A chuva começa a se alastrar pela cordilheira. As três carroças estavam bem atrás dos cavalos que eram guiados pelos escravagistas, por isso Otan não conseguia ver o que estava acontecendo a frente. Eles estavam em um caminho estreito e bem alto, e as coisas começavam a ficar pior quando a chuva começava a aumentar.
A montanha é coberta de impactos estranhos. Leise, a mãe de Otan, percebe que tem algo de errado mais pra frente. Os escravagistas que ainda estavam próximos da caravana começaram a ir para frente e pouco a pouco a montanha ia cedendo. Nesse momento um pedregulho cai em cima da ultima carroça da caravana, matando todos lá dentro.
Graças a forte chuva e aos impactos da luta, alguns pedregulhos da montanha começavam a se desgastar e cair. Uma outra rocha cai em cima da segunda carroça, deixando apenas a que Leise e Otan estavam. O impacto faz algumas lascas voarem e caírem por ai, e num pensamento rápido Leise pega um deles e liberta seu filho das amarras e corta as cordas da cela.
Rapidamente ela avança para libertar os outros da carroça. Otan se aproxima para ajudar, mas ouve o barulho de algo acima de suas cabeças. Um grande pedregulho, o maior até agora, acabava de quebrar e caia na direção deles. Em um reflexo rápido, Leise empurra Otan para força da carroça.
O pequeno nefilin não conseguiu fazer nada. Os últimos momentos em que viu sua mãe ele estava sendo jogado para longe do impacto enquanto ela sorria em sua direção. O impacto é tanto que a pedra e a carroça, junto com todos dentro, caem diretamente em um bosque bem abaixo, no pé da montanha.
Otan, caído no chão, observa a cena em sua frente atônito. Como qualquer criança, ele começa a chorar e corre até a beirada para inutilmente salvar sua mãe, mas uma mão o segura.
"Seu pivete! O que pensa que tá fazendo?!"
"Me solta!" Otan grita e tenta se desvencilhar do homem.
Uma lâmina percorre pelo rosto do garoto, que leva um corte da esquerda de seu lábio até a testa. Ele cai no chão com o sangue em seu rosto e rapidamente e pego de refém, com a adaga do homem em seu pescoço.
"É isso! Hahaha! É isso!" O homem parecia desesperado. "Se eu usar o moleque de refém aquele cara não toca em mim!"
"Me solt-"
"Cala a boca seu pirralho!" Grita o escravagista. "Se você tentar fugir eu arranco seu pesco-"
Otan da uma cotovelada na barriga do homem e o chuta em reflexo, jogando-o pela ravina que anteriormente sua mãe e amigos também caíram. Em desespero, Otan corre, mas para ao sentir um forte vento em sua direção. Um pouco a frente dele, onde antes ele não podia ver da caravana, meia dúzia de homens eram jogados do penhasco por uma rajada de vento intensa.
Subitamente um homem aparece na frente de Otan. Ele era pequeno, sendo quase do tamanho do jovem, mas exalava uma aura acolhedora. Apesar de ter sido salvo, Otan não consegue ficar feliz. Ele se ajoelha e chora. Chora pelos amigos que viu morrendo, pelas famílias que foram massacradas, e o mais importante, por sua mãe que se sacrificou para que ele pudesse continuar vivo.
O anão o abraça.
"Bote tudo para fora, garoto. Daqui em diante tudo ficará melhor."
Otan chora tanto que acaba desmaiando nos braços do encapuzado. Algum tempo depois ele acorda em uma caverna, envolto de uma coberta de pelos e próximo a uma fogueira. A sua frente estava o homem que o salvou.
"Ah! Você acordou, que maravilha!" Ele percebe que errou um pouco o tom de falar com alguém no estado de Otan, se endireita novamente e refaz sua fala. "Olá, eu sou Mímir Martelongo. Fui eu que lutei com os sequestradores. Peço perdão por não ter salvo ninguém além de você."
Otan se levanta enquanto mantém o silencio. Ele não sabia quantos dias haviam se passado desde que tudo aquilo aconteceu, mas tinha algo importante a fazer. Mímir olha para o jovem mais uma vez.
"Você poderia me falar tudo que aconteceu até agora. Sei que deve ser ruim ter que lembrar dessas memórias, mas eu quero entender a situação que você está."
Otan se endireita. Qualquer tolo notaria que aquele homem, Mímir Martelongo, era uma boa pessoa. Sua alma parecia pura, sem nenhuma intenção de maldade, além disso ele salvou a vida de Otan. O nefilin estava disposto a confiar nele.
"Ah, sim, claro. Meu nome é Otan Veller..."
Após algumas horas, Otan e Mímir voltam as proximidades do incidente, mais especificamente no bosque onde a caravana de sua mãe tinha caído. Seguindo o pedido de Otan, Mímir enterrava os outros corpos enquanto o jovem nefilin enterrava sua mãe. Ele estava em uma cascata nas proximidades do bosque.
"Esse lugar é perfeito para o descanso eterno dela…"
Após enterrar o corpo, Otan se ajoelha perto da lápide.
"Mãe, não importa onde você esteja, continue olhando para mim. Eu vou me tornar um homem no qual você possa se orgulhar e eu prometo que eu não irei me juntar a senhora muito cedo, viverei a vida longa que eu sei que tu deseja para mim." Otan se levanta, mas continua olhando para o tumulo. "Eu também prometo tentar vir aqui a cada 2 anos se possível, então isso não é um adeus, é um até logo."
Com tudo terminado, Otan respira fundo. Mímir já estava a sua espera. O velho anão havia feito uma proposta para ele, no caso era ser seu discípulo, já que não havia mais outro lugar para ele ir. Otan não tinha respondido, mas depois de sua promessa, já sabia a resposta. Ele se vira para Mímir.
"Vamos?"
As memorias se dissipam, assim como as vozes que antes tomavam sua mente. Ele sabe que nada do que elas falavam era real. O clérigo olha para o anel em sua mão direita, o anel que sua mãe deu a ele quando era menor. Como ele havia falado, aquela luta não era só por ele, era por ela também.
"Rah! Esse truque de merda nunca funcionaria com o Otan! Ele é muito mais forte que qualquer um de nós!"
Lok'tar e Miyahara apenas observavam confusos, sem entender o que o capitão quis dizer com isso. Entretanto, ele estava certo. Os golpes de Mav são focados, em sua maioria, no dano mental, tentando até mesmo usar os traumas do inimigo contra ele. Quanto mais fraco mentalmente for o adversário, mais fácil será para o bardo controla-lo. Porém, talvez mais até que sua cura, a característica mais forte de Otan era sua mente.
Ele avança na direção do bardo mais uma vez. Em meio a sua corrida, Otan coloca a mão no seu peito e cura uma parte de seus ferimentos. Essa fração de segundos é essencial, pois é nesse momento que Mav deve decidir se vai cancelar ou não a magia.
O arsenal de cancelamentos do bardo é limitado, além disso ele poderia muito bem cancelar essa magia de cura para logo depois Otan usar uma mais forte, sem dar tempo para ser cancelada novamente. Era uma batalha entre a mente dos dois conjuradores, onde quem cedesse primeiro perdia.
Mavmarir decide não cancelar a cura de Otan, que apenas se recupera de uma parcela ínfima das lesões mentais. Seu verdadeiro segredo vinha agora. A alabarda espiritual de Otan cruza o campo de batalha junto com ele e corta de relance o bardo, que desvia a tempo mas faz exatamente o que o clérigo queria.
Sem tempo para desviar uma segunda vez, Otan conjura a ultima magia em sua Vontade da Natureza, acertando em uma grande explosão verde escura no peito de Mav. O bardo é arremessado para longe enquanto seu peito dilacera em uma poça de sangue graças a energia necromante no golpe de Otan.
Rapidamente o bardo se recompõe do golpe, segura sua Batuta e se endireita para continuar a lutar. Como ele já previa, essa batalha será decidida por duas coisas: a resiliência mental de Otan, e a capacidade destrutiva de suas magias. Quem se esgotasse primeiro perdia.
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Old Dragon: Torneio da Conquista
AcciónO Imperador atual de Flavia é Cícero Venatios, um descendente direto do Enviado das Divindades. Mais uma vez uma ameaça aos deuses se instaura e mais uma vez eles agem, dessa vez por meio de Cícero, que em seu sonho teve o chamado dos cinco deuses a...