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Deco.

Uma semana depois do assalto e o delegado da federal tava igual maluco em cima, o que era papo chato, nem era do interesse dele esses bagulhos, mas ele tá igual puta chata atrás do meu pai, que tava tranquilo e calmo na dele.

Deco: Tá na hora de mexer com ele pô, tá chatão esse papo já! — Falei tirando o cigarro da boca.— Manda um bagulho só pra assustar, mexe com algum familiar...

Dadinho: Qual foi, relaxa. A hora dele vai chegar, deixa ele continuar nessa perturbação de maluco dele.— Falou calmo, enquanto observava as pessoas andando pra lá e pra cá.

A gente tava no baile, na parte mais afastada de geral. Meu pai era o frente do morro, eu era o braço esquerdo e o Gl era o direito, ele assumiu o lugar do Bryan que era pra ser meu, mas eu nem fiz questão desse bagulho.

Quando meu irmão morreu, a última coisa que eu pensei foi em morro, em subir de cargo, ou em qualquer dinheiro. Eu só queria ele de volta! Mas é isso, bagulho é saber que nem todo mundo pensa igual a mim, ou esses papos de consideração vai ser na mesma mentalidade que a minha.

Em pensar nessas paradas, vi a Elisa aparecendo com o Vermelhinho de um lado e Gl atrás dela, com outros caras por perto também. Virei a cerveja na boca e desviei o olhar vendo eles chegando pra perto de mim, só acenei com a cabeça e virei o rosto, olhando pra galera andando pra lá e pra cá.

Vermelhinho: E aí, mano.— Falou dando um tapa nas minhas costas, virei um tapa no peito dele e ele soltou uma risada.— Qual a boa pra hoje?

Deco: Sossegado, só vim marcar presença.— Ele balançou o copo.— Eloísa tá voltando pro morro?

Vermelhinho: Pelo que eu sei, tá envolvida em um corre ai.— Encarei ele.— Quem tá ligado é o Gl, mas não cheguei a perguntar não.

Deco: Os dois juntos, papo bom que não é.— Falei deixando o desgosto transparecer na minha voz e ele me olhou de canto.

Desde novinho, éramos nós três. Eu, Bryan e Gabriel. A gente cresceu junto, a mãe do Gabriel meteu o pé e ele não foi criado como primo, foi criado como irmão. No mesmo teto, dividindo tudo e até meu pai que não era nem aí pra nada, adotou ele como filho.

Mas depois da morte do Bryan, parece que surgiu outro maluco no lugar do Gl, papo de um cara que eu não sabia quem era. Totalmente contrário do Gl de antes, que eu considerava como irmão. Hoje em dia eu tenho vergonha de falar que é meu primo, pra mim é um desconhecido qualquer.

Minha coroa uma vez falou que cada um tinha uma forma diferente de lidar com morte, mas parece que depois que o Bryan morreu, ele deixou escapar toda consideração e irmandade, que dizia ter por ele...

Vermelhinho: Paty a vista.— Chamou minha atenção.

Levantei o cabeça na direção que ele mostrou e vi umas quatro meninas, quatro loiras do jeito que eu me amarrava. Ele chamou mais dois moleques e a gente encostou perto delas, cai de canto com a mais gatinha e fiz minha noite ali. Cinco da manhã, galera já tava indo embora e eu soltei a boca da loira pra ir comprar uma água pra mim, peguei meu celular vendo umas dez ligações da minha coroa e desliguei o celular, colocando no bolso novamente.

Eloísa: Deco.— Quase gritou, virei já sabendo o que ela ia pedir.— Me deixa em casa, por favor.

Deco: Caralho, tu é foda mermo! Cadê o Gl? Manda os mano que te trouxe te levar.— Bati na cabeça dela.

Eloísa: Gl sumiu, o único que tá ali pra me levar é o Tatu e ele tá na maldade comigo faz maior tempão. Não tô afim.— Senti o álcool nela de longe, e se pá nem era só álcool que tava na mente dela.

Respirei fundo e ia chamar mermo o uber pra ela se virar, mas papo que eu não gostava dessas paradas. Sabia que ela tava alterada e eu cresci com ela também, Bryan amava essa mulher e se ele tivesse aqui, faria o bagulho certo.

E pode ter certeza que eu sempre vou agir pelo certo quando se trata de lembrar do meu irmão.

Deco: Marca um dez.— Falei dando as costas pra ela, cheguei no vermelhinho e mandei ele levar a garota pra casa dela que eu voltaria pra resolver com ela lá.

Meti o pé dali indo levar a garota pra casa e ela subiu na garupa agarrando em mim, sai voando do morro e fui com ela me guiando. Fazia uns dois meses que ela tinha saído do morro e tava morando em bairro nobre. Papo de dinheiro limpo não era, tenho certeza que ela tava fazendo algum bagulho aqui a mando de alguém do morro.

Ela desceu da moto e quase caiu no chão, encarei ela e estacionei a moto descendo e puxando ela, ela foi se arrastando do meu lado. O porteiro me encarou e ela falou que eu era amigo dela, mas mermo assim ele não deixou de me olhar feio.

Parte boa de não descer pra fazer assalto na pista era essa, ficha mais limpa que o céu sem nuvem.

Eloísa: As vezes eu tenho medo de ficar no elevador sozinha.— Falou fechando os olhos.— Tenho medo de ficar presa.

Deco: Meu sonho é tu ficar presa e desaparecer pra sempre.— Gastei ela que me encarou.

Eloísa: Não foi brincadeira, né?! — Eu soltei uma risada negando.— Eu amei ele de verdade...— Falou do nada, me fazendo ficar em silêncio.— Ainda amo.

Deco: Olha tuas atitudes pra cima de quem ele chamava de irmão.— Ajeitei minha postura.— Tu sempre amou o luxo que ele te dava, só isso.

Ela olhou pros próprios pés e ficou calada, o elevador finalmente chegou e eu fiquei ali dentro mermo vendo ela andar o corredor até entrar em casa. Ela entrou sem nem agradecer, nem olhar pra trás e pra eu não me estressar, foi melhor assim.

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