Capítulo 28-"Marcas na alma"

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Enquanto a batalha literalmente pega fogo, Tomoki é obrigado a recuar e buscar uma solução para seu problema. A calamidade corre e se aproxima de Mavmarir.

"Bardo! Ajuda!" Grita Tomoki, apontando a Kurokiba para Mavmarir como se ela fosse alguma espécie de bomba relógio. "Eu não consigo atacar ele!"

"Eu posso te ajudar... Mas você aguenta o calor da batalha?"

Enquanto isso, Ceres continua seu avanço. Ambas Karna e Ceres se mantém frente a frente com um queimado Timotio, que as olha de cima para baixo.

"Você não se importa com o fogo né?" Pergunta Ceres para Karna.

Antes que a capitã possa responder, a maga aponta sua rapieira negra para Timotio. É então que tanto Ceres, quanto Karna e Timotio são envoltos em uma horrenda labareda de fogo que toma conta de parte da arena. Saindo da grande bola de fogo que se formou, Ceres pula e ainda lança mais seis raios de fogo acertando Timotio no peito.

Enquanto isso, na sacada dos Conquistadores de Albalor, Rhastiel nota algo de estranho com Azon. De alguma forma, o hobgoblin parece incomodado. Ele olha em volta como se procurasse algo ou alguém, mas após não achar nada, desiste e volta sua atenção na batalha.

"Tudo bem aí, colega?" Pergunta Rhastiel.

"Nah, tá tudo bem. Eu só recebi a voz de um espirito."

"Que?!" Grita Rhastiel, que logo depois volta a fumar seu cachimbo.

Nym apenas observa os dois, preocupado com a sanidade mental dos companheiros.

Enquanto isso, Mavmarir decide ajudar a calamidade a lutar, e então pede que ele mostre sua Kurokiba. Para ajudar Tomoki, Mav terá que abdicar de sua magia de velocidade em Ceres. O bardo coloca a mão perto da arma e imbui uma magia nela.

"Eu te avisei." Diz Mavmarir.

A Kurokiba começa a lentamente aquecer até alcançar graus além do aguentável. Sua lâmina brilha em um vermelho vivo incandescente, como se fosse uma lâmina de solda. A mão da calamidade é queimada no processo, pois até o cabo da arma, feito de metal, ficou aquecido. Tomoki segura sua fiel arma com as duas mãos.

"Heh, vamos deixar as coisas um pouquinho mais quente."

A braçadeira no braço de Tomoki é ativada com um toque de sua mão. Subitamente, a Kurokiba, que já estava incandescente da magia de Mavmarir, é envolta de chamas, quase que simulando o efeito da Língua Flamejante de Karna. Aquela era a habilidade do item dos Conquistadores de Rubruv, uma braçadeira capaz de incinerar os golpes de seu portador.

Além disso, Tomoki abre um grande sorriso. A calamidade viveu por milênios, ele já viu todos os tipos de estilo de luta, todos os tipos de lutadores e todos os tipos de coisa, por isso sua vida, assim como a de quase todo o imortal, é extremamente pacata. Sendo assim, ele buscou refugio em batalhas, as únicas coisas que faziam seu coração bater de verdade. Aquela luta, aquele confronto contra o Executor, definitivamente era uma luta que valia a pena lutar.

Todos os gladiadores da arena conseguem sentir um sentimento de caos se espalhando, como se milhares e milhares de alma gritassem em dor e desespero quando Tomoki segurasse sua Kurokiba. A calamidade abre um longo sorriso no rosto.

"Vamos lutar direito dessa vez!"

Mesmo com suas mãos em brasas, Tomoki avança sem nem se importar com a dor da queimadura. Antes que Timotio possa reagir, a calamidade acerta vários cortes rápidos por todo o corpo do minotauro. De certa maneira, ele lembra um pouco o estilo de luta de Rhastiel, só que mais rápido e menos direto que o meio-orc. Almejando um ataque forte, Tomoki pula e equivale sua altura com o Executor, e então ataca-o em seu supercilio, queimando em cima do olho dele.

A plateia fica em silêncio por alguns segundos. O Executor, aquele conhecido como o imbatível de Flávia, não só estava sendo pressionado como também recebeu três golpes a queima roupa vindos de Karna, Ceres e Tomoki. Entretanto, entre todo o coliseu de Flávia, Timotio era o que sabia exatamente o quanto tinha sido pressionado. A resposta era nem um pouco.

Em meio as chamas dos golpes dos Conquistadores de Rubruv, a clava do minotauro varre o campo de batalha e acerta com tudo em Karna, que é jogada para longe. Por sorte, a bárbara consegue resistir a dor e finca sua Língua Flamejante no chão, impedindo que ela voe pra tão longe.

Em meio as chamas, Timotio se lembra da ultima vez que lutou tão a serio assim, na época ainda a mando de seu rei, mestre e amigo, Atlas, A Grande Montanha. O minotauro sente seu corpo reagir contra a lâmina vermelha de Kurokiba, afinal umas dessas foi a causadora da destruição de sua terra.

A mais de 23 anos, Minos era liderada por Atlas, o rei de Minos e uma calamidade. Sua arma, o lendário machado Jormungandr, era o encarnado da fúria do deus Gonthar em uma arma, e ela controlava seu usuário para leva-lo até a destruição de tudo. Foi assim que Minos, a mando de um furioso Atlas, entrou em guerra com dezenas de nações e ilhas, e foi assim que Timotio lutou e lutou sem parar, fazendo seu nome sem receber nenhum arranhão.

Foi então em um dia como qualquer outro, que o destino cobrou o preço por Timotio fechar seus olhos para os massacres que ele e seus companheiros minotauros fizeram. Na época do ataque, Atlas não usava mais a Jormungandr, mas mesmo assim isso não foi suficiente para convencer o passado a voltar. Um ataque de um dragão dourado chamado Veterion, filho de Salurion, destruiu metade de Minos e, no processo, obrigou Timotio a sair da ilha atrás do sucessor do trono e filho de Atlas, o atual rei de Minos Aristeu.

Porém o destino foi cruel com ele, assim como com todos os seus companheiros de batalha. Perdido em meio ao mar, Timotio atracou em Flávia e, igual a todos os forasteiros, foi preso e escravizado. O minotauro tentou fugir por quase um ano inteiro, mas mesmo sua força e resistência monstruosos não eram pareôs para as ervas enfraquecedoras e os inúmeros guardas de Flávia.

Foi então que um homem, o declarado diplomata de Flávia, chegou até a cela de Timotio. Aquele homem, Dominic Fardream, deu uma fagulha de esperança para que ele continuasse a crer que poderia sair de Flávia e voltar a sua terra. Suas palavras cravaram no fundo da alma de Timotio.

"Vença, Pele de Aço. Vença e alcance o topo. No futuro haverá um grande torneio, o maior dessas terras, lute lá e vença. Quando completar essa tarefa e ver o topo de Flávia como o mais forte, você estará livre."

E foi assim que Timotio alcançou o topo até se tornar o Executor de Flávia. Agora, naquele exato momento, ele luta contra os Conquistadores de Rubruv para alcançar sua tão amada terra de Minos. Porém, lutar contra outra calamidade o faz lembrar do que fez em prol de sua lealdade para Atlas.

O sangue em suas mãos, os inocentes que matou, as guerras sem sentido que travou. Foram 20 anos de lealdade cega para Atlas, até o rei próprio acordar de sua ira causada pela Jormungandr e ordenar que seus Pilares não entrassem mais em guerras, e que caso fosse tomado pela arma de novo, o matassem.

Hoje Timotio já sabe o que aconteceu com Minos. Ela foi salva das garras de quem a atacou e é liderada pelo filho de Atlas, Aristeu, que é um rei bem mais complacente e pacifico que seu pai um dia foi. Sua terra mudou, seu povo mudou, todos para melhor. Minos vivia uma era isenta dos traumas causados por ele e sua geração. Então Timotio, enquanto lutava com os Conquistadores de Rubruv, se perguntava, depois de todas as terríveis coisas que ele fez.

"Eu mereço voltar?"

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