrar e ir atrás.

Era engraçado, mas eu estava cansada de parar em loja, já tinha várias sacolas e eu estava em cima de uma moto tentando levar tudo. Quando estávamos saindo da última moto, dei de cara com a Bárbara carregando uma sacola de loja infantil, minha madrasta me olhou e eu encarei ela, desci o olhar pra barriga que era pouco visível e quando fui olhar pra ela novamente, ela passou do meu lado como se eu não existisse.

Como se ela não me conhecesse.

Desviei o olhar pro chão e senti a mão do Matheus na minha cintura, ele me cutucou e eu olhei pra ele que me encarava com uma cara de quem perguntava o que tava acontecendo.

Respirei fundo, e sai andando na frente. Meu corpo que já estava cansado pesou ainda mais, olhei pro céu sentindo o sol bater em mim pedi mentalmente pra minha mãe me guiar, porque cada dia estava mais difícil pra mim aqui. Eu encostei na moto, passando a mão pelo meu cabelo e o Matheus parou do meu lado.

Deco: Ela não é a mulher do delegado? — Falou me entregando a sacola e eu confirmei, no mesmo segundo Deco tirou o celular do bolso e pareceu procurar um contato.

Mari: Ela tá grávida.— Segurei o celular dele, arqueando a sobrancelha, Matheus me olhou e deu um passo pra trás, colocando o celular na orelha enquanto me olhava.— Matheus?!

Deco: Falcão.— Falou no celular e desviou o olhar.— Desenrola algum moleque pra subir pra pista, mulher do delegado tá aqui. Quero um assalto, bagulho leve, o foco é pegar o celular... Não pô, sem sequestro, mulher tá grávida, só quero a bolsa, pode ter algum bagulho interessante no celular... Jae.

Ele desligou o celular guardando no bolso e eu continuava encarar ele sem reação, não sabia se brigava, se reclamava, não sabia o que fazer. Achei que nada que vingasse da Bárbara me afetaria nunca, mas o que ela fez, fez confinar o que eu já sabia.

E ter a certeza que você não valia nada pra alguém, mesmo depois de todo esforço, era uma das piores sensações do mundo.

Eu queria não me importar, queria eu mesma mandar o Deco pedir pra sequestrarem ela, pra fazer mal, pra destruir a vida dela, queria ter esse ódio no coração. Mas eu não consigo ser assim, mesmo sabendo que ao contrário, eles não pensariam duas vezes.

Deco subiu na moto calado e eu fiz o mesmo, me equilibrei com aquelas sacolas e fomos pro morro. Finamente pude ver melhor alguns cantos daqui, como era colorido, como tinha uma beleza única, como era alegre.

Crianças, famílias na rua. Homens bebendo num bar, gente andando pra lá e pra cá, desenhos nas paredes, sorrisos, parecia tudo tão bom aqui, parecia que tava transbordando amor. Mas também pude ver crianças encolhidas no meio da rua, magras, vi uns menina catando comida na lixo, vi mulheres usando drogas na frente de crianças... Vi tanta coisa em pouco tempo, que aqui dentro parecia um novo mundo.

Quando paramos na casa do Matheus, ele me ajudou e descemos. Já tínhamos almoçado, mas o cheiro da comida me fez querer comer de novo, porém como eu não era muito bem vinda, só fiquei calada e segui o Matheus que foi direto pro quarto.

Era Uma Vez Onde histórias criam vida. Descubra agora