Capítulo 105-"O silêncio dos mortos"

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Oito minutos.

Esse foi o tempo que Austin Sherwood lutou sozinho contra o Príncipe Demônio do Orgulho a 57 anos atrás. Apesar de lutar bravamente, as chances de Austin se acabaram após o ferimento em sua barriga se alastrar.

Ele respira pesadamente enquanto Lúcifer se mantinha de pé em sua frente, com toda a pompa e gloria. Com muito esforço, Austin já tinha conseguido arrancar um braço do demônio e quase cortar sua cabeça, mas ele se regenerava e partia para cima cada vez mais forte.

Seu Escudo da Alvorada se perdeu em meio aos destroços. Enquanto segurava Lúcifer, Austin olhava de relance para os dois que estavam presos.

"Olhe seu estado." Diz Lúcifer. "Como sou uma ótima pessoa, vou reconsiderar tudo o que fez até agora, contanto que se torne o meu servo. O que acha?"

"Nunca." Austin segura firme sua espada. "Eu nunca iria me juntar a você."

Austin olha de canto e vê os dois cidadãos finalmente saindo e ficando a uma distancia segura do centro de Hwen.

"Você falhou, demônio. Protegi a todos, assim como aqueles que virão depois de mim um dia farão contra você."

Dentre todos os momentos naquela luta, aquele foi o que mais irritou Lúcifer. Apenas ali ele percebeu que não só aquela dupla estava presa, como também alguns outros humanos, que agora estavam longe da luta. Lúcifer perdeu tanto tempo lutando com Austin que não conseguiu completar o ritual e adquirir toda a posse de seu corpo.

Mas isso não era problema, ele poderia ir atrás dos outros depois. Lúcifer começaria por aquele humano miserável em sua frente.

"Que seja, mortal."

Austin sente suas pernas fraquejarem. Ele sabe de seus limites, sabe que não pode mais lutar. Apesar disso ele sorri, protegeu a todos com toda a sua força. Uma grande bola de fogo ruma em sua direção.

"Desistindo tão cedo?"

Era a voz de Lapolas de Salogel, seu companheiro. Austin abre seus olhos e vê tanto ele quanto Gringo, Mímir e Talos, que tomou a bola de fogo, a sua frente.

"Então esse é o tal Príncipe Demônio?" Comenta Gringo. "Maneiro, vamos chutar a bunda dele então."

"Não poderia ter palavras melhores, tampinha." Mímir toca Austin e cura o ferimento em sua barriga. "Ainda consegue lutar?"

Austin é obrigado a sorrir.

"Hahaha, é claro. Obrigado pessoal."

"Agradeça depois de vencermos." Diz Talos. "Qual o plano?"

Austin olha para Lúcifer, que se mantém parado vendo aqueles mortais idiotas conversando.

"Acho que tenho uma ideia. Vamos mandar esse cara de volta pra onde ele nunca deveria ter saído."

"Eu posso resolver isso pra você." Responde Gringo, que olha para Mímir. "Infelizmente, vou precisar de sua ajuda pra completar o ritual."

"Pode deixar!" Mímir olha para Austin, Talos e Lapolas. "Vocês vão ser nossa vanguarda!"

Austin olha para Talos e Lapolas.

"Certo, não deixem que ele chegue perto dos dois!" Como um verdadeiro líder, Austin toma a frente e avança. "Vamos lá, para a vitória!"

Austin, Talos e Lapolas partem para o ataque enquanto Mímir e Gringo se ajudam para fazer a engenharia reversa da magia que conjurou Lúcifer. Após longos minutos, apenas com o apoio e a ajuda de todos os Antigos, Lúcifer foi selado e nunca mais voltou.

Até o Torneio da Conquista.

A cabeça de Lúcifer começa a se regenerar lentamente enquanto o demônio se endireita e olha para o homem morto a sua frente.

"O que foi? Achou que só cortando a minha cabeça você me mataria? Eu não sou tão mortal quanto vocês."

Linnor sente o frio da morte percorrer seu corpo enquanto o sangue escorre pelas suas vestes. Seu corpo chegou ao limite, ele não tinha mais nenhuma força restante.

"Linnor, não!!!!!!!" Mímir grita da sacada e se prepara para avançar, mas lembra de uma coisa.

Linnor fecha seus olhos, seus joelhos fraquejam e a morte o abraça de vez. A arena inteira se mantém em silencio enquanto a força do Campeão de Albalor se vai.

Por sorte ele tinha uma certa proteção contra a morte.

Linnor recobra sua consciência, sua força e sua determinação. Uma ultima vez, ele cruza seu olhar com o demônio.

"Cortando a cabeça? Não." Linnor se desvencilha das garras de Lúcifer e pula. "Eu vou te matar DESTRUINDO POR INTEIRO!"

A Lâmina da Ordem Absoluta brilha como nunca antes brilhou, iluminando até os cantos mais escuros de Flávia, e então desce cortando Lúcifer ao meio. Linnor só para quando o fio de sua espada toca no chão ardente dos Planos Rubros.

As garras de Lúcifer vão lentamente até Linnor, mas se dissipam antes que ele possa fazer algo.

"Seu... Maldito... Pedaço de merda!"

As duas metades do Príncipe do Orgulho caem e começam a virar poeira. Acompanhando o conjurador, toda a simulação dos Planos Rubros que tomavam a arena começam a virar pó.

"Parece que o vencedor entre o confronto de Linnor Sherwood e Naqri- Quer dizer, esse cara, é Linnor Sherwood!" Grita o Apresentador, que faz a plateia irradiar em felicidade.

Os gritos de Flávia tomam conta do coliseu inteiro em um festival de emoções.

"Eu sabia que ele conseguiria!" Mímir segura Otan pelo ombro e o sacode.

"Ufa... Ele venceu. Muito bem, Campeão de Albalor." Ulbrok suspira e se senta, cansado como se fosse ele quem lutou.

"Então, Lansios, seu plano não deu certo." Comenta Akash, debochadamente. "O que vai fa-"

"Calado." Lansios pega sua taça e bebe enquanto vê Linnor na arena.

Rhastiel suspira aliviado, mas se lembra de Naqrin no mesmo momento. Pelo menos a pressão mental que ele sentia se dissipa ao comando de Dominic.

"Desculpem por isso garotos." Dominic sai da sacada, mas olha uma ultima vez para Azon, Nym e Rhastiel. "Ah, e boa sorte."

Mavmarir bate palma e assobia em gloria a vitória épica de Linnor, então pega sua Batuta e escreve no ar, "vai velhote!", apesar de que ele possivelmente não vai ver.

Uma grande cortina de fumaça negra começa a tomar conta da arena, aparecendo enquanto os Planos Rubros se dissipam. Flávia inteira, inclusive Cícero e os Venationes, aplaudem e gritam o nome de Linnor, um verdadeiro herói que sozinho venceu um demônio do passado.

Entretanto, em toda a arena, o único que sentia um amargor na vitória era justamente o próprio Linnor Sherwood. Apesar de os gritos de Flávia tomarem toda a cidade de Dominicia, ele não conseguia ouvi-los.

Por dentro ele já sabia que isso aconteceria, mas uma fagulha de esperança ainda existia em seu peito. Algo que o fazia acreditar que, ao matar Lúcifer, Naqrin voltaria. Mesmo que não fosse isso, pelo menos ouvir um "obrigado" ou "até mais" seria algo, mas ao invés disso ele escuta algo que, infelizmente, já se acostumou a ouvir, mas sempre se sente mal ao ter esse sentimento.

O som que lembra de fracassos do seu passado, e de sua falha como herói. Mais doloroso que qualquer ferida que ele recebeu. Nenhum agradecimento, nenhum obrigado.

Apenas o silêncio dos mortos.

Old Dragon: Torneio da Conquista Onde histórias criam vida. Descubra agora